terça-feira, 29 de setembro de 2009

A UNIÃO COM CRISTO

"Não nos servirá de nada fazer do Evangelho uma moral - porque não a poderemos praticar - se não fazemos dele ao mesmo tempo uma mística que consiste na nossa união com Cristo, na nossa inserção na sua pessoa.

Infelizmente muitos dos que se dizem cristãos não chegam a fazer isto e vivem obcecados pelos mandamentos, dos quais defendem ferozmente os princípios sem chegar a praticá-los, não tendo a menor experiência do que é a oração, o olhar de Cristo sobre eles, a familiaridade com Ele, o abandono à sua misericórdia."

(A.M. Besnard)

domingo, 27 de setembro de 2009

VIDA DE AMOR

«Toda a vida cristã consiste na procura da vontade de Deus com uma fé amorosa e no cumprimento dessa vontade abençoada, através de um amor fiel. (...)

Quando perdemos de vista o elemento central da santidade cristã, que é o amor, e quando esquecemos que o caminho para cumprir o mandamento cristão do amor não é algo de remoto e esotérico, mas sim algo que está imediatamente diante de nós, então a vida cristã torna-se complicada e muito confusa. Perde a simplicidade e a unidade que Cristo lhe deu no seu evangelho, e torna-se um labirinto de preceitos sem conexão, conselhos, princípios ascéticos, casos morais e até detalhes técnicos legais e rituais. Estas coisas tornam-se dificeis de entender, na medida em que perdem a sua conexão com a caridade que as une e lhes dá uma orientação para Cristo.»

Thomas Merton, em "Vida e Santidade"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

AS MINHAS TREVAS

«Jesus Cristo, luz do meu coração, não permitas que as minhas trevas falem comigo.»

Ao escrever esta oração, Santo Agostinho teve a seguinte intuição: quando as nossas próprias trevas atraem a nossa atenção, logo surge uma contenda interior com aquilo que nos faz mal, em nós mesmos. Aonde é que isso poderá conduzir? A lado nenhum.»

Irmão Roger, de Taizé, em "Em tudo a paz do coração"

terça-feira, 22 de setembro de 2009

LEMBRAR-SE DE DEUS

"É preciso lembrar-se de Deus em todo tempo, em todo lugar e em todas as coisas. Se fabricas alguma coisa, deves pensar no Criador de tudo o que existe; se vês a luz do dia, lembra-te Daquele que criou a luz para ti; se olhas o céu, a terra e o mar e tudo o que eles contêm, admira, glorifica Aquele que tudo criou; se te vestes com uma roupa, pensa Naquele de quem a recebeste e lhe agradece, a Ele que provê a tua existência. Em resumo, que todo movimento seja para ti um motivo para celebrar o Senhor: assim rezarás sem cessar e tua alma estará sempre alegre".

Excerto do livro "Relatos de um Peregrino Russo"

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O PESO DO JULGAMENTO


Henri Nouwen (24 de Janeiro de 1932 - 21 de Setembro de1996)
Passam hoje 13 anos sobre a morte de Henri Nouwen.

Convido-vos a ler a homenagem que lhe prestei há precisamente um ano: http://seguirjesus.blogspot.com/2008/09/henri-nouwen.html


«Imaginemos que não temos nenhuma necessidade de julgar ninguém. Imaginemos que não temos nenhuma vontade de decidir se alguém é boa ou má pessoa. Imaginemos que somos completamente livres de sentir e ajuizar sobre o tipo de comportamento, seja de quem for. Imaginemos-nos com a capacidade para dizer: «Não vou julgar ninguém!»

Imaginemos - não seria isto uma autêntica liberdade interior? Os Padres do deserto do século IV diziam: «Julgar os outros é um fardo pesado.» Eu tive alguns momentos na vida em que me senti livre da necessidade de fazer qualquer juízo de valor acerca dos outros. Senti que me tinha sido tirado um peso dos ombros. Nesses momentos, experimentei um amor imenso por todos os que encontrei, por todos aqueles de quem ouvi algumas coisas e, sobretudo, por aqueles dos quais li algumas coisas. Uma solidariedade profunda com todos os povos e um profundo desejo de os amar desceram as paredes do meu íntimo e tornaram o meu coração grande como o universo.

Um desses momentos ocorreu depois duma passagem de sete meses por um mosteiro de Trapistas. Vivia tão inundado da bondade de Deus que via essa bondade onde quer que fosse, mesmo atrás das fachadas de violência, destruição e crime. Tive que me coibir de abraçar as mulheres e homens que me venderam géneros alimentícios, flores e um fato novo. É que todos me pareciam santos!

Todos podemos desfrutar destes momentos se estivermos atentos ao movimento do Espírito de Deus dentro de nós. São como amostras do céu, de beleza e de paz. É fácil descartar estes momentos como produto dos nosso sonhos ou da nossa imaginação poética. Mas, quando optamos por pedi-los como uma forma de Deus nos dar umas pancadinhas no ombro e de nos mostrar a verdade mais profunda da existência, gradualmente somos capazes de ultrapassar a necessidade de julgar os outros e a inclinação para ajuizar acerca de tudo e de todos. Então poderemos crescer rumo a uma verdadeira liberdade interior e a uma verdadeira santidade.

Mas, só poderemos pôr de lado o fardo pesado de julgar os outros quando não nos importamos de suportar o ligeiro peso de ser julgados!»

Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O INFERNO

«O inferno é a solidão onde o amor já não pode entrar. (...)» (François Varillon)

Deus ama incondicionalmente a todos nós, sem exclusão. Ele quer a salvação de todos, sem excepção.

François Varillon escreveu: «Eu rezo por todos os homens sem excepção, incluindo Judas e todos os que foram monstruosos neste mundo... porque, de facto, eu espero a sua salvação. Se a não esperasse, não rezaria... Mas esta fé e esta esperança implicam precisamente que o amor com que os homens são amados seja um amor tomado a sério. Que é um amor a sério? É um amor que não anula a liberdade humana, mas fundamenta-a. O amor não seria amor se manipulasse a liberdade com o fim de obter a todo o custo a reciprocidade. (...)

O amor já não é amor se disser: vou obrigar-te, finalmente, a que me ames. Não se pode obrigar ninguém a amar. Constrangir a amar não é amar.

Num livro admirável, Jean Lacroix escreveu uma frase que é talvez uma das mais profundas que se escreveram nestes últimos anos:
«Amar é prometer e comprometer-se a nunca empregar, em relação ao ser amado, os meios do poder. Recusar qualquer poder é expor-se à recusa, à incompreensão, à infidelidade».

Em Deus, o amor não é senão amor, portanto, um amor que se proíbe absolutamente de fazer uso do poder. O seu amor é verdadeiramente oferecido, e isso implica que se torne um amor acolhido. Quem poderá garantir que o amor realmente dado, ou oferecido, nunca será um amor livremente recusado? Se se pretender que uma tal garantia existe, deixa de haver amor. Porque não se pode encontrar essa garantia senão no uso do poder. A única garantia possível seria que Deus nos obrigasse a amá-l`O!

Na verdade, a recusa do amor é qualquer coisa particularmente assustadora. Está no limite do pensável. Ou, se preferirem, não se pode pensar senão como limite. Pelo contrário, o que está para além do que se pode pensar, para além de todo o limite, é que Deus possa deixar de amar. Não há mal-amados de Deus. Mas a liberdade do homem - que constitui a sua grandeza - é tal que o amor incondicionalmente oferecido pode ver-se incondicionalmente recusado. (...)

Quando se acredita verdadeiramente na grandeza do homem, acredita-se também que a eventualidade da condenação está inscrita, como recusa incondicional do amor, na própria estrutura da sua liberdade.

Sempre que o Evangelho parece dizer que Deus toma por sua conta a condenação dos homens,, que é Ele quem pronuncia a sentença de condenação (Mt 13, 41; 25, 41), quer dizer que Deus mesmo nada pode, senão sofrer perante uma liberdade que se fecha ao amor.

O castigo não procede de Deus, vem do interior, como aquele que fecha as persianas e nesse mesmo instante fica privado da luz do sol. Isto significa ainda que o acto criador, que é eterno, não pode deixar de incluir esta eventualidade; é o grande risco do acto criador.»

François Varillon, em "Alegria de crer e viver"

domingo, 13 de setembro de 2009

ENSINA-ME

Ensina-me a empreender um novo início,
a destruir os esquemas de ontem,
a deixar de dizer «não posso» quando posso,
«não sou» quando sou,
«estou bloqueado» quando estou totalmente livre.

Rabbi Nachman Di Braslav

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ABRIR-SE A DEUS

Quando somos capazes de exprimir a Deus
tudo o que sobrecarrega a nossa vida
e mantém em nós a angústia de um julgamento,
as nossas regiões obscuras começam a clarear.
Saber-se escutado, compreendido, perdoado por Deus,
é uma das fontes da paz...
que traz consigo mesma a cura do coração.
Irmão Roger de Taizé, em "Em tudo a paz do coração"

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A VONTADE DE DEUS

A vontade de Deus para mim é aquilo que eu, no fundo mais fundo, quero.
Mas só o sei através de uma relação de amizade que me vai tirando as defesas,
os múltiplos apeteceres, tantas cascas que não me deixam ver quem sou.
Deus quer que eu seja verdadeiramente eu! Deus quer a minha felicidade!
(Vasco Pinto de Magalhães, em "Onde há crise, há esperança")

domingo, 6 de setembro de 2009

AMAS-ME?

A afirmação simples «Deus é Amor» tem implicações de longo alcance a partir do momento em que começarmos a viver a nossa vida baseados nessa afirmação. Se Deus, que me criou, é amor e só amor, sou amado mesmo antes que qualquer ser humano me ame.

Quando era criança, perguntava constantemente ao meu pai e à minha mãe: «Gostas de mim?» Fazia esta pergunta tão frequente e persistentemente que se tornou uma fonte de irritação para os meus pais. Embora me garantissem centenas de vezes que me amavam, eu nunca parecia completamente satisfeito com as suas respostas e continuava a fazer-lhes a mesma pergunta. Agora, muitos anos depois, compreendo que pretendia uma resposta que eles não me podiam dar. Eu queria que eles me amassem com um amor eterno. E sei que o caso era esse, porque a minha pergunta «Gostas de mim?» era sempre acompanhada duma outra pergunta. «E tenho que morrer?» De alguma forma, já devia saber na altura que, se os meus pais me amassem com um amor total, ilimitado e incondicional, nunca morreria. Por isso mesmo, continuava a importuná-los com a estranha esperança de eu constituir uma excepção à regra que diz que toda a gente há-de morrer um dia.

Muita da nossa energia está resumida na pergunta: «Amas-me?,... Gostas de mim?» À medida que envelhecemos, vamos desenvolvendo muitas maneiras mais subtis e sofisticadas de fazer esta pergunta. Dizemos: «Confias em mim, preocupas-te comigo, aprecias-me, és-me fiel, apoias-me, dirás bem de mim?»... e assim por diante. Muita da nossa dor vem da nossa experiência de não ter sido bem amados.

O grande desafio espiritual é descobrir, com o passar do tempo, que o amor limitado, condicional e temporal que recebemos dos pais, cônjuges, filhos, professores, colegas e amigos, é um reflexo do amor ilimitado, incondicional e eterno de Deus.

Se conseguirmos dar esse grande salto de fé, então chegaremos a compreender que a morte já não é o fim mas a entrada para a plenitude do Amor Divino.»

Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

EXISTE UM MISTÉRIO...

"Existe um mistério dentro do homem, que, por um lado, deseja e tem uma imensa saudade de Deus e do amor, e é isso que no fundo nos define, nós somos esse desejo de infinito. Mas, por outro lado, o envolvimento imediato, a pressa, a ansiedade, o pecado, todas estas coisas desordenadas dentro de nós próprios, parece que afogam a nossa identidade mais essencial."

Vasco Pinto de Magalhães, em "Onde há crise, há esperança"

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O "DEUS" FEITO DE PALAVRAS E SENTIMENTOS

«Temos uma máscara externa, superficial, que juntamos às palavras e às acções que não representam plenamente tudo o que há em nós; assim também, até as pessoas de fé tratam com um Deus feito de palavras, sentimentos e slogans reconfortantes, menos o Deus da fé do que o produto de rotinas sociais e religiosas. Esse "Deus" pode tornar-se um substituto da verdade do Deus invisível da fé, e, embora essa imagem reconfortante possa parecer-nos real, ela é realmente uma espécie de ídolo. Sua função principal é proteger-nos contra um encontro profundo com nosso verdadeiro eu interior e com o verdadeiro Deus.»

Thomas Merton

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...