domingo, 26 de dezembro de 2010

NATAL...

Jesus, neste natal encontrar-nos-ás?...

Já houve um dia em que não tiveste lugar nas casas iluminadas da cidade...

Hoje, com as pernas e o Coração a Caminho,
procuro-te nas ruas enfeitadas,
nas luzes, nas montras, nos rostos,
nas mãos carregadas de presentes sem história…

Há passos apressados e sacos cheios de menoridades necessárias
que esvaziam as algibeiras
mas não vejo encherem muito os corações…
Há rostos pesados e cansados
de olhares em sobressalto
entre a mais recente promoção e os últimos nomes da lista…
Há embrulhos, laços, postais, música…

E há as crianças...

Sim, sempre elas, a dar o tom da Alegria
Sem outra preocupação senão descobrir a última novidade
no céu, no semáforo que fica intermitente
ou no rafeiro que está deitado à entrada de um prédio...

Há as crianças...

Porque a alegria da maior parte dos que não são como elas não me convence…
Estão preocupados demais
para poderem estar alegres.
Estão apressados demais
para saborearem os caminhos que percorrem.
Estão ocupados demais
para perguntarem o porquê dos gestos que fazem.

Parece-me que o natal lhes sai dos bolsos
mas não lhes entra no coração!


E depois, sem que se dêem conta,
o natal já passou.
E não ficou…

Porque inventámos um natal
onde ninguém precisa de nascer para que seja NATAL!
Porque já vai longe a lembrança
de que um dia um Menino nasceu,
antes de haver shoppings e cartões de crédito;
num país onde não havia um Pai Natal
que gostasse de andar atrelado a renas;
onde não havia pinheirinhos com luzinhas
nem se cantava Jinglebells…

E, apesar de faltar tudo isso,
consta que houve NATAL…
E hoje, apesar de haver tudo isso,
consta que não há tanto NATAL como as montras dizem…


Rui Santiago, Derrotar Montanhas

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