domingo, 31 de maio de 2009

VIDA ESPIRITUAL

«A vida espiritual é uma vida guiada pelo mesmo Espírito que guiou Jesus Cristo. O Espírito é o sonho de Cristo em nós, o poder divino de Cristo em nós, a fonte misteriosa de nova vitalidade pela qual tomamos consciência de que não somos nós que vivemos, mas é Cristo que vive em nós (cf. Gl 2, 20).

De facto, levar uma vida espiritual significa tornarmo-nos Cristos vivos. Não é suficiente envidar todos os esforços para imitar Cristo; não é suficiente recordar Jesus aos outros; nem sequer sentirmo-nos inspirados pelas palavras e acções de Jesus Cristo. Não, a vida espiritual apresenta-nos uma exigência muito mais radical: ser Cristos vivos aqui e agora, no tempo e na história. (...)

Pelo Espírito de Cristo e através dele, tornamo-nos Cristos para os outros, vivendo em todos os lugares e em todos os tempos. Pelo Espírito de Cristo e através dele, chegamos a conhecer tudo aquilo que Jesus conhecia, e somos capazes de fazer tudo o que Ele fez

Henri Nouwen, em "O esvaziamento de Cristo"

quinta-feira, 28 de maio de 2009

CONSTRÓI SOBRE A ROCHA


«Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa; contudo não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e grande foi a sua queda.» (Mateus 7, 24-27)

A parábola da casa na rocha é utilizada num sermão de João Crisóstomo, como prova da sua tese: «Ninguém te pode magoar a não ser tu mesmo.» Aquele que constrói a sua casa na rocha não pode ser prejudicado pelas tormentas interiores e exteriores. As tormentas de emoções que correm para ele não o magoam. As pessoas que lutam contra ele, que o difamam, que intrigam contra ele, não têm qualquer poder sobre ele. A sua casa permanece de pé. O seu fundamento não está em ser amado pelos homens, mas por Cristo. (...)

Jesus está convencido de que as tormentas e marés não nos podem fazer mal se nós tivermos construído a nossa casa na rocha das suas palavras. (...)

Quando construímos a nossa casa em Cristo, encontramos o caminho para a verdadeira vida, então aprendemos a ter prazer na vida, sempre e em todo o lado, mesmo nas tormentas que nos assaltam, mesmo nas marés de emoções que se abatem sobre nós diariamente. Cristo, como fundamento da casa da nossa vida, oferece-nos segurança e liberdade, tranquilidade e serenidade, em todos os contratempos da vida.

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

terça-feira, 26 de maio de 2009

OUSA CONTAR ABERTAMENTE A TUA HISTÓRIA

«Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.» (Romanos 8, 28)

«Os anos que te antecedem, recheados de conflitos e sofrimento, serão a seu tempo recordados como o caminho que te conduziu à tua nova vida. Mas enquanto essa nova vida não te pertencer completamente, as tuas recordações continuarão a fazer-te sofrer. Quando revives acontecimentos dolorosos do passado, podes sentir-te vítima deles. Mas existe uma maneira de contares a tua história sem sentir dor e nessa altura também te sentirás menos pressionado a contá-la. Aperceber-te-ás que o teu lugar deixou de ser lá: o passado já era, o sofrimento deixou-te, já não precisas de regressar para o aliviar, já não dependes do teu passado para te identificares.

Há duas maneiras de contar a tua história. Uma consiste em contá-la de forma compulsiva e premente, regressando continuamente a ela por que encaras o teu presente sofrimento como consequência das tuas experiências passadas. Mas existe outra maneira. Podes contar a tua história de um ponto onde ela já não te domina. Podes falar dela com algum distanciamento e encará-la como caminho para a liberdade de que actualmente gozas. Verás, então, que desapareceu a compulsão de contar a tua história. De uma perspectiva de vida em que agora te encontras e com o distanciamento que agora possuis, o teu passado já não te ensombra. Perdeu o peso e pode ser recordado como o modo que Deus encontrou para te ajudar a ter compaixão pelo próximo e a compreendê-lo

Henri Nouwen, em "A Voz Íntima do Amor"

domingo, 24 de maio de 2009

RECONHECE A TUA IMPOTÊNCIA

«Existem em ti lugares onde estás completamente impotente. Desejas tanto curar-te, lutar contra as tuas tentações e controlar-te. Mas não consegues fazê-lo sozinho. Sempre que tentas, ficas com menos coragem. Assim, deves reconhecer a tua impotência. Este é o primeiro passo dado pelos Alcoólicos Anónimos e o tratamento de todas as dependências. Talvez possas encarar o teu conflito deste modo. A tua necessidade inexaurível de afecto é uma dependência. Governa a tua vida e vitimiza-te.

Começa simplesmente por admitir que não te podes curar a ti mesmo. Precisas de admitir a tua impotência para que Deus te possa curar. Mas não se trata de facto de um problema de antes e depois. O teu desejo de reconhecer a tua impotência já engloba o início da rendição à acção de Deus em ti. Quando te sentes incapaz de detectar a presença curativa de Deus, o reconhecimento da tua impotência é demasiado assustador. É um salto sem rede.

A tua predisposição para te libertares do desejo de controlar a tua vida revela uma certa confiança. Quanto mais renuncias à tua obstinada necessidade de manter o poder tanto mais entrarás em contacto com Aquele que tem o poder de te curar e guiar. E quanto mais contactares com esse poder divino tanto mais fácil será confessar a ti próprio e aos outros a tua impotência básica.

Umas das maneiras de te apegares a um poder imaginário é esperar alguma coisa de gratificações externas e de acontecimentos futuros. Enquanto continuares a fugir de onde estás e te abstraíres a tua cura total não ocorrerá. Uma semente só floresce mantendo-se no terreno onde foi plantada. Quando se escava continuamente o local onde a semente foi colocada para verificar o seu crescimento ela nunca dará fruto.
Pensa em ti mesmo como uma pequena semente semeada em solo fértil. Tudo o que precisas fazer é manter-te aí e confiar que o solo contém tudo o que precisas para crescer, crescimento esse que ocorre mesmo quando não o sentes. Fica sossegado, reconhece a tua fragilidade e confia que um dia saberás quanto recebeste.»

Henri Nouwen, em "A Voz Íntima do Amor"

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Deixando de rezar, Deus acabará por ser «Ninguém»

Se deixarmos de rezar por muito tempo, Deus acabará por «morrer», não em Si Mesmo, porque é substancialmente Vivo, Eterno e Imortal, mas no coração do homem.
Deus «morreu» como uma planta ressequida que não foi regada.

Abandonada a fonte da vida, chega-se rapidamente a um ateísmo vital. Aqueles que chegam a esta situação, talvez não tenham proposto formalmente o problema intelectual da existência de Deus. Continuam a sustentar, talvez sentindo também, que a «hipótese» Deus é sempre válida, mas ajeitaram-se a viver como se Deus não existisse. Quer dizer, Deus já não é a Realidade próxima, concreta, arrebatadora. Já não é aquela Força Pascal que os tira dos recônditos dos seus egoísmos, para os lançar num pérpetuo «exôdo» para um mundo de Liberdade, Humildade, Amor, Comprometimento. Sobretudo, eis o sinal inequívoco da agonia de Deus: o Senhor já não desperta Alegria no coração!

Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Quanto menos se reza, tanto «menos» Deus é Deus em nós

À medida que menos se reza, Deus vai-se esfumando num apagado afastamento. Lentamente vai-se convertendo em simples «ideia» sem sangue e sem vida. Não «dá gosto» estar, tratar, viver com uma «ideia»; também não há estímulo para lutar e superar-se. Assim, Deus vai deixando de ser Alguém e termina por diluir-se numa realidade ausente e longínqua.

Uma vez que nos deixamos cair nessa espiral, Deus lentamente deixa de ser Recompensa, Alegria, Delícia... e cada vez menos se «conta» com Ele. Assim, surge uma crise e já não se recorre a Deus, porque é uma palavra que já «significa» muito pouco para nós. Recorremos a meios psicológicos, ou simplesmente somos arrastados pela crise. (...)

Quando começa a faltar o centro de gravidade de uma vida e ao mesmo tempo se vão abrindo enormes vazios no interior, surgem as compensações humanas como mecanismos de defesa pela lei das mudanças. Com que finalidade? Para cobrir os vazios e escorar o edifício. O edifício chama-se sentido da vida ou também projecto de uma existência.

Quanto menos se reza, menos Deus tem sentido, e quanto menos sentido tem Deus, menos se recorre a Ele. Já não podemos sair da espiral da morte.

Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"

terça-feira, 19 de maio de 2009

Quanto mais se reza, «mais» Deus é Deus em nós

«Deus não muda. É o definitivamente Pleno, portanto, Imutável. Está, pois, inalteravelmente presente em nós, e não admite diferentes graus de presença. O que realmente muda são as nossas relações com Ele, conforme o nosso grau de fé e amor. A oração torna mais firmes essas relações, produz uma penetração mais entranhável do Eu-Tu através da experiência afectiva e do conhecimento fruitivo, e a semelhança e união com Ele chegam a ser cada vez mais profundas.

Acontece como um archote dentro de uma sala escura. Quanto mais o archote alumia, melhor se vê a feição da sala, a sala faz-se «presente» ainda que não tenha mudado.

Podemos provar pela experiência que, quanto mais profunda é a oração, mais sentimos a presença de Deus patente e vivo. E quanto mais resplandece a Glória do Rosto do Senhor sobre nós, mais os acontecimentos ficam envoltos em novo significado e a história fica «povoada» por Deus. Numa palavra, o Senhor faz-se «vivamente presente» em tudo.

Quando alguém já «esteve» com Deus, Ele cada vez mais vai sendo «Alguém» por quem e com quem se superam dificuldades e de vencem as repugnâncias (estas convertem-se em doçuras).
Assumem-se com alegria os sacrifícios, nasce em toda a parte o amor.
Quanto mais se «vive» com Deus, mais vontade há de estar com Ele, e quanto mais se «está» com Deus, Deus é cada vez mais «Alguém». Abriu-se o círculo da vida.

Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"

domingo, 17 de maio de 2009

A GRANDEZA DO SER HUMANO

"A grandeza do ser humano, a sua verdadeira riqueza, não está naquilo que se vê, mas naquilo que traz no coração.
A grandeza do homem não lhe advém do lugar que ocupa na sociedade, nem do papel que nela desempenha, nem do seu êxito social. Tudo isso pode ser-lhe tirado de um dia para o outro. Tudo isso pode desaparecer num nada de tempo.
A grandeza do homem está naquilo que lhe resta precisamente quando tudo o que lhe dava algum brilho exterior, se apaga. E que lhe resta? Os seus recursos interiores e nada mais.

Nas suas Lettres de Westerbork - o campo onde foram reunidos os Judeus da Holanda enquanto aguardavam a partida para os campos de extermínio -, Etty Hillesum, também desse número, escreve estas linhas:

«Entre aqueles que acabam por vir parar a este árido pedaço de charneca de quinhentos metros de largura por seiscentos de comprimento, encontram-se também vedetas da vida política e cultural das grandes cidades. Em seu redor, as decorações teatrais que os protegiam foram subitamente arrancadas por uma formidável vassourada e eles aí estão, trémulos e desorientados, neste palco agreste e aberto aos quatro ventos que se chama Westerbork. Arrancados ao seu contexto, os seus rostos estão ainda visivelmente aureolados pela atmosfera da vida movimentada que levavam numa sociedade mais complexa do que esta.

Caminham ao longo do arame farpado e as suas silhuetas fragilizadas recortam-se, em tamanho real, sobre a imensa planura do céu. É preciso tê-los visto caminhar assim...

A forte armadura que lhes tinham forjado a posição social, a fama e a fortuna, desfez-se em bocados, só lhes deixando, por único vestuário, a fina camisa da sua humanidade. Encontram-se num espaço vazio, unicamente delimitado pelo céu e pela terra, e ser-lhes-á preciso mobilá-lo com os seus próprios recursos interiores - nada mais lhes resta.» (Etty Hillesum, Une vie bouleversée, Lettres de Westerbork)

Éloi Leclerc, em "Joana Jugan"

sexta-feira, 15 de maio de 2009

OBEDIÊNCIA

Obediência significa sempre ter liberdade interior face a hábitos e prisões, liberdade em relação à opinião dos outros. O nosso coração só deve deixar-se influenciar por Deus.
Obediência pressupõe liberdade e procura, que é, ao mesmo tempo, a liberdade de que nós precisamos para encontrar Deus verdadeiramente. (...)

Jesus seguiu de forma tão clara a voz interior do seu coração que não se deixou deter pelos homens e pela sua rejeição.
A obediência significa lucidez interior, esta abertura para a voz de Deus que nos chama para a nossa verdadeira imagem e para a nossa mais profunda determinação.

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

quinta-feira, 14 de maio de 2009

PUREZA DO CORAÇÃO

Segundo João Cassiano, "a pureza do coração significa liberdade de todas as perturbações egoístas dos nossos actos espirituais. Quem tem o coração puro não utiliza Deus para si próprio, não se coloca acima de ninguém. Pureza significa abertura total a Deus, é o ser penetrado pelo espírito de Deus. E a pureza do coração, para Cassiano, significa, em última instância, amor.

O pressuposto fundamental de toda a oração é o amor. Quem ama reza. E a oração deve conduzir-nos ao amor, de forma a que o nosso coração seja cada vez mais preenchido e modificado pelo amor de Deus.

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

terça-feira, 12 de maio de 2009

A DOÇURA DO AMOR

O coração grande é uma condição para a experiência da vida verdadeira. A outra marca é a alegria indizível do amor. Em latim está escrito: «inenarrabili dilectionis dulcedine = a indescritível doçura do amor.» (...)

«Dulcedo» é para os latinos o mesmo que o amor. O amor é doce. Tem um sabor doce.
Os latinos sabiam que o amor ao homem empresta outro sabor, ao contrário do ódio que faz o homem amargo. Para os latinos, a sabedoria está no sabor (Sapientia). Quem saboreia a essência, é sábio. Quem ama sente um sabor doce e agradável, um sabor amoroso. Quem ama saboreia a vida.

Na tradição espiritual, a «dulcedo Dei = A doçura de Deus» desempenha um papel importante. A experiência de Deus deixa no homem um sabor doce. A «dulcedo Dei» relaciona-se sempre com a experiência interior de Deus nos próprios corações.
Deus não é o sentimento. Mas deixa os seus vestígios no sentimento. Não conseguimos ver Deus, mas podemos saboreá-lo. O sabor doce é a experiência mais profunda de Deus que nos é possível.

Para o papa São Gregório Magno, a doçura interior é fruto da contemplação. Ele diz que a alma não existe sem alegria. A alegria indestrutível é a alegria espiritual. Na contemplação, a alma é penetrada por uma doçura inenarrável. São Bento entende esta doçura da experiência de Deus, quando se refere à inenarrável «dulcedo» do amor.

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

domingo, 10 de maio de 2009

CORAÇÃO GRANDE

São Bento adopta a imagem do coração grande dos Padres da Igreja. Ambrósio pensa que apenas o coração grande oferece espaço a Deus para lá morar. E Cassiano está convencido de que apenas um coração grande pode alcançar a serenidade e encontrar a paz interior.
A pessoa com um coração pequeno torna-se cobarde e impaciente. Quando a cascata de agressões e depressões correm para o coração pequeno, ele é inundado por elas. Quando o coração se tornou grande através do amor, as marés de emoções rapidamente fenecem nele.

Só um coração grande pode experimentar a abundância da vida. Um coração pequeno é demasiado estreito para a riqueza da vida. Fechar-se-á com medo das normas de conduta, em vez de se entregar à vida.

Santo Agostinho fala do amor e da alegria que torna o coração grande. São Bento encontrou a expressão do coração grande certamente no Salmo 119, 32. São Bento gosta deste salmo.
Quem reflecte sobre os mandamentos de Deus, quem medita no amor de Deus, verá que o seu coração se torna grande. Quem realmente experimentou Deus, recebe um coração grande. O coração grande é sinal de verdadeira espiritualidade.

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ACEITAR A NOSSA HUMANIDADE

O paradoxo cristão está em subir até Deus enquanto desce à própria realidade. Só quando alguém se encontra a si próprio, é que se encontra com Deus. Sem haver um autoconhecimento sincero, limitamo-nos a lidar com as nossas próprias projecções e nunca com o verdadeiro Deus. (...)

Só quem tem a coragem de aceitar as suas limitações terrenas, a sua humanidade, poderá subir e ter acesso à contemplação de Deus. (...)

No caminho até Deus encontro o meu próprio lado sombrio, os meus abismos, as minhas paixões, as minhas necessidades e emoções.
Quem se eleva a si próprio, deseja ultrapassar a sua realidade psíquica. Deseja, através de um «bypass espiritual», utilizar Deus para se afastar da sua própria realidade, mas vai parar a um beco sem saída. Nunca chegará a Deus, alcançará apenas a imagem que fez de si próprio e de Deus.

Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da espiritualidade"

terça-feira, 5 de maio de 2009

O CAMINHO DA HUMILDADE (2 ªparte)

O objectivo do caminho interior é o amor-perfeito, que expulsa todo o medo. O caminho da humildade conduz acima da humilhação, até ao amor a Deus que nos eleva e nos puxa para si.

São Bento descreve o fim do caminho da humildade com palavras semelhantes às de João Cassiano. «Se tu és verdadeiramente humilde, a tua humildade conduzir-te-á imediatamente a um nível superior, ao amor que não tem medo de nada. Então, começarás naturalmente, sem qualquer esforço, a seguir tudo aquilo que antigamente observavas com medo da punição, sem ter mais em vista a punição ou qualquer outro medo, mas por amor à bondade como tal, e por alegria pelas virtudes» (Cassiano 49). Para Cassiano, o amor é o objectivo do caminho espiritual e o fruto da pureza do coração. (...)


O objectivo da humildade é, portanto, espiritual, e não moral. Não diz respeito a uma virtude, tem a ver com a capacidade para a contemplação, com a oração pura, através da qual devemos estar em união com Deus. (...)

O caminho espiritual corresponde à nossa essência interior. (...)

A humildade trouxe-nos calma através do contacto com a nossa própria realidade, com a nossa natureza criada por Deus. Quando estamos em contacto com a nossa verdadeira essência, encontramos sozinhos o caminho para Deus. Então não é necessário mais nenhum mandamento e nenhuma pressão exterior. (...)


Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

domingo, 3 de maio de 2009

O CAMINHO DA HUMILDADE (1ª parte)

Gregório de Nisa pensa que o Homem só pode imitar Deus através da humildade. Por isso, a humildade é o caminho para a adaptação a Deus. (...)

Para a Igreja primitiva, a humildade é essencialmente uma atitude religiosa em que se procura padrões de semelhança com Cristo.

São Bento vê o exercício da humildade como imitação de Cristo, como crescimento interior em Jesus Cristo. Ele vê a humildade como caminho de exercício para o amor perfeito, para a unificação com Deus na contemplação. (...)


A humildade conduz os homens ao prazer de estarem vivos, na sua força, na sua vida transformada pelo Espírito de Deus.
O objectivo do caminho da humildade não é, por isso, a humilhação dos homens, mas sim a sua elevação, a sua metamorfose através do Espírito de Deus, que os penetra totalmente e se converte em prazer, nesta sua nova qualidade de vida. (...)


Subir até Deus é o objectivo de todo o percurso espiritual. O paradoxo de uma espiritualidade construída a partir de baixo, tal como São Bento a descreve, é que, através da descida à nossa realidade humana, subimos a Deus.


Anselm Grün, em "Bento de Núrsia - Mestre da Espiritualidade"

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...