quinta-feira, 30 de abril de 2009

A VERDADEIRA REDENÇÃO

«Neste mundo, a redenção não existe como um passado consumado, não existe como um presente concluído e definitivo; a redenção só existe como esperança. Neste mundo, a luz de Deus só brilha nas luzes da esperança que a sua bondade espalhou pelo nosso caminho.

Quantas vezes isso nos aflige: nós queremos mais, nós queremos o presente total, completo, indisputável. Mas, no fundo, somos forçados a concordar: poderia existir uma forma mais humana de redenção do que aquela que nos diz, a nós, seres do tornar-se e do estar a caminho, que podemos ter esperança? Poderia exisitir melhor luz para nós, seres em peregrinação, do que aquela que nos torna livres para seguirmos em frente sem medo, porque sabemos que no fim do caminho está a luz do amor eterno? (...)

Porque, se depender de nós, da patética chama da nossa boa vontade e da pobreza das nossas acções, não somos capazes de conseguir a redenção. Elas não são suficientes, por mais capazes que sejamos. A redenção continua a ser-nos impossível. Mas, em toda a sua misericórdia, Deus fez com que o que era impossível se tornasse possível. Tudo o que temos de fazer é dizer sim, com toda a nossa humildade.»

Joseph Ratzinger, em "Do sentido de ser cristão"

terça-feira, 28 de abril de 2009

Tornar-se Cristão

«Tornar-se cristão não é garantia de um prémio individual; não é a reserva privada de um bilhete de entrada no Céu, que nos permite olhar de cima para os outros e afirmar: «Tenho o que os outros não têm». Tornarmo-nos cristãos não é algo que nos seja dado, para que nós, individualmente, o introduzamos num qualquer sistema e nos distanciemos dos outros, a quem isso não foi dado. Não: de certa forma, uma pessoa não se torna cristã para si própria, mas para o todo, para os outros, para todos. (...)

Tem de nos ser suficiente saber, na fé, que nós, ao nos tornarmos cristãos, nos colocamos à disposição para a prestação de um serviço para o todo. Desta forma, tornarmo-nos cristãos não é sinónimo de agarrar qualquer coisa só para nós; pelo contrário, significa deixar de lado o egoísmo, que só se conhece a si próprio e que só pensa em si próprio, e assumir a nova forma de existência daqueles que vivem uns para os outros. (...)

Ser cristão é essencialmente, e em primeira linha, a libertação do egoísmo daquele que vive só para si e o mergulho na grande orientação básica do estar à disposição dos outros. (...)

No fim, o movimento essencial da cristandade não é mais do que o movimento essencial do amor, no qual participamos no amor criador do próprio Deus.»

(Joseph Ratzinger, em "Do sentido de ser cristão")

domingo, 26 de abril de 2009

REVOLUÇÃO COPERNICIANA

«Amar como um cristão significa tentar seguir este caminho: que não amamos apenas aquele que nos é simpático, que nos agrada, com quem temos afinidades, e não apenas aquele que tem algo para nos oferecer ou do qual esperamos poder vir a obter benefícios.
Amar de forma cristã, ou seja, amar como Cristo nos explicou o amor, significa sermos bondosos para aquele que precisa da nossa bondade, mesmo que não simpatizemos com ele. Significa aventurarmo-nos pelo caminho de Jesus Cristo e, desse modo, fazer uma revolução coperniciana, por assim dizer, na nossa vida.

A verdade é que, de certa forma, ainda vivemos todos antes de Copérnico. Não só porque, regendo-nos pelas aparências, pensamos que o Sol nasce e se põe, e roda em torno da Terra, mas também porque existe um sentido mais profundo. Porque todos nós acalentamos aquela ilusão natural que nos leva, a cada um, a colocar o nosso Eu no centro de tudo, em torno do qual o mundo e os homens têm de girar. Todos nós temos de redescobrir constantemente que só construímos e vemos as outras coisas e as outras pessoas em relação ao nosso próprio Eu, e que, ao mesmo tempo, as consideramos satélites que giram em torno do centro do nosso Eu.

À luz do que já foi dito, tornar-se cristão é pois algo de muito simples e, no entanto, de muito cataclísmico. É precisamente isso, fazermos uma revolução coperniciana na nossa vida e deixarmos de nos encarar como o centro do Universo, em torno do qual os outros têm de girar, porque, em vez disso, começámos a aceitar verdadeiramente que somos uma das muitas criaturas de Deus que, em conjunto, giram em torno do centro que é Deus.»

Joseph Ratzinger,em "Do sentido de ser cristão"

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre a Oração (Charles de Foucauld)


"A oração mais perfeita é aquela em que houver mais amor. Neste segundo sentido mais amplo, pode-se definir a oração como «a postura da alma que se põe aos pés de Deus para em silêncio olhar para ele ou o fitar enquanto fala com ele». Tal oração será tanto melhor qaunto mais amoroso for o olhar da alma, quanto mais ternura e paixão ela sentir diante do seu Deus. (...)

Por mais diferentes que sejam as maneiras de orar, em silêncio, em rezas ou em cânticos, profundamente reflectidas ou quase sem intervenção do pensamento, o que lhes confere valor é o amor com que se fazem. A todas elas sem excepção se aplica o princípio eternamente verdadeiro, que a melhor oração é aquela em que há mais amor, e que a oração será tanto melhor quanto mais amorosa for. (...)

Orar, como vedes, é sobretudo pensar em mim com amor. Quanto mais alguém me ama, tanto melhor ora. Orar é ter a atenção amorosamente fixa em mim,e quanto mais amorosa for a atenção, melhor será a oração." -
(Charles de Foucauld, em "Gritar o Evangelho")

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre a Oração (Irmão Roger, de Taizé)


"Na oração, quando a linguagem humana tem dificuldades em expressar o que vai nas profundezas de nós mesmos, não nos inquietemos. Numa oração, feita apenas de silêncio, descansamos em Deus, de corpo, de alma e de espírito.

Quando estamos a rezar, que fazer com as distracções? Não nos preocupemos com elas. Deus conhece o nosso anseio. E, melhor do que nós, Ele percebe a intenção e o íntimo do nosso ser."

Na oração, deparamos muitas vezes com reflexões e imagens a entrecruzarem-se no nosso espírito. Quando damos connosco a dizer: «Extraviam-se-me os pensamentos, o meu coração está dividido», o Evangelho responde-nos: «Deus é maior do que o nosso coração». (Ver 1 João 3, 20)

Irmão Roger de Taizé, em "Em tudo a paz do coração"

domingo, 19 de abril de 2009

ORAÇÃO E ACÇÃO (Anselm Grün)


"A oração deve ser um momento e um meio de libertar forças, ligadas ao centro de nós mesmos, para as pôr ao serviço dos irmãos." (Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto")

«A oração deixa-nos sensíveis para aquilo que devemos fazer. Sem oração, a nossa acção torna-se frequentemente cega e pode resultar num activismo sem significado. A oração indica-nos onde nos devemos comprometer e de que forma é que a nossa acção faz sentido.(...)

O próprio Jesus nos mostrou, na conhecida história de Marta e Maria, que precisamos de ambos os pólos, da acção e da contemplação (Lc 10: 38-42).
Tal como Marta, devemos deitar mãos à obra onde for necessário. Devemos ser hospitaleiros para com os nossos convidados e cuidar deles. Mas também é preciso que exista em nós a Maria, que arranja tempo para se sentar simplesmente aos pés de Jesus e para ouvir o que Ele tem para lhe dizer.

Se não tirarmos mais tempo para a oração, para o silêncio, para ouvirmos e reflectirmos, não nos apercebemos de que não estamos a responder ás verdadeiras necessidades dos seres humanos com a nossa acção. Existe então o perigo de estarmos a circular apenas à volta de nós mesmos e da nossa reputação.

Queremos apenas dar provas de nós mesmos é um comportamento que também não dá frutos para os outros. Para que a nossa acção seja frutífera, precisa do retrocesso para a oração, a contemplação e o silêncio. Mas isso é uma coisa completamente diferente de uma autofuga ás verdadeiras exigências da vida.»

(Anselm Grün, em "O Livro das Respostas")

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ORAR

«Orar é expor-se a Deus, é ficar ao Seu dispor para O deixar por fim realizar em nós o que desde sempre desejara realizar, dar-Lhe ensejo, dar-Lhe tempo para nos fazer aquela revelação, aquela confidência, aquela confiança que nos reservava desde toda a eternidade; é consentir que Ele mate em nós o personagem grosseiro, barulhento e enfatuado cujos gritos impedem a conversação. (...)


Um Trapista, meu amigo, dizia: «Não basta parar a carroçaria, é preciso também que o motor pare de trabalhar a toda a velocidade, no interior». O motor das vossas inquietações gira ainda a toda a velocidade. Importa que ele comece a afrouxar, a acalmar, a tomar outro ritmo. Urge assentar os vossos passos noutros passos, a vossa vontade noutra Vontade, tornar-se capaz de embraiar nesse motor de ritmo lento, calmo, poderoso e contínuo da Vontade de Deus»


(Louis Evely, em "Tu és esse homem")

quarta-feira, 15 de abril de 2009

DEUS CHAMA POR NÓS...

«Deus chama homens e mulheres a criarem lugares novos
onde não é preciso defendermo-nos,
lugares de paz, de amor, de comunhão
onde cada um possa ser acolhido na sua fraqueza,
na sua fragilidade, na sua vulnerabilidade. (...)


Deus chama incessantemente cada um de nós,
no seu próprio caminho, com o seu dom único,
a construir, por sua vez, como Noé, uma arca,
uma comunidade de amor,
a opor a paz à guerra
o amor ao ódio,
a união à desunião,
o acolhimento à exclusão.


Peçamos a Jesus que nos ajude a escutar
esse apelo de Deus em nós.»

(Jean Vanier, em "A Fonte das Lágrimas")

terça-feira, 14 de abril de 2009

MORRER PARA DAR FRUTO

Na Páscoa fala-se de ressurreição e de novidade.
Mas a ressurreição que Cristo veio revelar
não é voltar a este mundo pesado e conflituoso.
É a certeza de passar para outro, de beleza e paz,
cujas sementes estão já neste.
Só que a semente não vê ainda o fruto.
E tem que morrer para dar fruto.


(Vasco Pinto de Magalhães, em "Não há soluções. Há caminhos")

domingo, 12 de abril de 2009

UMA SANTA PÁSCOA!!!


“Agora, com a ressurreição de Cristo, o poder da Páscoa irrompeu sobre nós. Agora, encontramos em nós uma força que não é nossa e que nos é dada livremente sempre que dela necessitamos, elevando-nos acima da Lei, dando-nos uma nova Lei que se acha escondida em Cristo: a lei de seu amor misericordioso.

Agora, não mais nos esforçamos por sermos bons porque somos obrigados a isso, porque é um dever, e sim porque é uma alegria agradar ao Senhor que nos deu todo o seu amor! Agora, nossa vida está repleta de sentido!(…)

Para compreender a Páscoa e vivê-la, temos de renunciar ao nosso temor da novidade e da liberdade!”
(Thomas Merton)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

ESPERA NO AMOR

«Quando Jesus chama o jovem rico, diz-lhe:
"Uma só coisa te falta: vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e segue-Me".

O jovem não pode.
Jesus não insiste.
Não corre atrás dele para o seduzir ou o convencer ou prometer-lhe
uma coisa diferente da verdade,
uma grande glória ou riqueza... que o tivesse atraído.
Não usa nenhum método de manipulação,
não faz nenhuma publicidade,
respeita demais a nossa liberdade,
ama-nos demais,
é também issso a sua pobreza.

Deus diz: "Se queres... segue-Me. Mas não te obrigo,
não te prometo o sucesso na terra,
mas o céu, que é estar sempre contigo.
Se queres, caminhemos juntos, não te abandonarei".

É certo, não nos abandonará mesmo que nos afastemos d´Ele.
Quando Jesus chamou alguém, mesmo que esse alguém faça disparates,
Jesus não o abandonará, não o criticará,
saberá esperar que ele mude,
saberá esperar o seu regresso.

Nós temos tendência a utilizar as pessoas e, se elas não respondem
à nossa expectativa, mandamo-las embora.
Jesus não manda ninguém embora,
não Se afasta da sua promessa.
Espera no amor.

O que Ele quer é que nós cresçamos na liberdade interior,
que cheguemos a amar livremente,
e pode durar muito,
um longo caminho de crescimento.
É a humildade da ressurreição,
a humildade do nosso crescimento no Espírito Santo.»

(Jean Vanier, em "A Fonte das Lágrimas")

terça-feira, 7 de abril de 2009

TUDO É GRAÇA

"Deus vem ao teu encontro sob a forma de um dom, na Sua graça que te interpela e neste sentido «tudo é graça».
Ele quer que para ti tudo resulte num «capital» de bem e até do próprio mal procura extrair algo de bom. Evidentemente que o mal não pode ser uma graça, mas na Sua omnipotência e infinita misericórdia, Deus pode extrair dele o bem. As consequências do mal podem mesmo dar como fruto uma boa oportunidade de se alcançar a conversão. Então, desse modo, «tudo é graça» e tudo é um talento, porque o Senhor, sempre e em toda a parte, te concede uma oportunidade.

Deves começar a olhar a tua vida de modo diferente, isto é, deves vê-la com os olhos da fé. Só então te aperceberás que Deus te cumula continuamente de dons, apenas nessa altura serás capaz de compreender que toda a tua vida é um conjunto de oportunidades escondidas, em ordem a uma contínua transformação interior. Compreenderás, pois, que tudo é graça."

(Tadeusz Dajczer, em "Meditações sobre a Fé")

domingo, 5 de abril de 2009

DESEJOS DE DEUS

«Os mestres espirituais afirmam que Deus Se revela, Se dá à medida dos nossos desejos.
Se desejamos muito, recebemos muito, pois Deus dá muito.

Ele, o Pai, é sempre magnânimo quando encontra no coração do homem desejo de paz, amor, santidade, comunhão. (...)

Não andes, como dizia S. João da Cruz, a comer do que não mata a fome,
a beber do que não mata a sede.
Ou pior ainda, como dizia o profeta,
a beber da água lodosa, armazenada em cisternas rotas.(...)

Deseja Deus, suspira por Ele,
anseia por contemplá-l`O,
anseia por viveres em maior e mais plena comunhão com Ele.
Esse desejo será ouvido por Deus,
será escutado pelo Senhor.
E Ele, no seu amor,
dar-Se-á na medida dos teus desejos.

Procura Deus,
abre-te a Ele, anseia por Ele.
Acalenta, alimenta o desejo do amor divino.
Nem tu sonhas onde Ele te poderá conduzir,
se desejares muito,
com verdade e sinceridade.

Alimenta no teu ser,
no teu interior,
esse desejo incessante de intimidade e de comunhão.
E Deus, mais cedo ou mais tarde,
virá ao te encontro,
te encherá da sua presença,
cumulará os teus desejos.

Se desejas muito o teu Deus,
já O vais possuindo à medida do teu desejo." -

Dário Pedroso, s.j., em "Sinfonias do Amor" (adaptado)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O OBJECTIVO DA MINHA VIDA

"O objectivo da minha vida é que o meu ego deixe de bloquear a imagem original e genuína de Deus, que existe dentro de mim, e que eu permaneça sempre permeável ao seu Espírito.

Tenho confiança de que a minha vida se tornará uma bênção para outras pessoas, de que eu próprio me tornarei uma bênção, se deixar de circular, de forma egocêntrica, à volta do meu próprio sucesso ou de me fixar no meu próprio resultado. Só então serei verdadeiramente livre. Nessa altura, serei verdadeiramente capaz de amar. (...)

Pressinto que o meu objectivo é ser totalmente eu próprio, ser totalmente aquilo para que Deus me designou, sem utilizar Deus a meu favor e sem querer dar provas de mim a mim mesmo.

O meu objectivo é, portanto, tornar-me aquele que sou com origem em Deus, e gerar lucros, tal como Jesus prometeu àqueles que n´Ele permanecem e junto de quem Ele permanece.

E eu sei que só serei verdadeiramente produtivo quando abandonar o meu ego e me tornar totalmente permeável ao amor. Um amor que brota em mim para correr através de mim na direcção dos outros e os alegrar."

(Anselm Grün, em "O Livro das Respostas")

quarta-feira, 1 de abril de 2009

MESTRE, ONDE MORAS?

Jesus voltou-Se e, notando que eles O seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?»
Eles disseram-Lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde Moras?»
Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.»
Foram, pois, e viram onde Morava e ficaram com Ele nesse dia.
Eram as quatro da tarde. (Jo 1, 38-39)

"Parecem palavras sem importância maior; atrás delas, porém, esconde-se o essencial. A questão básica é a saber o que queremos ou, como se diz com mais precisão em grego: o que procuramos. "O que procuras?", pergunta Jesus a cada um que pretende segui-lo. (...)

Os discípulos perguntam por sua vez: "Onde moras?"
Este é o chamamento: morar com Jesus, ficar com Ele, estar na casa dele.
Jesus toma posse de sua propriedade. Ele nos acolhe em sua casa.
A Jesus não interessa a casa terrena, e sim, a morada com Deus. Em Jesus, Deus armou a sua tenda em nosso meio. Em Jesus podemos morar na casa de Deus.

Jesus convida os discípulos: "Vinde e vereis".

Não basta ouvir apenas o que os outros têm a dizer de Jesus. Ser discípulo significa viver a sua própria experiência com Jesus. Nós mesmos precisamos ver. Não podemos deixar que os outros vejam por nós. "

(Anselm Grün, em "Jesus - Porta para a Vida")

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...