quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O AMOR DE DEUS

«O Amor vem de Deus e leva-nos para Deus para retornar a Ele através de nós e nos levar a todos de volta para Ele na corrente da sua infinita misericórdia.

Assim, todos nós passamos a ser portas e janelas através das quais a luz de Deus se reflecte no interior da sua própria casa.

Quando o amor de Deus está em mim, Deus é capaz de amar-te através de mim e tu és capaz de amar Deus através de mim. Se a minha alma estiver fechada a esse amor, o amor de Deus por ti, o teu amor a Deus e o amor de Deus por Ele próprio em ti e em mim, ficariam privados da expressão particular que encontra através de mim e de mais ninguém.

Porque o amor de Deus está em mim, ele pode chegar a ti desde uma direcção diferente e particular, que se encontraria fechada se Ele não vivesse em mim. E, porque o seu amor está em ti, pode chegar até mim desde uma direcção que não poderia tomar de qualquer outro modo. E porque está em ti e em mim, Deus recebe uma glória maior.
O seu amor exprime-se de mais duas maneiras nas quais não poderia exprimir-se de outro modo; isto é, em mais duas alegrias, que não poderiam existir sem Ele.»

Thomas Merton, em "Novas sementes de contemplação"

domingo, 26 de dezembro de 2010

NATAL...

Jesus, neste natal encontrar-nos-ás?...

Já houve um dia em que não tiveste lugar nas casas iluminadas da cidade...

Hoje, com as pernas e o Coração a Caminho,
procuro-te nas ruas enfeitadas,
nas luzes, nas montras, nos rostos,
nas mãos carregadas de presentes sem história…

Há passos apressados e sacos cheios de menoridades necessárias
que esvaziam as algibeiras
mas não vejo encherem muito os corações…
Há rostos pesados e cansados
de olhares em sobressalto
entre a mais recente promoção e os últimos nomes da lista…
Há embrulhos, laços, postais, música…

E há as crianças...

Sim, sempre elas, a dar o tom da Alegria
Sem outra preocupação senão descobrir a última novidade
no céu, no semáforo que fica intermitente
ou no rafeiro que está deitado à entrada de um prédio...

Há as crianças...

Porque a alegria da maior parte dos que não são como elas não me convence…
Estão preocupados demais
para poderem estar alegres.
Estão apressados demais
para saborearem os caminhos que percorrem.
Estão ocupados demais
para perguntarem o porquê dos gestos que fazem.

Parece-me que o natal lhes sai dos bolsos
mas não lhes entra no coração!


E depois, sem que se dêem conta,
o natal já passou.
E não ficou…

Porque inventámos um natal
onde ninguém precisa de nascer para que seja NATAL!
Porque já vai longe a lembrança
de que um dia um Menino nasceu,
antes de haver shoppings e cartões de crédito;
num país onde não havia um Pai Natal
que gostasse de andar atrelado a renas;
onde não havia pinheirinhos com luzinhas
nem se cantava Jinglebells…

E, apesar de faltar tudo isso,
consta que houve NATAL…
E hoje, apesar de haver tudo isso,
consta que não há tanto NATAL como as montras dizem…


Rui Santiago, Derrotar Montanhas

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

UMA NOITE ILUMINADA, A PARTIR DE DENTRO



«Se, nas nossas vidas, cada noite pudesse vir a ser como uma noite de Natal, uma noite iluminada, a partir de dentro...

Já não sabendo como fazer para ser compreendido,o próprio Deus veio à Terra, pobre e humilde:se Jesus Cristo não tivesse vivido no meio de nós, Deus permaneceria longínquo, inatingível. Pela sua vida, Jesus concede-nos a graça de ver Deus de forma transparente.»

Irmão Roger, de Taizé, em "Viver em tudo a paz do coração"

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

SÓ O AMOR É DIGNO DE FÉ

O filósofo Jean Guitton, na sua obra "As minhas razões de crer", coloca uma questão pertinente: "Que se passaria em mim se a minha fé diminuísse e se desvanecesse; se, como dizem as pessoas, «perdesse a fé»? (...)

Jean Guitton afirma que o famoso padre jesuíta Teilhard Chardin colocou a si mesmo esta questão, e respondeu, «que se deixasse de crer em Deus, no Deus cristão, e mesmo em Deus pura e simplesmente, continuaria a crer no Mundo.»

Quanto a mim, se eu «perdesse a fé», estaria em plena sintonia com Jean Guitton, pois «seria no amor ou, para ser mais exacto, no que existe de absoluto no amor, que eu creria.»

Faço minhas suas palavras: «Se eu tivesse vergado sob o peso do desespero e privado de toda a esperança encontraria, nesta loucura possível do amor, força suficiente para dar ainda alguns passos na estrada da dor.
Dito de outra forma, a ideia que me daria forças face à perda de tudo, seria a ideia de que existe talvez, algures, um ser capaz de amar com um amor infinito.
E então, mesmo que esse ser fosse único, parece-me que valeria a pena o mundo ser aceite, e que teria uma razão de ser, e que o homem teria uma razão para viver e também para morrer.(...)

Também me revejo nas palavras do padre Valensin citado na referida obra de J. Guitton:
«Se na hora da minha morte visse claramente que me espera o nada e que todas as crenças estão repletas de ilusão, não lamentaria absolutamente nada ter-me enganado toda a vida e ter crido na verdade do cristianismo, pois era o amor infinito que estaria errado por não existir, e não eu por ter acreditado nele.»

Por fim, para melhor exprimir tudo o que tentou dizer sobre esta questão, Jean Guitton recorre às palavras de São João Maria Vianney, que dizia: «Se na hora da morte me aperceber de que Deus não existe, terei sido bem enganado, mas não lamentarei o facto de ter passado a vida inteira a crer no amor.»

Jean Guitton, em "As minhas razões de crer"

domingo, 19 de dezembro de 2010

O PESO DO JULGAMENTO

«Imaginemos que não temos nenhuma necessidade de julgar ninguém. Imaginemos que não temos nenhuma vontade de decidir se alguém é boa ou má pessoa. Imaginemos que somos completamente livres de sentir e ajuizar sobre o tipo de comportamento, seja de quem for. Imaginemos-nos com a capacidade para dizer: «Não vou julgar ninguém!»

Imaginemos - não seria isto uma autêntica liberdade interior?
Os Padres do deserto do século IV diziam: «Julgar os outros é um fardo pesado.» Eu tive alguns momentos na vida em que me senti livre da necessidade de fazer qualquer juízo de valor acerca dos outros. Senti que me tinha sido tirado um peso dos ombros. Nesses momentos, experimentei um amor imenso por todos os que encontrei, por todos aqueles de quem ouvi algumas coisas e, sobretudo, por aqueles dos quais li algumas coisas. Uma solidariedade profunda com todos os povos e um profundo desejo de os amar desceram as paredes do meu íntimo e tornaram o meu coração grande como o universo.

Um desses momentos ocorreu depois duma passagem de sete meses por um mosteiro de Trapistas. Vivia tão inundado da bondade de Deus que via essa bondade onde quer que fosse, mesmo atrás das fachadas de violência, destruição e crime. Tive que me coibir de abraçar as mulheres e homens que me venderam géneros alimentícios, flores e um fato novo. É que todos me pareciam santos!

Todos podemos desfrutar destes momentos se estivermos atentos ao movimento do Espírito de Deus dentro de nós. São como amostras do céu, de beleza e de paz. É fácil descartar estes momentos como produto dos nosso sonhos ou da nossa imaginação poética. Mas, quando optamos por pedi-los como uma forma de Deus nos dar umas pancadinhas no ombro e de nos mostrar a verdade mais profunda da existência, gradualmente somos capazes de ultrapassar a necessidade de julgar os outros e a inclinação para ajuizar acerca de tudo e de todos. Então poderemos crescer rumo a uma verdadeira liberdade interior e a uma verdadeira santidade.

Mas, só poderemos pôr de lado o fardo pesado de julgar os outros quando não nos importamos de suportar o ligeiro peso de ser julgados!»

Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

UMA VIDA QUE BROTA DO ESPÍRITO

«É muito perigoso quando sentimos um orgulho idólatra e presunçoso (embora muito secreto) em nossa capacidade de obstinação, resolução e autodeterminação - mesmo em coisas boas como a oração, leitura bíblica ou serviço cristão.

A vida que Jesus veio trazer é uma vida que não depende da força de vontade. Brota do Espírito de Deus e activa e transforma nosso espírito. É uma vida baseada em infusão - o Espírito de Deus infunde meu espírito; os desejos mais profundos, os anseios e os sonhos de Deus tornam-se meus. É esse o caminho - e o único caminho - para a liberdade e a satisfação de preferir a vontade de Deus à minha.»

David G. Benner, em "Desejar a vontade Deus"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

UM CORAÇÃO PURO E LÍMPIDO

«A oração torna o coração puro. É este o começo da santidade. A santidade não é um luxo reservado a alguns: é um dom simples oferecido a vós e a mim.
Onde começa a santidade? Nos nossos corações. É por isso que temos necessidade da oração contínua para manter o coração puro e assim ele tornar-se-á sacrário do Deus vivo. (...)

Deixar o amor de Deus tomar posse do coração, de forma total e absoluta, torna-se para o coração como uma segunda natureza. Que o coração não deixe entrar nada nele que seja contrário ao amor de Deus; que se esforce continuamente por aumentar este amor de Deus ao procurar agradar-Lhe em tudo e não Lhe recusando o que Ele pede; que aceite, como vindo da mão de Deus, tudo o que lhe acontece; que tome a firme decisão de nunca cometer uma falta deliberada e conscientemente, mas se cair, que peça perdão e se levante imediatamente. Um coração assim reza continuamente.

O conhecimento de Deus produz o amor e o conhecimento de si próprio faz-se na humildade. A humildade é apenas a verdade. O que é que possuímos que não tenhamos já recebido? - pergunta São Paulo. Se recebi tudo, que bem é que tenho de mim mesmo? Se estamos convencidos disto, nunca ergueremos a cabeça com orgulho.
Se fordes humildes, nada vos tocará, nem o louvor nem o opróbrio, porque vós sabeis o que sois. Se vos culpam, não desanimareis. Se vos proclamam santo, não vos colocareis a vós próprios num pedestal. O conhecimento de nós próprios faz-nos ajoelhar.
Mudai os vossos corações...Não há conversão sem mudança de coração:mudar de lugar não é solução;mudar de actividade não é solução.A solução é mudar os nossos corações.E como os mudamos?Rezando.

Madre Teresa de Calcutá, em "Oração: Frescura duma fonte"

domingo, 12 de dezembro de 2010

CAMINHO ESTREITO


«Custa a crer que Deus nos revelaria a sua divina presença na vida de autodespojamento e humildade do Homem de Nazaré. Uma grande parte de mim procura influência, poder , sucesso e popularidade. Mas o caminho de Jesus é o do recato, da falta de poder e da pequenez. Não parece um caminho muito atraente. E, no entanto, quando penetrar na verdadeira, profunda comunhão com Jesus, descobrirei que é este caminho estreito que conduz à paz e à alegria verdadeiras.(...)

Continuo tão dividido. Desejo sinceramente seguir-te, mas quero igualmente seguir os meus próprios desejos e ainda dou ouvidos às vozes que falam de prestígio, de sucesso, de reconhecimento humano, de prazer, de poder e de influência. Ajuda-me a ficar surdo a essas vozes mais atento à tua voz, que me chama a escolher o caminho estreito...
Em todos os momentos da minha vida tenho que escolher o teu caminho. Tenho de escolher pensamentos que sejam os teus pensamentos, palavras que sejam as tuas palavras e acções que sejam as tuas acções.
Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas. E eu sei quanto resisto a escolher-te. »

Henri Nouwen, em "A caminho de Daybreak"

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

UM REFLEXO DE CRISTO

"Tu que aspiras a seguir Cristo Ressuscitado, questionas-te sobre o sinal que te permita perceber que já o encontraste. Serás capaz de compreender que Ele vive sempre nas profundezas de ti próprio, no mais íntimo do teu coração? (...)


Paira em nós um reflexo de Cristo. De nada serve procurar saber do que se trata. Existem na terra muitas pessoas em quem, sem elas o saberem e, porventura, sem se atreverem a acreditar nisso, resplandece a santidade de Cristo.»

Irmão Roger, de Taizé, em "Em tudo a paz do coração"

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DEUS NUNCA SE DECEPCIONA

«Somos moldados por todas as graças que recebemos, por todas as graças que recusámos,
por todos os gestos de amor e todos os gestos de ódio ou de indiferença,
pelos nossos fracassos e os nossos êxitos;
tudo, literalmente tudo se inscreve na nossa carne.

Assim, a experiência do amor de Deus por nós,
experiência que fazemos um dia (...),
não muda a nossa história nem o que nos moldou,
mas muda-nos porque nos revela que Deus nos ama,
tal como somos,
não tais como gostaríamos de ser,
não tais como a sociedade ou os nosso pais gostariam que fôssemos,
mas tais como somos hoje, com as nossas fragilidades, as nossas feridas,
os nosso medos, as nossas qualidades e os nosso defeitos.

Tais como somos hoje, somos amados por Deus.

E, se temos a impressão de que constantemente decepcionamos os outros,
que somos incapazes de corresponder às suas expectativas,
à sua confiança, às esperanças que depositaram em nós;
se temos o sentimento de que há uma distância
entre o que parecemos ser e o que somos na realidade,
entre aquilo que os outros pensam que somos capazes de fazer e o que podemos fazer de facto, então é preciso que saibamos que a Ele, o nosso Deus, jamais O decepcionaremos.

Ele conhece-nos exactamente.
Conhece o estranho mundo de trevas e luz que nos habita,
conhece melhor que nós esta mistura misteriosa que somos,
sabe aquilo de que somos capazes.
Os outros podem ser decepcionados por nós porque formam sonhos a nosso respeito
e nos projectam no ideal;
Deus nunca Se decepciona, porque aquele que ama, é aquele que eu sou hoje;
Deus não vive no futuro nem no passado mas sim no presente.
Ele "é" o presente e vê-me na minha realidade presente.»

Jean Vanier, em "A Fonte das Lágrimas"

domingo, 5 de dezembro de 2010

COM OS OUTROS

«Uma das descobertas que fazemos na oração é que, quanto mais nos aproximamos de Deus, mais perto ficamos de todos os nossos irmãos e irmãs da família humana.

Deus não é um Deus privado. O Deus que mora no nosso santuário íntimo é também o Deus que mora no santuário íntimo de cada ser humano. Reconhecendo a presença de Deus no nosso próprio coração, podemos também reconhecer essa presença no coração dos outros, porque o Deus que nos escolheu a nós como lugar de habitação também nos dá a capacidade de ver o Deus que habita nos outros. Se virmos só demónios dentro de nós mesmos, também só veremos demónios nos outros. Mas, quando vemos Deus dentro de nós, também podemos ver Deus nos outros.

Tudo isto poderá parecer sobremaneira teórico, mas, se orarmos, experimentaremos cada vez mais que somos parte da família humana, infinitamente atraída por Deus que a todos nos criou para partilhar da sua luz divina.

Com frequência, perguntamo-nos o que é que podemos fazer pelos outros, especialmente por aqueles que mais necessidades sentem. Não é nenhum sinal de fraqueza dizermos: «Devemos rezar uns pelos outros.»
Rezar uns pelos outros é, antes de mais, reconhecer, na presença de Deus, que pertencemos uns aos outros como filhos do mesmo Deus. Sem este reconhecimento de solidariedade humana, o que fizermos uns pelos outros não nascerá do que realmente somos.
Somos irmãos e irmãs, e não competidores ou rivais. Somos filhos de Deus, não seguidores de diferentes deuses.

Orar, isto é, escutar a voz daquele que nos trata como «muito amados», é aprender que essa voz não exclui ninguém. Onde eu moro, Deus mora comigo e onde Deus mora comigo encontro todos os meus irmãos e irmãs. E assim, a intimidade com Deus e a solidariedade com toda a gente são dois aspectos inseparáveis do mesmo viver, no momento presente.»

Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...