domingo, 30 de maio de 2010

AQUELES QUE ME AMAM

Aqueles que me amam neste
mundo procuram a todo custo manter-me
preso. Mas o teu amor, muito maior que o
deles, é diferente, pois Tu me conservas livre.

Eles temem que eu os esqueça, e por
isso nunca me deixam sozinho. No entanto,
passam-se dias e dias, e Tu não apareces.

Mesmo que eu não te invoque em
minhas orações, e mesmo que eu não te
conserve em meu coração, o teu amor por
mim sempre fica esperando o meu amor.

Rabindranath Tagore

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ACREDITAS QUE DEUS TE AMA?

«O que a nossa religião tem de único no mundo é que ela nos convida a acreditar que foi Deus Quem nos amou primeiro.

Não se trata simplesmente de admitir que Deus ama a humanidade.
Trata-se, isso sim, de acreditar que este amor é verdadeiro e, portanto, concreto, orientado pessoalmente para cada um de nós. (...)
A fé no amor de Deus consiste em crer que Ele Se interessa apaixonadamente por cada um de nós, pessoalmente. E constantemente.(...)

Quando eu chegar a acreditar que Ele até a mim ama - a mim, este ser insuportável, cujo peso só eu avalio - conhecerei a medida do Seu amor inverosímil.

Os santos são aqueles que poderão exclamar: «Eu conheci o amor que Deus tinha por mim e acreditei nele».
No Julgamento, isto em primeiro lugar nos será perguntado:

Acreditaste que Deus te amava, a ti?
Acreditaste que Deus esperou por ti, te conheceu, te desejou, a ti, dia após dia?»

Louis Evely, em "Tu és esse homem"

terça-feira, 25 de maio de 2010

SER

«As pessoas não necessitam de reflectir tanto sobre o que deveriam fazer; elas deveriam, pelo contrário, reflectir sobre aquilo que elas são.
Ora, se as pessoas e os seus modos fossem bons, então as suas obras poderiam refulgir limpidamente.
Se tu fores justo, então as tuas obras também serão justas.
Não se pode pensar a santidade com fundamento numa acção; deve-se, pelo contrário, fundamentar a santidade em um ser, pois as obras não nos santificam, senão que nós devemos santificar as obras. (...)

O fundamento para que a essência e o fundamento do ser do homem, de onde as obras humanas recebem a sua benignidade, seja inteiramente bom, é o seguinte: que o carácter do homem esteja totalmente virado para Deus.
Coloca todos os teus esforços em que Deus seja grandioso para ti e que toda a tua ambição e devoção se dirijam para Ele em todo o teu actuar. Em verdade, quanto mais assim fizeres, tanto melhores serão as tuas obras, não importa de que género elas sejam.

Mestre Eckhart, em "Tratados e Sermões"

domingo, 23 de maio de 2010

AS LÁGRIMAS E O RISO

«O cristão crê no amor de Deus. Um amor que a confissão das suas tristes cobardias ou mesmo dos seus pecados graves não consegue repelir, desencorajar e abandonar. Para ele, não é possível o desprezo de si e o abatimento que ele provoca. O olhar divino reergue-o, como ao rapaz ressuscitado por Cristo.

Cristo não veio julgar e condenar. Veio salvar e resgatar. E a redenção é, em primero lugar, a Revelação, a revelação do inimaginável, do «indesanimável», do indestrutível amor do Pai.
Amor do Pai traduzido pelos olhares de Cristo, tantas vezes evocados no Evangelho: «Ele olhou para ele e amou-o». O olhar de Cristo não é anónimo, impessoal - atinge o eu profundo de cada ser. Salva-se quem, ao encontrar esse olhar, reconhecer o seu pecado e o reprovar.

O amor divino que, então, descobre e a que se entrega reconcilia-o consigo próprio, podendo finalmente amar-se com o amor de si sem o qual não pode viver; nele desperta e surge «o homem novo», na alegria da manhã de Páscoa. E fundem-se as lágrimas e o sorriso.»

Henri Caffarel, em "Nas encruzilhadas do amor"

quinta-feira, 20 de maio de 2010

OLHAR EM VOLTA

As palavras de Jesus: «Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo» (Mt 6, 33) são o que melhor sintetiza a maneira como somos chamados a viver a vida; com o coração fixo no reino de Deus.

Esse reino não é nenhuma terra longínqua que um dia esperamos alcançar, nem é a vida depois da morte ou um estado ideal. Não. O reino de Deus é, antes de mais, uma presença activa do espírito de Deus no nosso íntimo que nos oferece a liberdade por que realmente anelamos.
E, por isso, a principal questão é a seguinte: Como centrar, acima de tudo, o nosso coração no reino, se ele está preocupado com tantas coisas?
De alguma forma, é necessária uma mudança de coração, uma mudança que nos possibilite a experiência da realidade, da nossa existência do ponto de vista de Deus.

Uma vez, assisti a uma mímica em que um homem se esforçava por abrir uma das três portas dum quarto em que se encontrava. Ele empurrava e puxava as maçanetas das portas, mas nenhuma das portas se abria. Então deu um pontapé no painel de madeira da porta, mas a madeira não cedeu. Finalmente, deixou-se cair com todo o seu peso contra as portas, mas nenhuma delas cedeu.
Era uma visão ridícula, mas muito hilariante, porque o homem estava tão concentrado nas três portas fechadas que nem sequer reparou que o quarto não tinha parede e que podia perfeitamente sair, bastando para isso olhar à sua volta.

A conversão é isto mesmo. É uma volta completa que nos permite descobrir que não somos prisioneiros como julgamos ser.
Do ponto de vista de Deus, frequentemente parecemo-nos com o homem que procura abrir as portas fechadas do seu quarto. Preocupamo-nos com muita coisa e chegamos mesmo a causar mágoa a nós próprios por nos preocuparmos tanto.
Deus diz: «Dá uma volta, centra teu coração no meu reino. Eu dou-te toda a liberdade que quiseres.»
Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

terça-feira, 18 de maio de 2010

NÃO-É-BASTANTE

No romance de N. Kazantzaki, Última Tentação de Cristo (depois adaptado ao cinema por Martin Scorcese), um personagem dirige-se a Deus e pergunta-lhe qual o seu verdadeiro nome. E uma voz responde: - O meu nome é «Não-é-bastante». É o nome que eu grito em silêncio a todos aqueles que se atrevem a amar-me.

Não-é-bastante... Talvez seja este o nome de todo o verdadeiro amor.
Nunca se ama o suficiente. O amor é uma estrada que continua sempre para além do horizonte.
No horizonte visual duma grande planície pomo-nos a andar em direcção ao horizonte. Mas quando chegamos onde antes nos parecia ser o fim do horizonte, o fim deslocou-se para além do horizonte...
S. João da Cruz dizia que «o amor é fogo que arde com apetite de arder mais. Sempre mais!»
E a tal voz:
«O meu nome é "Não-é-bastante".
É o nome que eu grito em silêncio a todos aqueles que se atrevem a amar-me.»

Henrique Manuel, em "Mas Há Sinais..."

domingo, 16 de maio de 2010

OS GESTOS SIMPLES DO AMOR LOUCO

«É sempre possível a um homem aderir ao campo das mulheres, ao riso do Deus.
Basta um movimento, um único movimento semelhante aos que têm as crianças quando se lançam em frente com todas as suas forças, sem receio de cair ou morrer, olvidando o peso do mundo. Um homem que assim sai de si mesmo, do seu medo, desleixando esse peso de seriedade que é peso do passado, um tal homem torna-se como alguém que já não aguenta no lugar, que já não acredita nas fatalidades ditadas pelo sexo, nas hierarquias impostas pela lei ou o costume: um menino ou um santo, na proximidade risonha do Deus - e das mulheres...
Ninguém mais do que Cristo voltou o seu rosto para as mulheres, como voltamos o olhar para uma folhagem, como nos debruçamos sobre uma água de riacho para aí colher força e gosto por continuar o caminho.
As mulheres são na Bíblia quase tão numerosas como as aves. Estão lá no início e estão lá no fim. Elas dão Deus à luz, vêem-no crescer, brincar e morrer, depois ressuscitam-no com os gestos simples do amor louco, os mesmos gestos desde o começo do mundo, nas cavernas da pré-história e bem assim nos quartos sobreaquecidos das maternidades.»

Christian Bobin, em "Um Deus à Flor da Terra"

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DEVEDOR DE AMOR

"Estamos sempre em dívida perante os outros.
S. Paulo disse esta coisa espantosa: «Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser o amor que devemos uns aos outros.»
Nunca deixo de ser devedor de amor!
Nunca posso dizer que trato alguém bem de mais.
E, pela nossa limitação e egoísmo, ficamos sempre aquém daquilo que devíamos dar."

Vasco Pinto de Magalhães, s.j. in "Não há soluções, há caminhos"

terça-feira, 11 de maio de 2010

O MAL VEM PREENCHER UM VAZIO

«Observei muitas vezes que as pessoas mais críticas são aquelas que têm em si um grande vazio espiritual. Chego a perguntar-me se determinadas pessoas não sentem necessidade de fabricar inimigos para poderem exisitir, precisamente por ser enorme o seu vazio interior...

Se o mal penetra o nosso coração, é porque aí encontra um lugar onde se instalar, uma certa cumplicidade.
Se o sofrimento nos faz azedos e maus, é por termos o coração vazio: vazio de fé, de esperança e de amor.
Pelo contrário, se nele houver uma total confiança em Deus, se esperar tudo da Sua bondade e fidelidade, se a finalidade da nossa vida não for a procura de nós mesmos, mas fazer a vontade de Deus, amá-l`O de todo o coração e amar o próximo como a nós mesmos, então o mal não pode penetrar nele de maneira nenhuma.

Se nos enraizarmos em Deus pela fé e pela oração, se deixarmos de censurar aqueles que nos rodeiam por tudo o que não corre bem na nossa vida e de nos considerar vítimas dos outros ou das circunstâncias, se assumirmos decididamente as nossas próprias responsabilidades e aceitarmos a nossa vida como é, se lançarmos mão, constantemente, das nossas capacidades de crer, esperar e amar, se estivermos resolvidos a conquistar a liberdade de que temos falado (liberdade interior), ela ser-nos-á progressivamente concedida.»

Jacques Philippe, em "A Liberdade Interior"

A HUMILDADE DE DEUS

Ouvi contar esta história. Uma criança com toda a naturalidade, voltou-se para Deus e perguntou-lhe: "E tu, o que é que queres ser quando fores grande?" "Pequeno", respondeu-lhe Deus, também com toda a naturalidade.

Os homens querem ser grandes, mas a grandeza de Deus está em tornar-se pequeno, em dar a vida, em desaparecer pelo bem do outro.

Vasco Pinto de Magalhães, s.j. in "Não há soluções, há caminhos"

domingo, 9 de maio de 2010

DEUS



Quando, bastante imprudentemente, falo de Deus, falo apenas deste lado da vida em que estou, e mais precisamente de uma parte desta vida, que está abandonada e se assemelha a uma arrecadação de ferramentas ao fundo de um jardim...
Embora não saiba nada dele, é-me impossível fazer como se não tivesse nada a ver com os nossos dias mais banais. Esses dias são livros e esses livros são escritos por Ele.
Rosto, dor e bondade são as páginas mais ricamente iluminadas, tal como roseira, pardal e primavera.
Não sei o que mais impede os homens de ler: se a avidez, se a falta de atenção.
A avidez nasce da sua falta de atenção. Quando olhamos apressadamente para uma coisa bela - e todas as coisas vivas são belas porque trazem em si o segredo do seu próximo desaparecimento - apetece-nos guardá-la para nós.

Quando a contemplamos com o vagar que merece, que requer e que, por um instante, a protege do seu fim, então ilumina-se e já não temos vontade de a possuir: a gratidão é o único sentimento que responde a essa luz que entra em nós...
Contemplar sem possuir e mesmo sem compreender. Os pardais desafiam-nos a isso com os seus cantos.
Há sob a minha janela, nos inúmeros braços da tília, uma multidão de Bach e de Schubert cujas obras não escritas me instruem sobre o que Deus é do lado da vida em que eu estou.
Para conhecer o outro lado, terei um dia de afastar a cortina do meu sangue que me impede de ver.»

Christian Bobin, em "Ressuscitar"

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A BONDADE

«A bondade é um caminho extremamente severo e, porque é severa, tem necessidade de ser discreta. E de ser forte, porque a bondade, tal como o amor, exige força,a grande, a imensa força do Espírito.»

Susanna Tamaro, em "Querida Mathilda"

terça-feira, 4 de maio de 2010

A PALAVRA


«Como a flor exala o seu perfume e o sol espalha o calor dos seus raios, assim nós temos necessidade de irradiar pelo gesto e, sobretudo, por esse dom maravilhoso que é a palavra.
A palavra só tem sentido na medida em que sai da boca de um homem para entrar no coração de outro e ali fazer brotar a vida.»
Jean Vanier, em "Novas perspectivas do amor"

domingo, 2 de maio de 2010

DEUS EM NÓS

"Tudo o que sei do céu me vem do espanto que experimento perante a bondade inexplicável desta ou daquela pessoa, à luz de uma palavra ou de um gesto tão puros que me revelam bruscamente que nada no mundo poderia ser a sua origem. (...)

Há almas nas quais Deus vive sem que elas disso se apercebam. Nada deixa supor essa presença sobrenatural, senão a grande naturalidade que inspira aos gestos e às palavras daqueles em que habita."

Christian Bobin, em "Ressuscitar"

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...