sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

BOM ANO!

A todos os visitantes, leitores, amigos e irmãos, desejo um Ano de 2012, com tudo o que permita que juntos nos tornemos pessoas melhores, mais humanas e fraternas. 


«Começar, estamos sempre a começar. Temos um Ano Novo pela frente, mas começar de novo não é começar outra vez, não é repetir alguma coisa, é começar de outro modo, com novidade. E o primeiro gesto devia ser o de agradecer esta imensa oportunidade.


Este ano será aquilo que fizermos dele: se cultivarmos uma atitude de egoísmo e individualismo, será assim; mas se nos comprometermos com a construção da paz e da justiça no mundo, então teremos um bom Ano Novo. 


Não esqueçamos ao longo do ano que começa hoje que há uma imensa sabedoria em viver cada dia como se fosse o primeiro e há imensa felicidade em viver cada dia como se fosse o último. As duas coisas são possíveis ao mesmo tempo.»


(Vasco Pinto de Magalhães, em "Não há soluções. Há caminhos.")

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A CARTA DE DEUS

«Abrindo o Evangelho, pode surgir este pensamento: as palavras de Jesus assemelham-se a uma carta muito antiga que me teria sido escrita numa língua desconhecida. 
Como ela me é endereçada por alguém que me ama, Cristo, eu procuro compreender-lhe o sentido e vou pôr na prática da minha vida o pouco que dela compreendo.»


Irmão Roger, de Taizé

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

NATAL É JESUS

Jesus, neste natal encontrar-nos-ás?...
Já houve um dia em que não tiveste lugar nas casas iluminadas da cidade...
Hoje, com as pernas e o Coração a Caminho, procuro-te nas ruas enfeitadas, nas luzes, nas montras, nos rostos, nas mãos carregadas de presentes sem história…

Há passos apressados e sacos cheios de menoridades necessárias que esvaziam as algibeiras mas não vejo encherem muito os corações…
Há rostos pesados e cansados de olhares em sobressalto
entre a mais recente promoção e os últimos nomes da lista…
Há embrulhos, laços, postais, música…
E há as crianças...
Sim, sempre elas, a dar o tom da Alegria
Sem outra preocupação senão descobrir a última novidade no céu, no semáforo que fica intermitente ou no rafeiro que está deitado à entrada de um prédio...
Há as crianças...
Porque a alegria da maior parte dos que não são como elas não me convence…
Estão preocupados demais para poderem estar alegres.
Estão apressados demais para saborearem os caminhos que percorrem.
Estão ocupados demais para perguntarem o porquê dos gestos que fazem.

Parece-me que o natal lhes sai dos bolsos, mas não lhes entra no coração!
E depois, sem que se dêem conta, o natal já passou.
E não ficou…

Porque inventámos um natal
onde ninguém precisa de nascer para que seja NATAL!
Porque já vai longe a lembrança de que um dia um Menino nasceu,
antes de haver shoppings e cartões de crédito;
num país onde não havia um Pai Natal
que gostasse de andar atrelado a renas;
onde não havia pinheirinhos com luzinhas
nem se cantavam Jinglebells…

E, apesar de faltar tudo isso, consta que houve NATAL…
E hoje, apesar de haver tudo isso,
consta que não há tanto NATAL como as montras dizem…

Rui Santiago, Derrotar Montanhas

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O AMOR DE SI

«O amor de si está para o amor de Deus
assim como o trigo ainda verde está para o trigo maduro.
Não há ruptura de um a outro - apenas um alargamento sem fim,
as águas caudalosas de uma alegria que,
depois de ter impregnado o coração,
transborda por todos os lados e recobre a terra inteira.

O amor de si nasce num coração infantil.
É um amor que brota naturalmente.
Vai da infância até Deus.
Vai da infância,
que é a nascente,
a Deus que é o oceano.»

Christian Bobin, em "Um Deus à Flor da Terra"

sábado, 17 de dezembro de 2011

BELEZA

«Beleza é algo de que Cristo nunca fala. 
Só lida com ela, mas dando-lhe o seu verdadeiro nome: o Amor. 
A beleza vem do Amor,
como o dia vem do sol,
como o sol vem de Deus,
como Deus vem de uma mulher esgotada pelo parto.» 


Christian Bobin

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SE A NOSSA FÉ...

Se a nossa fé
não nos fizer acreditar que o dia de hoje pode ser melhor do que o de ontem;
se não nos arrancar da mesquinhez egoísta que nos esmaga de solidão e morte;
se não nos puxar os braços para os outros, na gratuidade natural de quem respira;
se não fizer com que a poesia desça ao nosso peito e as crianças e velhos bebam luz dos nossos olhos;
se formos secos de ternura e apenas e só prudentes como as serpentes;
se não passarmos de atarefados medricas a fugir, dias fora, da própria sombra;
se faz tremer a verdade e não rói os alicerces à mentira;
se não estrangula o desespero e incendeia a alegria;
se não nos fizer pôr na vida a beleza das palavras que engendramos,
então não é fé, pelo menos não é cristã.

Agarra-nos pelos ombros e diz-nos outra vez: «se a tua fé fosse sequer do tamanho de um grão de mostarda, dirias a esta montanha: vai daqui para ali, e ela iria e nada te seria impossível.» 

Henrique Manuel, em "Mas Há Sinais..."

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

FÉ VIVA

«A nossa confiança em Deus pode ser reconhecida quando se exprime no dom simples das nossas vidas: é acima de tudo quando é vivida que a fé se torna credível e se comunica.» 


Irmão Roger, de Taizé

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O QUINTO EVANGELHO

«Sempre que as pessoas entram em grave crise, começam a sonhar com a descoberta de uma mensagem salvadora que as liberte do impasse angustiante de ter que viver sem descer da cruz. Trata-se da utopia do assim chamado "quinto evangelho", que teria sido escrito, mas foi perdido. 
Ora, este "quinto evangelho" nós é que temos de escrevê-lo com discernimento e coragem, como resposta aos desafios da vida e à vocação de grandeza que temos. Ele só estará perdido se o perdermos por cobardia.» 


Pe. Neylor J. Tonin 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

UM AMOR RENOVADO

«Não deixes que o teu coração envelheça com o passar do tempo. 
Ama com um amor cada dia mais intenso,
mais novo e mais puro,
como o amor que Deus derrama no teu coração.» 


Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, O Caminho da Esperança" 

domingo, 4 de dezembro de 2011

QUEM É O MEU PRÓXIMO?

Jesus conta a célebre parábola do "Bom Samaritano" ( Lucas 10:25-37), em resposta a "um certo doutor da lei" que deseja testá-lo com a sua erudição e interpretação da lei.
Dallas Willard escreve: "A ocasião aqui é aquela em que um intérprete da lei está testando a correcção doutrinária de Jesus e acaba caindo na sua própria armadilha. Tendo concordado com Jesus em que para "herdar a vida etena" é preciso amar o próximo como a si mesmo, ele acaba achando essa exigência mais rigorosa do que desejaria. (...)
O "intérprete" então, à maneira dos eruditos, tenta livrar-se da armadilha fazendo uma pergunta capciosa: "Quem é o meu próximo?"(...) Ele estava tentando justificar-se porque certamente sabia que não amava os seus próximos como a si mesmo.(...)

Jesus narra a história de forma tão magistral que o samaritano só entra já perto do final, antes que as portas da mente se possam fechar. O samaritano personifica perfeitamente a resposta à pergunta capciosa do intérprete - quem é o meu próximo? - e ao mesmo tempo destrói as suposições gerais a respeito de quem "logicamente" herda a vida eterna(...)

Quando Jesus afinal faz a pergunta decisiva - "Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu na mão dos salteadores?" -, qualquer pessoa decente só tem uma resposta a dar(...) Assim, o intérprete teológico responde: "O que usou de misericórdia para com ele". Para ele seria demais dizer apenas: "o samaritano".
Mas nós precisamos dizê-lo, e precisamos compreender o que isso significa.

Significa que as suposições gerais dos ouvintes de Jesus sobre quem tem vida eterna precisam ser revistas à luz da condição dos corações das pessoas. O relato não ensina que podemos ter vida eterna apena por amar o nosso próximo. Também não podemos nos safar com esse belo legalismo. A questão da nossa postura diante de Deus ainda precisa ser levada em conta. Mas na ordem de Deus nada pode substituir o amor pelas pessoas. E definimos quem é o nosso próximo pelo nosso amor. Fazemos de alguém o nosso próximo cuidando dele.

Não definimos uma classe de pessoas que serão os nossos próximos para depois elegê-los objectos exclusivos do nosso amor - deixando os outros estirados na estrada. Jesus habilmente rejeita a pergunta - "Quem é o meu próximo?" -e a substitui pela única pergunta realmente relevante aqui:" De quem serei eu o próximo?". E Ele sabe que só podemos responder a essa pergunta caso a caso no nosso dia-a-dia. De manhã ainda não sabemos quem será o nosso próximo naquele dia. A condição do nosso coração irá determinar quem é que, ao longo do caminho, será o nosso próximo, e principalmente a nossa fé em Deus é que determinará se teremos força bastante para fazer desta ou daquela pessoa o nosso próximo.

No relato do bom samaritano, Jesus não só nos ensina a ajudar os necessitados; num nível mais profundo, Ele nos ensina que não podemos identificar quem "tem a vida eterna", quem "está com Deus", quem é "bem-aventurado" só por olhar as aparências. Pois esta é uma questão do coração. Só ali o reino dos céus e os reinos humanos, grandes e pequenos, estão entrelaçados. Estabeleça as fronteiras culturais e sociais que quiser, e Deus dará um jeito de atravessá-las.

"O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (1Sm 16:7). E "Aquilo que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus" (Lc 16:15).

Dallas Willard, em "A Conspiração Divina"

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ACOLHER JESUS


«Quando se aproximaram da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Eles, porém, insistiam com Ele, dizendo: Fica connosco; porque é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.» (Lc 24, 28-29)

«Estamos mais inclinados a pensar que é Jesus quem nos convida a partilhar a sua casa, a sua mesa, a sua refeição. Jesus, porém, quer ser convidado. Se não o for, prosseguirá viagem, em busca de outros lugares. É muito importante percebermos que Jesus nunca nos força a aceitar a sua presença. A menos que nós o convidemos, continuará a ser um estranho, possivelmente um estranho muito atraente e inteligente, com quem podemos ter entabulado um diálogo interessante, mas que não deixa de ser um estranho...Sem um convite, que é expressão do desejo de uma relação perdurável, a boa notícia que ouvimos não poderá dar frutos duradouros...Só mediante um convite a «fica comigo» um encontro interessante se pode transformar numa relação transformadora.
Jesus é uma pessoa muito interessante; as suas palavras são cheias de sabedoria. A Sua presença aquece o coração. A sua bondade e doçura tocam-nos profundamente. A Sua mensagem constitui um forte desafio. Mas será que nós O convidamos para nossa casa? 

Porventura queremos que Ele venha conhecer-nos entre as paredes da nossa vida mais íntima? Porventura queremos apresentá-Lo a todas as pessoas com quem vivemos? Porventura queremos que Ele nos veja na nossa vida quotidiana? Queremos que Ele nos toque nos pontos em que somos mais vulneráveis? Porventura queremos que Ele entre na arrecadação de nossa casa, nessas divisões que nós próprios preferimos manter seguramente fechadas à chave? Desejamos verdadeiramente que Ele fique connosco quando vai caindo a noite e o dia já está no ocaso?»

Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração"

terça-feira, 29 de novembro de 2011

UM PEDAÇO DE DEUS

«Gosto imenso das pessoas, porque em cada uma amo um pedaço de ti, meu Deus. E procuro-te por toda a parte nas pessoas e, muitas vezes, acho um bocadinho de ti. E tento desenterrar-te nos corações dos outros, meu Deus.(...)

Procuraste Deus por toda a parte, em cada coração humano que para ti se abriu - e muitos foram - e em toda a parte achaste um pedacinho de Deus. Nunca desistias, eras capaz de ser muitíssimo impaciente em relação a pequenas coisas, mas em relação às grandes eras extremamente paciente, tão infinitamente paciente.(...)

Bom, deixai-me ser um bocadinho da vossa alma. Deixai-me ser a barraca de acolhimento do que de melhor há em vós, que com certeza há-de existir. Não preciso de fazer muita coisa, quero só estar presente. Deixai-me ser simplesmente a alma deste corpo. E em cada uma das pessoas achei por vezes um gesto ou um olhar, que os transcendia em muito, e do qual provavelmente quase não se tinham apercebido. E eu sentia-me a sua guardiã.» 


Etty Hillesum

domingo, 27 de novembro de 2011

DENTRO DE MIM

«Dentro de mim há um poço muito fundo. E lá dentro está Deus. Às vezes consigo lá chegar. Mas acontece mais frequentemente haver pedras e cascalho no poço, e aí Deus está soterrado. Então é preciso desenterrá-lo.

Imagino que há pessoas que rezam com os olhos apontados ao céu. Essas procuram Deus fora de si. Há igualmente pessoas que curvam profundamente a cabeça e a escondem nas maõs, penso que essas procuram Deus dentro de si. (...)» Etty Hillesum

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

AMOR PRESENTEADO

«Na sua forma mais simples e mais íntima, a fé mais não é do que aquele ponto no amor em que reconhecemos que também precisamos de ser presenteados. Assim, a fé é aquele ponto no amor que o identifica realmente como amor; ela consiste em vencer a presunção e a auto-satisfação dos que se acham suficientes e afirmam; já fiz tudo, já não preciso de qualquer ajuda. Só uma «fé» assim põe fim ao egoísmo, a verdadeira antítese do amor. Desta forma, a fé está presente no amor verdadeiro; ela é, simplesmente, aquele momento do amor que o conduz verdadeiramente para si próprio: a franqueza daqueles que não insistem na sua própria capacidade, mas que sabem ser presenteados e necessitados. (...)

Ele não nos ama por sermos especialmente bons, especialmente virtuosos, especialmente merecedores, por lhe sermos úteis ou, mesmo, necessários: Ele não nos ama por nós sermos bons, mas porque Ele é bom. Ele ama-nos apesar de nada termos para Lhe oferecer; Ele ama-nos, inclusive, nas roupas andrajosas do filho perdido, que já nada tem em si que seja digno de amor. (...)»

Joseph Ratzinger, em "Do sentido de ser cristão"

terça-feira, 22 de novembro de 2011

«SEJA FEITA A VOSSA VONTADE»

«Qual é a vontade de Deus? A vontade de Deus é o Amor. O nosso único dever é o Amor. E, quando a gente diz «Seja feita a vossa vontade», sabe de antemão que isso significa «Seja cumprido, atualizado, redesenhado o Amor...»

Quando a nossa vontade se abre à vontade de Deus, o amor torna-se a sinfonia silenciosa da vida, a sua exalação humilde e profusa, o seu perfume. Mesmo sabendo que o amor verdadeiro é crucificante. Amando, não vamos amontoar, certamente ficaremos mais pobres, ficaremos velhos mais cedo, gastamo-nos e perdemo-nos. A medida do amor é dar-se sem medida. É um contrassenso pensar que o amor tem um horário, um turno, um guiché. Quem ama vive na atenção solícita, tem antenas, sensores, olhos que não se habituam nem conformam ao desamor. » 
José Tolentino Mendonça

domingo, 20 de novembro de 2011

CAMINHOS INESPERADOS

«Que eu não me tranque por dentro, num confortável reservatório de certezas, mas olhe com frescura os caminhos, esperados e inesperados, que Tu me apontas...

Às vezes assalta-me o receio de que estejamos a construir um cristianismo demasiado cristalizado, com as coisas muito arrumadas, um organigrama impecável, uma máquina bem oleada, mas sem horizonte, como se fôssemos (e perdoem a analogia) um departamento de mapas e guias de viagem e não uma associação de exploradores, de alpinistas, marinheiros e viajantes.»

José Tolentino Mendonça, em "Pai-Nosso que estais na Terra"

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SABER ESPERAR

«É muito difícil esperar na provação.
Ou somos assaltados pela angústia e tentamos forçar os acontecimentos,
tentamos "fazer coisas", lançamo-nos numa atividade louca e sem real objetivo,
apenas para canalizar essa angústia, evacuar as energias doidas que nos submergem pouco a pouco.
Ou então destruímos tudo, escapamo-nos, fugimos: não podemos mais permanecer quando nada se passa e nada muda.

Na provação, é preciso aprender a esperar, muitas vezes sem nos mexermos,
numa atitude de oração e oferenda.

É preciso pedir a Jesus essa graça de saber esperar, sem compreender sempre o que se passa,
e sem querer ditar a nossa vontade aos acontecimentos, às coisas e às pessoas.
É certo, o ser humano tem vontade de compreender, de saber, de avançar, e é magnífico.
Mas às vezes, também, é preciso aceitar não compreender imediatamente.

Há muitas coisas que não se compreendem e, às vezes, é preciso saber esperar a luz, permanecer, não se mexer, velar, esperar a hora de Deus.»

Jean Vanier, em "A Fonte das Lágrimas"

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A GRAÇA DE DEUS

«Podem fazer entrar tudo nos seus cálculos excepto a graça, e é por isso que estes são vãos.» Christian Bobin, em "Ressuscitar"


"A graça divina é totalmente estranha à psicologia humana. Queremos primeiro deixar nossa casa em ordem para então permitir que Deus nos ame e nos aceite. A psicologia da ética do trabalho e a da auto-avaliação são fundamentais para a psique humana e totalmente estranhas à graça divina.

O que faz sua graça ser extraordinária é o fato de que somente ela nos pode libertar dos nossos medos e nos tornar verdadeiramente completos e livres. 

A entrega total ao amor de Deus nos oferece a possibilidade de nos libertar dos nossos sentimentos de culpa e dos esforços que fazemos para cair nas boas graças de Deus e de sermos livres para amá-Lo verdadeiramente e ao próximo do mesmo modo que somos amados pelo Pai."

David G. Benner, em "A Entrega Total ao Amor"

domingo, 13 de novembro de 2011

SOBRE O SOFRIMENTO

Uma história de S. Francisco de Sales contada por François Varillon, s.j. :


"Um cirurgião vê-se obrigado a operar a sua própria filha. Em geral, os médicos não gostam de operar as pessoas da sua família, como os obstretas também não gostam de cuidar do parto de suas mulheres.

Naquele tempo não havia calmantes nem anestesias. O cirurgião teve de cortar com o bisturi a carne da filha, a quem seguravam os braços e as pernas. Ela grita. Mas de repente os seus olhos encontram os olhos do pai, e vê que nesses olhos só há amor.

S. Francisco de Sales acrescenta: a filha já não pode desprender os olhos de seu pai: e enquanto assim fizer, suporta a situação. Não diz que ela deixa de sofrer. O sofrimento é sempre sofrimento. Mas basta-lhe ver toda a ternura, todo o amor que há nos olhos do pai, para poder aguentar."

François Varillon s.j. , em "Viver o Evangelho"

terça-feira, 8 de novembro de 2011

ALPINISMO OU ACOLHIMENTO?


"Muitas pessoas julgam que a religião consiste naquilo que fazem por Deus: aquelas pobres, tristes e débeis coisas que porventura fazem por Deus. Deste modo, toda a religião lhes parece pobre, triste, débil. Vão subindo sem alegria, à custa de «sacrifícios» enfadonhos, para se aproximarem um pouco (não demasiado!) daquele Ser que imaginam Supremo e sem inquietações.

Mas a religião consiste no que Deus faz por nós: as grandes e estupendas coisas que Deus inventa para nós. Deus é de tal modo Bom que é Ele que se aproxima. Tudo quanto nos pede é que nos maravilhemos com Ele. Não temos mais do que admirar e aquietar-nos. Seremos religiosos na medida do nosso deslumbramento. «O Senhor fez por mim maravilhas».

Deus não é aquele que recebe e muito menos aquele que arrebata: é Aquele que dá, que perdoa e cujos benefícios cantaremos por toda a eternidade.
Religião fácil? Desenganai-vos. É penoso para nós sermos amados gratuitamente, pois aceitar tal amor é admitir que não valemos nada, que não valeríamos nada sem este amor que nos cria. E é também aceitar sermos criados... à Sua imagem. Aceitar entrar neste jogo terrível de um amor que nada calcula, nada avalia, tudo espera. Se temos tanto medo, é porque sabemos perfeitamente que tal amor é um apelo irresistível a amarmos daquela maneira. Sem condições.» Louis Evely, em "Tu és esse homem"

domingo, 6 de novembro de 2011

O CÉU COMEÇA AQUI

«O mundo terrestre tem acesso ao mundo celeste todas as vezes que há amor, dom, comunhão.
Daí que «ganhar o céu» vem a ser uma expressão não apenas falsa mas absurda; e a acusação de que o cristão é «mercenário» cai pela base. Não ganhamos o céu mas familiarizamo-nos com ele, habituamo-nos e aclimatamo-nos a ele. Preparamo-nos para ele. E construimo-lo. Todos juntos...

Eu estou convencido de que o céu consistirá em reviver, numa plenitude de luz, os maravilhosos instantes da nossa existência terrena. A cada passo nos deteremos confundidos com a generosidade do nosso Deus e confusos pela nossa inconsciência passada. Reviver um só momento nos lançará em transportes de júbilo e de reconhecimento. Como era belo o mundo e quanto nós grosseiros ao caminhar assim, enjoados e desiludidos, a meio de todas as suas maravilhas!
Deus não soubera que mais inventar para nos alegrar a cada hora, em cada minuto. Procedera como o pai que para fazer sorrir o filho exibe tesouros diante dele e só obtém do tiranozinho insaciável esta resposta:
«Quero mais. Dá-me outras coisas».

A mais espantosa das surpresas que por nós espera no céu será a de não encontramos lá nada de novo.»

(Louis Evely, em "Tu és esse homem")

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DEIXA QUE EU TE MOLDE (4ª FOLHA)



"Não te posso Eu moldar a ti, como o oleiro molda o seu barro?" (Jer 18, 5)


«A gravura da quarta folha não tinha um único rosto. Viam-se nela duas mãos sujas de barro e, seguro entre as mãos, um pote a ser moldado sobre um torno de oleiro. Em letras grandes um letreiro dizia: "DEIXA QUE EU TE MOLDE" Era uma referência ao capítulo 18 do profeta Jeremias.


Pareceu-me ser esta a página mais importante do Manual de Conversão, ao imaginar que – mais eficaz que todos os nossos esforços – o que nos muda é o fato de Deus, secretamente, no torno da vida, nos tomar nas Suas mãos e nos moldar.
Fazemos esforços por sermos melhores: tentamos rezar mais, tentamos ter mais caridade, ou mais humildade, ou interiormente mais liberdade. Pedimos a Deus que nos ajude. E por vezes, atravessando-se no caminho de todos estes nossos esforços, aparece a vida: a relação íntima que nos deixa desconcertados, um comentário que alguém nos faz, uma humilhação, uma fase onde tudo se baralha. "Logo agora que eu estava conseguir ser um pouco melhor, lá vem a vida com as suas coisas..." 


Pois é... E se a vida fosse precisamente a resposta de Deus aos nossos pedidos e aos nossos esforços? E se tudo aquilo que nos acontece fossem apenas oportunidades de crescimento e de liberdade queridas por Deus ou, pelo menos, por Ele consentidas?
Barro sempre seguro nas mãos firmes de um oleiro por entre as voltas da vida. Umas vezes sentimo-nos acariciados, outras apertados; umas vezes vemo-nos quase prontos, outras amassados e sem forma; em certas alturas a obra toda faz sentido, noutras torna-se bastante incompreensível.» 


Nuno Tovar de Lemos, s.j., em "O Princípe e a Lavadeira"

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

É PRECISO CHORAR O DESAMOR (3ª FOLHA)


A terceira folha representava dois rostos numa troca de olhares. Um rosto era o de S. Pedro e chorava amarguradamente. O outro era o rosto de Cristo, que, passando e voltando-se, o olhava em silêncio. Reconheci logo aquele momento em que Jesus é trazido pelos soldados para fora de casa do sumo sacerdote e ali mesmo – no pátio – se cruza com Pedro que o acabara de negar três vezes. Sob a gravura uma legenda dizia: "É PRECISO CHORAR O DESAMOR"


Impressionou-me que Pedro não se tivesse tentado justificar. "Sabes como é, Senhor, se eu tivesse dito que Te conhecia também não ia adiantar nada, pois no fundo, se analisarmos bem a questão..." Impressionou-me que ele nem sequer se tivesse tentado desculpar. "Lamento o sucedido mas Tu sabes, Senhor, um homem não é de ferro. E Tu conheces esta minha dificuldade em situações de tensão... Já vem de pequeno, das relações com os meus pais. E a sociedade, por outro lado, também não ajuda, porque infelizmente hoje em dia..."


Naquele pátio, Pedro não se justificou nem se desculpou. Apenas olhou Cristo e chorou. Fiquei a pensar que – entre as pessoas – a grande diferença não é que uns sejam bons e outros maus mas que uns se desculpam e outros choram. Certo, também, que há lágrimas que não levam a lado nenhum, há lágrimas que são de simples remorso ou de orgulho ferido. Mas não eram estas as de Pedro. As suas lágrimas eram todas de amor, de uma pena enorme de O ter traído, de uma enorme confusão ao pensar que numa hora tinha deitado para a fogueira tudo quanto havia de mais sagrado na sua vida. 


Fiquei a olhar para esta terceira folha do Manual de Conversão enquanto repetia a legenda: "É preciso chorar o desamor."
Pensei que não basta achar mal o nosso pecado, que não basta com a razão reconhecer que está mal e com a vontade decidir mudar. É preciso deixar-se revoltar contra ele ao ponto de chorar.» 


Nuno Tovar de Lemos, s.j., em "O Príncipe e a Lavadeira"

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DESCE À PORTA DA TUA CASA E ABRE O COFRE (2ª FOLHA)


Abri a segunda folha. Via-se na gravura um homem rico a distribuir dinheiro por uma multidão de pobres, à porta de sua casa. Os pobres estavam estupefactos. O homem, esse, estava visivelmente feliz.

Ele e Jesus, que à janela da casa observava a cena e dizia: "Veio hoje a salvação a esta casa!"

Percebi tratar-se de Zaqueu, o cobrador de impostos de que fala S. Lucas no capítulo 19 do evangelho. Zaqueu era judeu mas trabalhava para o inimigo, cobrava impostos para os ocupantes, os romanos. Cobrava até muito mais do que o imperador exigia, e assim enriquecera. Tirava dinheiro aos pobres para se manter nas boas graças dos poderosos, vivia às custas de uns e em função de outros. Um dia, que havia de virar para sempre a sua vida, Jesus foi a sua casa. E este encontro mudou completamente as suas relações com os outros. Decidiu restituir generosamente tudo o que tinha cobrado a mais e, quanto ao resto da sua fortuna, dar metade aos pobres. Não passou muito tempo até os ter a todos à porta de sua casa!

Era esta a cena que a gravura mostrava: Zaqueu feliz a abrir o cofre, perante os olhares ainda incrédulos da população. Sob a gravura uma legenda dizia: "DESCE À PORTA DA TUA CASA E ABRE O COFRE"
Gostei de imaginar Zaqueu tão preocupado com as pessoas que tinha à porta de casa que nem tinha tempo para se lembrar da sua própria conversão. Mas esta, no fundo, era nada mais do que a sua falta de tempo para se preocupar consigo. Antes vivia para si, à custa dos pobres e em função dos poderosos. Agora vivia simplesmente para os outros.

Fiquei a pensar que também à nossa porta Deus põe tantas pessoas! Achei mesmo que é entregando-nos a elas que acabamos por nos mudar a nós próprios. Como se, para se ser melhor, a solução não fosse pensar em quaisquer estratégias de autoconversão mas apenas abrir os olhos e tomar como missão pessoal o bem daqueles que Deus já colocou à nossa porta. "Desce à porta de tua casa e abre o teu cofre" 



Nuno Tovar de Lemos, s.j. , em "O Príncipe e a Lavadeira"

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SÓ O AMOR CONVERTE (1ª FOLHA)



"Nessa noite sonhei que tinha voltado ao velho sótão e pegado naquele livro forrado a pele que ali tinha visto e cujo título logo me tinha saltado à vista: Manual de Conversão. A capa estva em bom estado mas por dentro quase todas as folhas tinham sido arrancadas, a ponto de não restar um único parágrafo. Sobravam apenas quatro folhas. Em cada uma delas havia apenas uma gravura e uma legenda."

É esse tesouro encontrado no velho sótão que vou partilhar convosco nos próximos dias. Esse Manual de Conversão que é uma resposta a uma questão fundamental: Como é que se faz para se ser melhor? 

Preparem-se para uma viagem fantástica e revolucionária. Se se deixarem envolver e aderirem de espírito e coração abertos, é algo que pode mudar alguns paradigmas e crenças.

«Abri a primeira folha. A legenda dizia assim: "SÓ O AMOR CONVERTE"



Na gravura via-se Jesus à mesa, numa casa respeitável e – em primeiro plano – uma mulher cheia de colares e pulseiras. Tinha os cabelos despenteados e beijava demoradamente os pés do Senhor. A gravura retratava uma cena que S. Lucas descreve no capítulo 7 do seu evangelho. Jesus tinha sido convidado para um jantar de gente piedosa, em casa do fariseu Simão. Inesperadamente, a meio do jantar, a porta abre-se e entra aquela mulher de perfume barato que todos bem conheciam da rua. Entra a chorar. Aproxima-se de Jesus, beija-lhe os pés, unge-os com perfume, lava-os com as suas lágrimas. Todos se indignam: "Como se atreve uma mulher desta espécie...?" Jesus não. Deixa-se tocar, não esconde o pé, deixa-se beijar. Não faz censuras, não dá lições de moral. No fim diz-lhe: "Vai em paz." Poder-lhe-ia ter dito "não voltes a pecar" mas nem era preciso. Bastou-lhe dizer "Os teus pecados estão perdoados. Vai em paz." Ela foi-se em paz, mudada.Tocou-me o facto de que aquela noite tenha mudado por completo a vida desta mulher, enquanto que Simão, depois daquela noite, ficou apenas ainda mais igual a si próprio. Porque é que um mudou e o outro não? Também Simão esteve com o Senhor. Esteve até mais tempo. Foi até ele que O convidou para jantar!

Pensei que a razão era bastante simples. A mulher amou, ele defendeu-se do amor. A mulher aproximou-se de Jesus com uma enorme sede de amar e ser amada. Simão aproximou-se de Jesus para ter umas conversas interessantes e respeitáveis.
Ele e os seus amigos estavam realmente interessados na pessoa de Jesus, mas no fundo estavam agarrados às suas seguranças, ao seu estatuto social, à respeitabilidade da imagem que tinham criado para si próprios. Ela já não tinha nada a perder. Nem estatuto social, nem respeitabilidade, nem imagem de si própria.
Simão esperava de Jesus uma noite bem passada. Ela esperava de Jesus um momento de amor a partir do qual pudesse reconstruir a sua vida toda. Ela mudou, ele não.

Espanta que Jesus, o Salvador, não tenha aproveitado a oportunidade para recordar àquela mulher alguns princípios básicos de bons costumes. Estou convencido de que não o fez por uma razão muito simples: depois de sabidas todas as teorias, a única coisa que, de fundo, nos faz mudar é o amor.

"Só o amor converte", dizia a legenda, o amor dos outros e sobretudo o amor infinito e incondicional de Deus. Cair do alto das nossas seguranças e das nossas defesas para amar e se deixar amar, este é o maior segredo da mudança. » 



Nuno Tovar de Lemos, s.j. , em "O Príncipe e a Lavadeira"

domingo, 23 de outubro de 2011

MANANCIAL ETERNO

«Só quando o coração do homem tiver encontrado esse manancial eterno de riquezas divinas, poderá renunciar, perfeitamente, aos bens que dividem os homens entre si.
É preciso que descubra a força do amor que encontra a sua origem em Deus.
É preciso que descubra o amor infinito de Deus por todos os homens, e que depositem n´Ele toda a sua confiança.
É preciso que expurgue a religião de todos e qualquer elemento de hipocrisia, é preciso que viva o essencial da mensagem de Jesus: a abertura ao Espírito Santo, 
a compaixão pelos fracos e aflitos, pelos inimigos, a renúncia a todo o julgamento ou condenação dos outros.» 

Jean Vanier

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O AMOR TODO-PODEROSO


«A omnipotência de Deus é a omnipotência do amor, o amor é que é todo-poderoso!

Por vezes, diz-se: Deus pode tudo! Não, Deus não pode tudo. Deus não pode senão o que pode o Amor. Porque Ele não é senão Amor.(...)

Em Deus, não há outro poder que o do amor e Jesus diz-nos (é Ele quem nos revela quem é Deus): «Não há maior amor do que morrer pelos amigos» (Jo 15, 13). Ele revela-nos a omnipotência do amor ao consentir morrer por nós. Quando Jesus é preso pelos soldados, maniatado, amarrado, no Jardim das Oliveiras, Ele próprio nos diz que teria podido chamar uma legião de anjos para O arrancarem das maõs dos soldados. Absteve- Se, contudo, de fazê-lo, porque ter-nos-ia, então, revelado um falso Deus: ter-nos-ia revelado um Deus todo-poderoso em vez de nos revelar o verdadeiro. Aquele que chega a morrer por aqueles que ama. (...)»  

François Varillon, em "Alegria de Crer e de Viver"

domingo, 16 de outubro de 2011

QUEM SOMOS NÓS?


«Durante a nossa curta vida, a questão que guia muitos dos nossos comportamentos é a seguinte:"Quem somos nós?" Raramente nos fazemos esta pergunta de maneira formal, contudo, vivemo-la muito concretamente nas decisões do nosso dia-a-dia. As três respostas que nós geralmente vivemos - e que não damos necessariamente - são: "Nós somos o que fazemos"; "nós somos o que os outros dizem de nós"; e "nós somos o que temos"; ou, por outras palavras: "Nós somos os nossos sucessos, a nossa popularidade e o nosso poder."

É importante compreender a fragilidade da vida que depende do sucesso, da popularidade e do poder. Essa fragilidade provém do facto de esses serem factores externos sobre os quais temos apenas controlo limitado. A perda do nosso emprego, da fama ou dos bens, tem frequentemente, como causa eventos totalmente fora do nosso controlo. Mas, quando dependemos deles, é como se nos tivéssemos vendido ao mundo, porque então somos o que o mundo nos dá. E a morte acaba por nos tirar tudo. E a sentença final então será: "Quando se morre, acabou!" , porque, quando morremos, mais nada podemos fazer, as pessoas não tornam a falar de nós e já nunca mais temos nada. Quando somos o que o mundo faz de nós, já não podemos ser depois de termos deixado o mundo.

Jesus veio anunciar-nos que uma identidade baseada nos sucesso, na popularidade e no poder é uma falsa identidade, uma ilusão! Diz Ele, alto e a bom som: "Vós não sois o que o mundo faz de vós, mas sois filhos amados de Deus."

Henri Nouwen, in "Aqui e Agora"

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O QUE É QUE ME VALORIZA?


«Todas as pessoas têm o seu valor, porque são criaturas de Deus. (...)

Valoriza-me o fato de ser humano, de ter sido criado por Deus e por Ele escolhido. E valoriza-me o facto de existir em mim qualquer coisa que pertence apenas a mim.
Ninguém sente as coisas da mesma maneira que eu.
Ninguém fala da mesma maneira que eu.
Ninguém respira da mesma maneira que eu.
Não devo ver o meu valor apenas naquilo que eu consigo fazer.
As minhas capacidades fazem parte do meu valor, mas não o esgotam. Apenas têm valor como parte da minha pessoa, que é única, e em que o próprio Deus se revela. (...)

O valor e a dignidade das pessoas consiste no facto de Deus ter criado o Homem à sua imagem e semelhança. No ser humano resplandece, portanto, o rosto de Deus. É essa a mensagem da Bíblia.

Para os cristãos, isso teve, mais uma vez, outro aprofundamento, devido ao facto de Deus ter encarnado em Jesus de Nazaré.
Se acreditarmos nisso, vemos em cada rosto humano o rosto de Jesus Cristo. (...)
O fato de existir em nós uma vida divina, um espírito divino e um amor divino, constitui a mais profunda das nossas dignidades.»

Anselm Grün, em "O Livro das Respostas"

domingo, 9 de outubro de 2011

FONTE INTERIOR

«Quer sejamos pessoas de fé ou não, nós nos sentimos sempre culpados por nos deixarmos conduzir pelas exigências do mundo, por mais nobres que elas sejam, e não por uma inspiração interior e pessoal.» Paul Tournier, em "Culpa e Graça"

SEJA FEITA A SUA VONTADE

"Não ores para que tuas vontades se cumpram: elas não concordam necessariamente com a Vontade de Deus. Ora, sim, segundo o ensinamento recebido, dizendo: 'que vossa Vontade se cumpra em mim'. 
Em tudo, pede-lhe que se faça a Sua Vontade, pois Ele quer o bem e o benefício para tua alma; tu, porém, não é isso necessariamente que procuras"  Evágrio Pôntico

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

DEVEDOR DE AMOR

"Estamos sempre em dívida perante os outros.
S. Paulo disse esta coisa espantosa: «Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser o amor que devemos uns aos outros.»
Nunca deixo de ser devedor de amor!
Nunca posso dizer que trato alguém bem de mais.
E, pela nossa limitação e egoísmo, ficamos sempre aquém daquilo que devíamos dar."

Vasco Pinto de Magalhães, s.j. in "Não há soluções, há caminhos"

terça-feira, 4 de outubro de 2011

NA CASA DE DEUS

«Na casa de Deus há muitas moradas. Há lugar para todos - um lugar único e especial. Se acreditarmos profundamente que somos preciosos aos olhos de Deus, então seremos capazes de descobrir também a valia dos outros e o lugar único que ocupam no coração de Deus.

Não é possível entrar em competição para ver quem é que ganha o amor de Deus. O amor de Deus é um amor que abraça a todos - cada um na sua própria unicidade. Só quando reivindicamos o nosso lugar no amor de Deus é que podemos experimentar o abraço total desse mesmo e incomparável amor e sentirmo-nos em segurança, não só em relação a Deus mas também em relação a todos os irmãos e irmãs.»

Henri Nouwen, em «Viver é ser amado»

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

«MESTRE, ONDE MORAS?»


Jesus voltou-Se e, notando que eles O seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?»
Eles disseram-Lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde Moras?»
Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.»
Foram, pois, e viram onde Morava e ficaram com Ele nesse dia.
Eram as quatro da tarde. (Jo 1, 38-39)

"Parecem palavras sem importância maior; atrás delas, porém, esconde-se o essencial. A questão básica é a saber o que queremos ou, como se diz com mais precisão em grego: o que procuramos. "O que procuras?", pergunta Jesus a cada um que pretende segui-lo. (...)

Os discípulos perguntam por sua vez: "Onde moras?"
Este é o chamamento: morar com Jesus, ficar com Ele, estar na casa dele.
Jesus toma posse de sua propriedade. Ele nos acolhe em sua casa.
A Jesus não interessa a casa terrena, e sim, a morada com Deus. Em Jesus, Deus armou a sua tenda em nosso meio. Em Jesus podemos morar na casa de Deus.

Jesus convida os discípulos: "Vinde e vereis".

Não basta ouvir apenas o que os outros têm a dizer de Jesus. Ser discípulo significa viver a sua própria experiência com Jesus. Nós mesmos precisamos ver. Não podemos deixar que os outros vejam por nós. "

Anselm Grün, em "Jesus - Porta para a Vida"

terça-feira, 27 de setembro de 2011

UM AMOR CHEIO DE CONFIANÇA

«Reconhece-se o amor verdadeiro e perfeito, na grande esperança e confiança que se tem em Deus: pois nada existe, além da confiança, em que se possa reconhecer melhor se alguém possui um grande amor. Pois quando alguém ama outrem perfeitamente e com afeição, isso cria confiança...
Tudo o mais que se possa fazer não é tão proveitoso como ter uma grande confiança em Deus. Com todos aqueles que conquistaram uma grande confiança nele, nunca Deus deixou de operar grandes obras em conjunto. Em todas essas pessoas Ele tornou muito evidente que a confiança provém do amor; porque o amor não possui apenas confiança, senão que possui também um verdadeiro saber e uma firmeza isenta de dúvidas.» 



Mestre Eckhart

sábado, 24 de setembro de 2011

UM PAI QUE NÃO SABE SOMAR

«Jesus pinta um rosto de Deus que a sabedoria humana não pode entender. 
Ele não faz contabilidade. 
Não soma nem virtudes nem pecados. 
Assim é o amor. 
Não tem porquês. 
Sem-razões. 
Ama porque ama. 
Não faz contabilidade nem do mal nem do bem.» 


Rubem Alves

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

«OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO»

«Certa vez, notei um homem sentado perto de Jerusalém. Todas as vezes que eu passava ali, ele continuava no mesmo lugar. Perguntei ao meu guia quem era, e ele, rindo, disse que o velho tinha enlouquecido.
Então, resolvi aproximar-me, e perguntei.
“O que você está fazendo?”
“Estou olhando os campos”, respondeu o homem.
“E o que mais? “, eu quis saber.
“Isto não é suficiente para entender a vida?“ Respondeu o tal homem a quem chamavam de louco.
Vivemos lutando pelas coisas complicadas, e esquecemos que olhar os campos é mais do que suficiente para compreender Deus.» 



Kahlil Gibran

domingo, 18 de setembro de 2011

O OLHAR DE JESUS

No evangelho de Lucas( 22; 60-62) lemos a seguinte passagem:
«Mas Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. Imediatamente, enquanto ele ainda falava,o galo cantou e o Senhor, voltando-Se, fixou o olhar em Pedro... E Pedro, saindo, chorou amargamente».

«Eu tinha um relacionamento bastante bom com o Senhor. Conversava com Ele, pedia-Lhe coisas, louvava-O, agradecia-Lhe. Mas tinha sempre um sentimento ou sensação inesquecível de que Ele queria que eu olhasse bem no fundo dos Seus olhos... E isto eu não queria. 
Conversava muito, mas desviava os olhos, cada vez que percebia que Ele estava a olhar para mim. Sim, olhava sempre para outro lado. E eu sabia porquê! Tinha medo. 
Receava encontrar uma acusação nos olhos d´Ele: algum pecado não arrependido. Mas pensava também poder encontrar, naquele olhar, algum pedido: algo que Ele quisesse de mim.


Um dia, finalmente, juntei toda a minha coragem e olhei! Não havia acusação alguma. Nem exigência ou pedido. Aqueles olhos diziam-me, simplesmente: «Eu amo-te!». Nessa altura eu olhei-os ainda mais no fundo com a persistência de quem procura algo. Nada encontrei, apenas a mensagem de sempre: «Eu amo-te!». Como Pedro, também eu saí... e chorei.»     


Anthony de Mello

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...