À medida que menos se reza, Deus vai-se esfumando num apagado afastamento. Lentamente vai-se convertendo em simples «ideia» sem sangue e sem vida. Não «dá gosto» estar, tratar, viver com uma «ideia»; também não há estímulo para lutar e superar-se. Assim, Deus vai deixando de ser Alguém e termina por diluir-se numa realidade ausente e longínqua.
Uma vez que nos deixamos cair nessa espiral, Deus lentamente deixa de ser Recompensa, Alegria, Delícia... e cada vez menos se «conta» com Ele. Assim, surge uma crise e já não se recorre a Deus, porque é uma palavra que já «significa» muito pouco para nós. Recorremos a meios psicológicos, ou simplesmente somos arrastados pela crise. (...)
Quando começa a faltar o centro de gravidade de uma vida e ao mesmo tempo se vão abrindo enormes vazios no interior, surgem as compensações humanas como mecanismos de defesa pela lei das mudanças. Com que finalidade? Para cobrir os vazios e escorar o edifício. O edifício chama-se sentido da vida ou também projecto de uma existência.
Quanto menos se reza, menos Deus tem sentido, e quanto menos sentido tem Deus, menos se recorre a Ele. Já não podemos sair da espiral da morte.
Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"
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