«Tens que viver gradualmente o teu sofrimento retirando-lhe assim o poder que detém sobre ti. Sim, é preciso penetrares no teu sofrimento, mas só quando já te tiveres fortalecido um pouco. Quando entras simplesmente no teu sofrimento, apenas para sentir a sua aridez, ele pode afastar-te do caminho que pretendes trilhar.
O que é o teu sofrimento? É a experiência de não receberes o que mais precisas. É um local de vacuidade, onde a ausência do amor que tanto desejas se torna mais pungente. É difícil regressar a esse lugar, por que aí te confrontas com as tuas feridas, bem como com a incapacidade de te curares a ti mesmo. Tens tanto medo desse lugar que o encaras como um sítio mortal. O teu instinto de sobrevivência faz-te fugir dali e procurar qualquer outro sítio onde te sintas acolhido, embora lá no fundo saibas perfeitamente que esse lugar não existe.
Tens que começar a acreditar que a tua experiência de vacuidade não é a experiência final, que para além dela se encontra um ponto onde o amor te acolhe. Enquanto não confiares nesse ponto para além da tua vacuidade, não conseguirás regressar facilmente ao local do sofrimento.
Assim, é preciso que, quando vais ao teu local de sofrimento, o faças convicto de que já encontraste aquele novo lugar. Já provaste alguns dos seus frutos. Quanto mais raízes lançares na nova terra, tanto mais fácil te será fazer o luto pelo lugar antigo e libertares-te do sofrimento que lá permanece. Não podes fazer o luto por alguma coisa que ainda não morreu. No entanto, os velhos sofrimentos, vínculos e desejos que outrora tanto significaram para ti devem ser enterrados.
Deves chorar os teus sofrimentos perdidos para que eles te possam abandonar gradualmente e fiques liberto para viver inteiramente no novo local sem melancolia ou saudade.»
Henri Nouwen, em "A voz Íntima do Amor"
Sem comentários:
Enviar um comentário