terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Amor é...

O amor é muito poderoso, é um bem imenso e perfeito; só o amor torna leves os pesados fardos e suaves os lugares mais duros. Suporta todas as dificuldades como se nada fossem, e torna todo o amargor doce e agradável. O amor a Jesus é nobre e inspira-nos grandes obras; exorta-nos sempre a procurar a perfeição(...)
Nada é mais doce do que o amor, nada é mais forte, nada é maior, nada é mais amplo, nada mais agradável, nada mais completo ou melhor no céu como na terra; porque o amor nasce de Deus, e apenas em Deus pode recair, acima de todas as coisas criadas.

O amor voa, corre e salta de alegria; é livre e ilimitado. O amor dá tudo por tudo, recaindo n' Aquele que está acima de todas as coisas, de Quem provém e flui todo o bem. O amor não olha às dádivas, volta-se para o Autor de todas as boas dádivas. O amor não conhece limites, transcende ardentemente todas as barreiras. O amor não sente o peso dos fardos, não dá pelo trabalho, tenta coisas para além das suas forças; para o amor nada parece impossível, pois sente-se capaz de fazer todas as coisas. Por isso o amor faz grandes coisas; é forte e eficiente; ao passo que aquele a quem o amor falta desfalece e perde-se.

O amor é vigilante e, embora repouse, nunca dorme; pode estar cansado, mas nunca exausto; aprisionado, mas nunca a ferros; alarmado, mas nunca temeroso; como uma chama viva e uma tocha ardente, segue em frente e transcende todos os obstáculos.

Thomas H. Kempis, em "A imitação de Cristo"

domingo, 28 de outubro de 2007

Maravilhosa Graça!

«Durante algum tempo, coloquei de lado as crenças da minha infância até que Deus, de forma maravilhosa, se revelou a mim como um Deus de amor e não de ódio, de liberdade e não de regras, de graça e não de julgamento.» - Philip Yancey, em "Maravilhosa Graça"

Esta frase de Philip Yancey ilustra o que tem sido a minha busca de Deus e a minha trajectória espiritual. Ilustra não apenas a minha busca de Deus, mas a forma como Ele se revelou( e tem vindo a revelar-Se) a mim. Estou convicto que Deus procurou-me sempre, esperou sempre por mim, esteve sempre presente. Ao longo do caminho da minha busca, desviei-me muitas vezes, extraviei-me, fugi para "terras longínquas" de escuridão, atravessei longos desertos e senti a alma ressequida, sedenta da Água Viva e Pura da Verdade. Conheci vários "deuses", ou melhor, várias imagem de Deus. Imagens distorcidas, desfocadas, talhadas e moldadas à imagem dos homens. Até que... "Deus, de forma maravilhosa, se revelou a mim como um Deus de amor e não de ódio, de liberdade e não de regras, de graça e não de julgamento."

«Quando frequentei a faculdade cristã, observei pessoas que seguiam as regras e não conseguiam encontrar-se com Deus. E também pessoas que transgrediam as regras e não se encontraram com Deus. O que me preocupa, contudo, são as pessoas que ainda crêem que não conseguiram alcançar Deus porque transgrediram as regras. Elas nunca ouviram a melodia do evangelho da graça.» - Philip Yancey, em "Maravilhosa Graça"

Não frequentei nenhuma faculdade cristã como o Philip, mas compreendo e sinto o que significam as suas palavras. Porque vivi a experiência de frequentar instituições religiosas e conhecer pessoas "que seguiam as regras e não conseguiam encontrar-se com Deus. E também pessoas que transgrediam as regras e não se encontraram com Deus." Muitas dessas pessoas continuam a ser vítimas de um legalismo por vezes duro e insensível, e acreditam que se não seguirem as regras não terão a aprovação de Deus e não serão amadas por Ele; outras, optaram por transgredir as regras, mas não encontraram a Verdadeira Liberdade que vem do conhecimento profundo, íntimo e pessoal da Verdade...É triste saber que muitas dessas pessoas acreditam que não conseguiram alcançar Deus, porque transgrediram as regras.

Todas estas pessoas talvez nunca tenham ouvido "a melodia do evangelho da graça". Se ouviram: muitas das que transgrediram as regras, provavelmente profundamente decepcionadas consigo mesmas e com o deus que lhes deram a conhecer, não quiseram escutar... a Palavra não penetrou nos seus corações magoados e endurecidos. As que continuaram a seguir as regras talvez tenham pensado que "a liberdade em Cristo é o caminho mais difícil. É relativamente fácil deixar de matar, mas é difícil amar; é fácil evitar a cama do vizinho, mas é difícil manter um casamento vivo; é fácil pagar impostos, mas é difícil servir aos pobres. Quando vivo em liberdade, tenho de me manter aberto ao Espírito Santo para receber sua orientação. Estou mais consciente em relação ao que tenho negligenciado do que a respeito do que tenho realizado. Não posso esconder-me por trás de uma máscara de comportamento, como os hipócritas fazem, nem posso esconder-me por trás de comparações fáceis com outros cristãos." - Philip Yancey, em Maravilhosa Graça

E o que diz "a melodia do evangelho da graça"? Nas palavras de P. Yancey:" NÃO HÁ NADA QUE POSSAMOS FAZER PARA DEUS NOS AMAR MAIS. NÃO HÁ NADA QUE POSSAMOS FAZER PARA DEUS NOS AMAR MENOS."

Somos amados gratuita e imerecidamente por Deus. Somos amados e justificados, graças a Deus. É pela sua Graça, pelo Seu AMOR INCONDICIONAL." Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." - João 3, 16

"A graça deixa de ser graça se Deus for compelido a outorgá-la em presença do mérito humano [...]. A graça deixa de ser graça se Deus for compelido a retirá-la em presença do demérito humano [...]. Graça é tratar alguém sem a mínima menção de merecimento, qualquer que seja, mas exclusivamente de acordo com a infinita bondade e com o soberano propósito de Deus" ( A grandiosidade de Deus, citado por Jerry Bridges em Transforming grace, p. 33).

"Graça é o favor livre e imerecido de Deus demonstrado a pecadores culpados que somente merecem condenação. É o amor de Deus demonstrado aos indignos desse amor. É Deus descendo e alcançando pessoas em estado de rebelião contra ele" (Jerry Bridges, Transforming grace).

sábado, 27 de outubro de 2007

Amor e Gratidão - sublimes motivações


«Cristo aceita-nos como somos; mas quando ele nos aceita, não podemos permanecer como somos." - Walter Trobisch


Se eu tivesse de resumir as principais motivações do Novo Testamento para "ser bom" numa única palavra, escolheria gratidão. Paulo começa a maior parte das suas cartas com um resumo das riquezas que possuímos em Cristo. Se compreendemos o que Cristo fez por nós, então certamente por gratidão lutaremos para viver de maneira digna de tão grande amor. Lutaremos por santidade não para fazer Deus nos amar, mas porque Ele já nos ama.

O melhor motivo para ser bom é desejar ser bom. Mudança interior exige relacionamento. Exige amor. "Quem pode ser bom, se não pelo amor?", pergunta Agostinho. Quando Agostinho fez a famosa declaração:"Se apenas amares a Deus poderás fazer tudo o que desejares", ele estava a ser inteiramente sério. Uma pessoa que realmente ama a Deus ficará inclinada a agradar a Deus. Foi justamente o que Jesus e Paulo disseram ao resumir toda a lei no simples mandamento: "amar a Deus". - Philip Yancey, in "Maravilhosa Graça"


Jesus não pressionava ninguém a segui-lo. Queria o coração e não o serviço. quando alguém se dispunha a segui-lo, não exigia nada, apenas que aprendesse a amar. Desejava conquistar a alma e o espírito humanos. Sabia que o amor era a fonte da motivação. Tinha a convicção de que esse sentimento era uma fonte excelente de mudanças das matrizes da memória e de transformação interior. O Mestre da vida era um rei sem trono político, era um rei que tinha aprendido a reinar na alma humana. O amor e não o temor era o perfume que esse fascinante Mestre exalava para atrair o homem e fazê-lo verdadeiramente livre. - Augusto Cury, in "O Mestre do Amor"

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ser como Cristo é ser cristão

Ser como Cristo é ser cristão. Há uma explosividade revolucionária nesta proposta. Quando um discípulo vive a sua vida inteiramente para Deus, andando de mãos dadas com o Jesus para quem Deus é tudo, o poder ilimitado do Espírito Santo é libertado(...)
Nos anos que estão por vir nada há de mais importante do que ver a raça humana provida de uma comunidade de discípulos autênticos que, como Aquele que seguem, vivem inteiramente para Deus. Deus nos chama para essa extraordinária vida de discipulado. Não como um ideal simpático, mas como um programa de vida sério, concreto e realista para ser vivido aqui e agora por mim e por ti.

Isso é algo radicalmente diferente da religião branda e convencional(...) As nossas igrejas estão cheias de pessoas amáveis e respeitáveis. Temos abundância de cristãos para seguir Jesus na primeira metade do caminho. Muitos de nós tornaram-se tão indiferentes e convencionalmente religiosos quanto os religiosos de há dois mil anos atrás, cuja frouxidão, mediocridade e falta de paixão Jesus Cristo e os seus discípulos atacaram com todo o entusiasmo de uma nova descoberta e com toda a energia de construtores do Reino de Deus na terra.
Uma vida vivida inteiramente para Deus é notavelmente bem alicerçada. As tuas alegrias são genuínas, a tua paz não-superficial, a tua humildade profunda, o teu poder formidável, o teu amor abrangente, a tua simplicidade como a de uma criança confiante. São a vida e o poder de Jesus de Nazaré, que ensinava que quando o olho é íntegro o corpo inteiro está cheio de luz.

Brennan Manning, in "A assinatura de Jesus"

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O único Jesus que eu conheci

«Pregue o Evangelho sempre, se(quando) necessário, use palavras.» - Francisco de Assis

Há alguns anos atrás um prisioneiro branco morreu de ataque cardíaco em Montgomery, no Alabama. Na prisão tivera uma profunda experiência de conversão e construído um relacionamento autêntico com Jesus. O presidiário da cela ao lado, um negro enorme, era cínico. Todas as noites o prisioneiro branco falava por entre as barras da prisão e falava ao seu companheiro sobre o amor de Jesus. O negro troçava dele; dizia que ele estava doente da cabeça, que a religião era o último refúgio dos insanos. Apesar disso, o prisoneiro branco passava-lhe passagens das Escrituras e repartia com ele os doces que recebia de algum parente. Durante o funeral do homem branco, quando o padre falou a respeito da vitória de Jesus na Páscoa, o robusto prisioneiro negro ergueu-se a meio do sermão, apontou para o caixão e disse:"Essse é o único Jesus que eu conheci".

Brennan Manning, in "A assinatura de Jesus"

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Flávia, vivendo em coma


«Este Blog, criado em Janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia, em coma vigil há mais de nove anos, e sua luta pela vida, desde que teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O que aqui escrevo, é o relato verídico dos fatos desde o acidente,ocorrido em 06.01.1998, até os dias de hoje. É um alerta sobre o perigo existente em ralos de piscinas. É um protesto contra a lentidão da justiça brasileira.»


Lanço aqui um apelo: visitem este blog e solidarizem-se com o drama desta mãe que tem a filha em coma há nove anos e que tem sido vítima de um sistema jurídico que por vezes se revela absurdamente burocrático, insensível e indiferente. Vamos orar por ela e passar-lhe uma mensagem de esperança, fé, coragem e confiança. Certamente que ela ficará agradecida, e nós muito mais enriquecidos com o nosso gesto.


A pessoa(http://sverdades.blogspot.com/) pela qual tive conhecimento do caso, enviou-me esta mensagem para divulgar: «O caso Cláudia, não está perdido. Mandem Mails a esta gente e não só: geral@embaixadadobrasil.pt
Mas não digas palavras doces. Carrega um bocadinho no português "marracónico": envergonha-os, que é o que eu faço. Pede a outros blogues que façam o mesmo.»

Obrigado pela vossa atenção e disponibilidade.


«Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou, dizendo: Minha filha acaba de falecer; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá. Levantou-se, pois, Jesus, e o foi seguindo, ele e os seus discípulos. E eis que certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, chegou por detrás dele e tocou-lhe a orla do manto; porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar-lhe o manto, ficarei sã. Mas Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquela hora a mulher ficou sã. Quando Jesus chegou à casa daquele chefe, e viu os tocadores de flauta e a multidão em alvoroço, disse; Retirai-vos; porque a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele. Tendo-se feito sair o povo, entrou Jesus, tomou a menina pela mão, e ela se levantou.» - Mateus 9; 18-25

domingo, 21 de outubro de 2007

As mulheres e a sua bela arte de amar


No livro "O Mestre do Amor", Augusto Cury escreve: «Como pesquisador do funcionamento da mente gostaria de corrigir um erro que existe há séculos nas sociedades modernas e primitivas que diz que as mulheres são mais frágeis do que os homens. As mulheres amam mais, são mais poéticas, mais sensíveis, doam-se mais e vivem mais as dores dos outros do que os homens(...) Pelo facto de terem uma emoção mais rica do que os homens, têm menos protecção emocional e, consequentemente, estão mais sujeitas a doenças emocionais. Elas adoecem mais no território da emoção porque navegam mais longe(...)


Quem foi mais forte, os discípulos ou as mulheres que seguiam Jesus? As mulheres!

As mulheres estavam a alguns metros da cruz de Cristo, observando cada gemido que dava e cada gota de sangue que vertia dos seus punhos e pés. Somente o jovem João estava lá. Pedro, Tiago, Bartolomeu, Felipe e todos os demais discípulos estavam recolhidos nas casas. Sufocados pelo medo, ansiedade e sentimento de culpa.João, quando descreve a crucificação de Cristo, nem cita o seu próprio nome, apenas se denomina como "o discípulo amado" (João 19, 26). Ao discorrer sobre essa passagem, ele e os demais escritores dos evangelhos prestam uma homenagem às mulheres. Como? Citando-as nominalmente: Maria, mãe de Jesus; Maria Madalena; Maria, esposa de Cloé; Salomé.

Porque é que as mulheres foram homenageadas? Porque elas aprenderam mais rápida e intensamente do que os discípulos a bela arte de amar. O amor tornava-as fortes. O amor tornava-as ousadas, mesmo diante do colapso da morte. Contemplar a morte de Jesus não era para qualquer pessoa. A cena era chocante. Só as pessoas fortes poderiam estar aos pés da sua cruz. Só o amor sólido era capaz de vencer o medo. Se não houver um amor sólido, teremos dificuldades para enfrentar determinados obstáculos e para estendermos as mãos a algumas pessoas.

Enquanto Jesus era o mais forte dos homens, os seus discípulos disputavam entre si quem era o maior e quem se sentaria à direita ou à esquerda do seu trono. Mas quando assumiu plenamente a condição humana e deixou de fazer milagres, eles fugiram. É fácil seguir um homem poderoso, mas quem se habilita a seguir um homem frágil e debilitado? As mulheres habilitaram-se. Elas passaram no teste do amor. Os homens foram reprovados. Temos de aprender com as mulheres a arte da sensibilidade(...)
Mas, Jesus não condenou os discípulos por o terem abandonado e nem exigiu nada deles, apenas os compreendeu. Nós somos rápidos para exigir e lentos para compreender. Eles desisitiram do seu Mestre, mas o Mestre não desistiu de nenhum deles.

Que Mestre é este que ensina as mulheres a refinar a arte de amar e que dá todas as oportunidades aos homens para educarem a sua emoção?
As mulheres passaram no teste do amor. Jesus era mais importante do que todo o ouro do mundo, mais importante do que o seu próprio medo. Nas turbulências revelamos quem somos.»

Augusto Cury, O Mestre do Amor

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Passar por cima das nossas feridas

Os humanos sofrem imenso. Muito, para não dizer a maior parte, do nosso sofrimento tem origem na relação com aqueles que nos amam. Estou constantemente ciente de que a minha agonia profunda provém, não dos terríveis eventos que leio nos jornais ou vejo na televisão, mas da relação com as pessoas com quem partilho a minha vida diária. São precisamente os homens e mulheres, que me amam e que estão muito perto de mim, os que me ferem.

À medida que ficamos mais velhos, geralmente vamos descobrindo que nem sempre fomos bem amados. Com frequência, os que nos amaram também nos usaram. Os que se interessaram por nós foram, por vezes, também invejosos. Os que nos deram muito, por vezes, exigiram também muito em troca. os que nos protegeram quiseram também possuir-nos nos momentos críticos. Habitualmente, sentimos a necessidade de esclarecer como e porque é que estamos feridos; e, com frequência, chegamos à alarmante descoberta de que o amor que recebemos não foi tão puro e simples como tínhamos julgado. É importante esclarecer estas coisas, especialmente quando nos sentimos paralizados por medos, preocupações e anseios obscuros que não compreendemos.

Mas compreender as nossas feridas não basta. Ao fim e ao cabo, temos que encontrar a liberdade para passar por cima das nossas feridas e a coragem para perdoar aos que nos feriram. O verdadeiro perigo está em ficarmos paralizados pela raiva e pelo ressentimento. Então começaremos a viver com o complexo do "ferido", queixando-nos sempre de que a vida não é "justa".

Jesus veio livrar-nos destas queixas auto-destrutivas. Diz Ele. "Põe de lado as tuas queixas, perdoa aos que te amaram mal, passa por cima da sensação que tens de seres rejeitado e ganha coragem para acreditar que não cairás no abismo do nada mas no abraço seguro de Deus cujo amor curará todas as tuas feridas."

Henri Nouwen, in "Aqui e Agora"

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Somos filhos amados de Deus

Durante a nossa curta vida, a questão que guia muitos dos nossos comportamentos é a seguinte:"Quem somos nós?" Raramente nos fazemos esta pergunta de maneira formal, contudo, vivemo-la muito concretamente nas decisões do nosso dia-a-dia. As três respostas que nós geralmente vivemos - e que não damos necessariamente - são: "Nós somos o que fazemos"; "nós somos o que os outros dizem de nós"; e "nós somos o que temos"; ou, por outras palavras: "Nós somos os nossos sucessos, a nossa popularidade e o nosso poder."

É importante compreender a fragilidade da vida que depende do sucesso, da popularidade e do poder. Essa fragilidade provém do facto de esses serem factores externos sobre os quais temos apenas controlo limitado. A perda do nosso emprego, da fama ou dos bens, tem frequentemente, como causa eventos totalmente fora do nosso controlo. Mas, quando dependemos deles, é como se nos tivéssemos vendido ao mundo, porque então somos o que o mundo nos dá. E a morte acaba por nos tirar tudo. E a sentença final então será: "Quando se morre, acabou!" , porque, quando morremos, mais nada podemos fazer, as pessoas não tornam a falar de nós e já nunca mais temos nada. Quando somos o que o mundo faz de nós, já não podemos ser depois de termos deixado o mundo.

Jesus veio anunciar-nos que uma identidade baseada nos sucesso, na popularidade e no poder é uma falsa identidade, uma ilusão! Diz Ele, alto e a bom som: "Vós não sois o que o mundo faz de vós, mas sois filhos amados de Deus."

Henri Nouwen, in "Aqui e Agora"

domingo, 14 de outubro de 2007

O Incomparável Amor de Deus



Jesus revelou que Deus é um Pai de incomparável ternura; que se tomássemos toda a bondade, sabedoria e compaixão dos melhores pais e mães que já viveram teríamos apenas uma sombra débil do amor e da misericórdia do coração do Deus redentor.

Deus é amor. Somos chamados por Jesus Cristo para uma amizade íntima na qual um dos participantes é um ser humano e o outro o eterno Deus. Somos convidados a um diálogo pessoal com o Deus que está incondicionalmente envolvido connosco. Na sua própria pessoa Jesus afirmou de forma radical que Deus não é indiferente ao sofrimento humano. Jesus é a Palavra de Deus ao mundo, dizendo. «Vê como eu te amo.»

«Já vos não chamarei servos... mas tenho-vos chamado amigos» (João 15, 15)
Santo Agostinho disse a respeito deste último versículo: «Um amigo é alguém que sabe tudo a teu respeito e ainda assim te aceita.»
Este é o sonho de que todos compartilhamos: conhecer um dia uma pessoa com quem possamos realmente conversar; que me compreenderá e às palavras que digo, e ouça mesmo aquilo que não é dito - e continue ainda assim a gostar de mim. Jesus Cristo é a realização desse sonho. Ele oferece-se a cada um de nós como companheiro de jornada, como amigo que é paciente connosco, gentil, nunca rude, rápido para perdoar e cujo amor não mantém registo de deslizes.

Brennan Manning, in "A assinatura de Jesus"

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Segue o teu chamamento mais profundo

Quando descobrires dentro de ti alguma coisa que é um dom de Deus deves apoderar-te dela e não deixar que te seja retirada. Por vezes as pessoas que não conhecem o teu coração nem se aperceberão da importância de algo que faz parte do teu ser mais profundo, precioso tanto aos teus olhos como aos de Deus. Talvez não te conheçam suficientemente bem para corresponder às tuas carências genuínas. É nesta altura que deves escutar o teu coração e seguir o teu chamamento mais profundo.

Uma parte de ti cede facilmente às exigências alheias. Assim que alguém questiona os teus motivos começas a duvidar de ti próprio. Acabas por concordar com o outro antes de teres consultado o teu próprio coração. Assim vais-te tornando cada vez mais passivo e assumes simplesmente que os outros é que sabem. Neste caso deves escutar com atenção o teu ser mais profundo. «Centrar-te» e «regressares a ti próprio» são expressões que indicam possuíres uma base interior sólida, a partir da qual podes falar e agir - sem desculpas - de forma humilde mas convincente.

Henri Nouwen, a voz íntima do amor

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Por enquanto guarda o teu tesouro


«O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.» - Mateus 13, 44

Descobriste um tesouro: o tesouro do amor de Deus. Agora já sabes onde está, mas ainda não estás preparado para o possuir inteiramente. Ainda estás tão dividido. Se possuísses completamente o teu tesouro deverias escondê-lo no terreno onde o encontraste, partir feliz, vender tudo o que tens e regressar para comprar esse campo. Podes sentir-te muito feliz por ter encontrado o tesouro. Mas não deves ser ingénuo ao ponto de pensar que és dono dele. Só quando te tiveres libertado de tudo o resto é que o tesouro poderá ser todo teu.

A descoberta do tesouro faz-te enveredar numa nova busca. A vida espiritual é uma procura longa e muitas vezes árdua do que já encontraste. Só podes procurar Deus quando já o encontraste. Desejar o amor incondicional de Deus é o fruto de ter sido tocado por esse amor.Dado que encontrar o tesouro é apenas o início da busca, tens que ser cauteloso. Se expões o teu tesouro a outros sem o possuíres completamente podes magoar-te e até mesmo perdê-lo. Um amor recém descoberto precisa de ser cuidado num lugar sossegado e íntimo. A exteriorização mata-o. É por isso que precisas de esconder o tesouro e despender a tua energia na venda dos teus bens de modo a puderes comprar o campo onde o escondeste.

Este é muitas vezes um empreendimento doloroso, por que a sensação de quem és está tão intimamente ligada a todas as coisas que possuis: sucesso, amigos, prestígio, dinheiro, graus académicos, etc. Mas tu sabes que nada te poderá satisfazer a não ser o tesouro. Descobrir o tesouro sem estar completamente preparado para ser inteiramente dono dele tornar-te-á inquieto. Esta é a inquietação na demanda de Deus. É o caminho da santidade. É a estrada para o Reino. É a caminhada para o lugar onde podes descansar.

Henri Nouwen, A voz íntima do amor

domingo, 7 de outubro de 2007

João, o poeta do Amor


No seu livro «O Mestre Inesquecível», o psiquiatra Augusto Cury, faz uma análise interessante e pertinente da personalidade do Apóstolo João - antes e depois de conhecer Jesus. Acredito que a sua análise do processo de transformação da personalidade de João é muito útil e proveitosa para cada um de nós.

«Todos têm um conceito de que João foi o mais dócil dos discípulos, o que não corresponde à realidade. Ele transformou-se ao longo da vida, num ser humano repleto de amor, mas, antes de encontrar Jesus e durante a sua caminhada com Ele, a sua emoção flutuava como um pêndulo. João era um adolescente. Tinha momentos de brandura alternados com reacções de intensa agressividade. Tinha momentos de simplicidade alternados com intolerância. Ele foi o único que propôs excluir os opositores».

Mas, paulatinamente, João começou a mudar, graças à sua convivência com o Mestre.

Ele «tinha uma enorme capacidade de observar detalhes. Fotografava os comportamentos de Jesus nos solos da sua memória como um fotógrafo profissional que observa luz, sombra, espaço. Desde cedo, percebeu que Jesus não tolerava a agressividade(...) Tinha de aprender a arte do perdão, a suportar críticas, a receber um "não", a enfrentar injustiças(...) João bebia continuamente da afectividade e da sabedoria de Jesus(...)

O tempo passou e foi contagiado pelo amor de Jesus. Começou a olhar as pessoas com os olhos do coração. Olhava-as além da cortina dos seus comportamentos. Passou a entender que, por detrás de uma pessoa agressiva, falsa, arrogante, havia alguém em conflito, que teve uma infância infeliz. Desse modo, a intolerância foi dando espaço à gentileza. O julgamento precipitado foi dando lugar à compreensão. A indiferença foi substituída pela sublime preocupação com a dor dos outros.Tinha aprendido a navegar noutras águas, nas águas da emoção.

Com Jesus, poderia enfrentar dificuldades maiores do que as tempestades do mar, mas a sua vida só teria sentido se estivesse ao lado do seu Mestre. João encorajou os cristãos a cortarem as amarras do egoísmo irracional e a aprenderem a doar-se uns aos outros como Jesus se doara a eles(...) Para João, quem não ama não conhece a Deus. Uma pessoa pode ter cultura teológica e aparente espiritualidade, mas se não amar, a sua vida é teatral e vazia. Para ele, o verdadeiro amor rompe a prisão do medo. Que tipo de medo? O medo do amanhã, do desconhecido, de ser criticado, de ser incompreendido, de empobrecer, de contrair doenças, de morrer, de ser punido por Deus.
O medo rouba a tranquilidade, mas o verdadeiro amor apazigua as águas da emoção e produz paz.»

O Mestre Inesquecível - Augusto Cury



O exemplo do Apóstolo João é paradigmático para todos os que humildemente reconhecem os seus defeitos, falhas, limites e imperfeições e desejam uma transformação profunda, verdadeira, construtiva.
Não podemos desfrutar do privilégio, do prazer e da alegria indescritíveis de estar na presença física do Mestre Jesus; de poder olhá-Lo nos olhos, senti o calor afectuoso do Seu abraço, ouvir a Sua voz pronunciar palavras de sabedoria, amor, perdão. Contudo, Jesus está vivo e a Sua presença pode ser sentida por todos os que humildemente O buscam, bebem avidamente das suas palavras e ensinamentos, e sentem a força, sabedoria e amor que emanam do Seu Espírito e penetram no coração de quem O recebe inteiramente.

Jesus ama-nos incondicionalmente. Quando tivermos bem conscientes e convictos desse amor que excede qualquer entendimento, então aí começa verdadeiramente o nosso processo de transformação. Num coração cheio de amor, não há lugar para o medo paralisante, o egoísmo sufocante, a intolerância irracional, o preconceito limitador...

Mas, a transformação é lenta, gradual - com avanços e recuos. Neste processo, não há milagres. Jesus nunca realizou o milagre da transformação instântanea de uma personalidade como a de João. Este processo exige paciência, perseverança e absoluta confiança no poder transformador e regenerador do Amor de Deus. Exige sobretudo muita oração, recolhimento, meditação na Palavra de Deus; e uma entrega sem medos, sem julgamentos, sem autocensura e autorecriminação. Temos de ter absoluta confiança que Deus é Amor e que nos ama incondicionalmente. Se aceitarmos esse Amor Gratuito de Deus, a transformação ocorrerá naturalmente; pois à medida que caminhamos com Deus e em Deus, com absoluta confiança no Seu Amor, Ele mesmo produzirá em nós a mudança profunda e íntima.


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Repete com frequência: "Senhor, tem piedade"


Interrogas-te sobre o que hás-de fazer quando atacado por todos os lados por forças aparentemente irresistíveis, ondas que te cobrem e querem derrubar-te. Por vezes estas ondas são o facto de te sentires desprezado, esquecido e incompreendido. Outras vezes são a raiva, o ressentimento ou mesmo o desejo de vingança. e por vezes autopiedade e autocensura. Estas ondas fazem-te sentir como uma criança indefesa, abandonada pelos pais. Que deves fazer?

Escolhe conscientemente desviar a atenção do teu coração ansioso dessas ondas e dirigi-la para Aquele que caminha sobre as águas e diz «Sou eu. Não tenhais medo!» (Mateus 14, 27; 6, 50; João 6, 20). Continua a desviar para Ele o teu olhar e a confiar que Ele trará a paz ao teu coração. Olha-o e diz: «Senhor, tem piedade.» Repete-o uma e outra vez, sem ansiedade, mas com a confiança de quem sabe que Ele está próximo de ti e aquietará a tua alma.

Henri Nouwen, A voz íntima do amor

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Confia nos teus amigos


Continuas à procura de provas de amizade, mas ao fazê-lo magoas-te a ti próprio. Quando dás alguma coisa aos teus amigos, não fiques à espera de uma resposta concreta, de um agradecimento.

Quando acreditas realmente ser amado por Deus podes conceder aos teus amigos a liberdade de responderem ao teu amor à sua maneira. Eles têm as suas próprias histórias, as suas próprias personalidades, as suas maneiras particulares de receber amor. Talvez sejam mais lentos, mais hesitantes e mais cautelosos do que tu. Talvez desejem estar contigo de formas reais e autênticas para eles mas invulgares para ti. Confia em que aqueles que te amam desejam demonstrar-te o seu amor de uma forma real, mesmo quando as suas escolhas de tempo, local e forma são diversas das tuas.

Muita da tua capacidade em confiar nos teus amigos depende da tua confiança na tua própria virtude. Quando ofereces uma dádiva espontaneamente não te preocupes com os teus motivos. Não digas a ti mesmo «talvez eu tenha dado este presente à espera de algo em troca. Talvez eu tenha dado este presente para forçar o meu amigo a uma intimidade que ele ou ela não deseja». Confia na tua intuição. Permite aos teus amigos a liberdade de responderem como desejam e de acordo com as suas capacidades. Deixa que a recepção deles seja tão livre como a tua oferta. Assim serás capaz de sentir verdadeira gratidão.

Henri Nouwen, a voz íntima do amor

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...