terça-feira, 29 de julho de 2008

O Cristianismo

«A linguagem do permitido e do proibido não é boa linguagem. O que é preciso é dizer o sentido. É preciso dizer o que é positivo. Se se dá sentido, se se diz o positivo, pode-se levar os outros pouco a pouco a mudarem de vida, mas não se se lhes dá a impressão de que o cristianismo é um juridicismo ou um moralismo. O cristianismo não é um moralismo: é um impulso, é um fogo! Como escreve Pasternak num dos seus romances: é onde a vida atinge o «o seu mais alto grau de intensidade».



(...) o cristianismo não é nem um sistema nem uma ideologia: o cristianismo é Alguém, é Cristo e, consequentemente, uma relação com Cristo, cuja própria pessoa é a verdade.» - (Olivier Clément, em "Taizé, um sentido para a vida")

domingo, 27 de julho de 2008

Um com Deus

«O máximo que o ser humano pode alcançar, de acordo com Evágrio, é tornar-se um com Deus na oração. Se o homem se torna um com Deus na oração, então ele será transformado na imagem intacta que Deus havia feito dele, então ele se torna verdadeiramente livre. Evágrio expressa esse estado de coisas do seguinte modo: "Quando um homem se despiu do velho homem e vestiu o novo homem, que é uma criação do amor, ele reconhecerá na hora da oração que seu estado se assemelha a uma safira, que brilha clara e luzente como o céu".

Na oração o ser humano se torna um com Deus, mas também com a imagem original de Deus nele. Segundo Evágrio, a vocação do homem consiste em "unir-se com Deus em conhecimento amoroso". E conclui seu livro 'Gnostikos' sobre o homem sábio e livre: "Não cesses de transformar tua imagem, para que se torne cada vez mais semelhante ao arquétipo".

Se na oração sou transformado mais e mais na imagem de Deus, então sou verdadeiramente livre. Então não existe mais ser humano que tem poder sobre mim, o mundo perdeu sua influência sobre mim. Então posso respirar livremente, experimento a Deus como fonte interior que me permeia, me vivifica. É a essa liberdade interior que se refere S. Bento quando fala do coração dilatado (dilatato corde), que o monge alcança por seu caminho espiritual. O coração dilatado é o coração livre. Ele está livre para dedicar-se a toda pessoa. A dilatação impede que o coração se prenda a alguma coisa. O coração dilatado assemelha-se ao coração trespassado de Jesus na cruz, ao qual toda pessoa tem acesso, no qual toda pessoa se sente acolhida, porque ali flui o amor divino, que é sem fim e sem limites." (Anselm Grün, em "Caminhos para a Liberdade")

sexta-feira, 25 de julho de 2008

AS LÁGRIMAS E O RISO

«O cristão crê no amor de Deus. Um amor que a confissão das suas tristes cobardias ou mesmo dos seus pecados graves não consegue repelir, desencorajar e abandonar. Para ele, não é possível o desprezo de si e o abatimento que ele provoca. O olhar divino reergue-o, como ao rapaz ressuscitado por Cristo.


Cristo não veio julgar e condenar. Veio salvar e resgatar. E a redenção é, em primero lugar, a Revelação, a revelação do inimaginável, do «indesanimável», do indestrutível amor do Pai. Amor do Pai traduzido pelos olhares de Cristo, tantas vezes evocados no Evangelho: «Ele olhou para ele e amou-o». O olhar de Cristo não é anónimo, impessoal - atinge o eu profundo de cada ser. Salva-se quem, ao encontrar esse olhar, reconhecer o seu pecado e o reprovar. O amor divino que, então, descobre e a que se entrega reconcilia-o consigo próprio, podendo finalmente amar-se com o amor de si sem o qual não pode viver; nele desperta e surge «o homem novo», na alegria da manhã de Páscoa. E fundem-se as lágrimas e o sorriso.» - (Henri Caffarel, em "Nas encruzilhadas do amor")

terça-feira, 22 de julho de 2008

A verdadeira relação com Deus

"Se o homem não se reconhece pecador, a sua relação com Deus resulta falsa.

(...) A verdadeira relação com Deus, a relação de verdade entre o homem e Deus é a relação de pecador perdoado com um infinito de amor e perdão. A distância entre o que somos e o Deus de amor que nos diviniza é infinitamente maior: dá-se entre um infinito de amor que perdoa e uma criatura que não só é finita mas ao mesmo tempo pecadora e perdoada.



O mais profundo que podemos dizer de Deus é que Ele é um poder infinito de perdão"

(François Varillon s.j. ,em "Alegria de Crer e de Viver")

domingo, 20 de julho de 2008

A Revelação de Jesus

"Não se descobriu outra «ciência» nem outra revolução para a transformação do homem a não ser aquela revelação trazida por Jesus:

- renunciar aos sonhos de omnipotência;

- reconhecer a incapacidade da salvação pelos meios humanos;

- tomar consciência da nossa miséria e fragilidade;

- entregar-nos confiada e incondicionalmente nas poderosas mãos de Deus;

- permitir dia após dia, abandonados com absoluta «passividade» nas Suas mãos, ser transformados desde as raízes.

(Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto")

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Comunhão


«Comunhão é o que Deus quer e também aquilo que nós queremos. É o grito mais profundo de Deus e do nosso coração, porque nós fomos criados com um coração que só se poderá satisfazer por Aquele que o criou. Deus imprimiu no nosso coração um anseio por comunhão que só Deus pode, e quer, satisfazer. Deus sabe-o; nós, raramente o sabemos.
Deus deseja a comunhão: uma unidade que é vital e que está viva, uma intimidade que provém de ambos os lados, uma ligação que seja verdadeiramente mútua.
Nada forçado ou «obrigado», mas uma comunhão livremente oferecida e recebida. Deus faz tudo o que está ao seu alcance para tornar possível essa comunhão. Deus faz-se criança dependente dos cuidados humanos, faz-se rapaz necessitado de orientação, faz-se mestre em busca de discípulos, faz-se profeta que clama por seguidores, finalmente, faz-se morto trespassado pela lança de um soldado e metido num sepulcro.

No fim desta história, está de pé e fita-nos, perguntando-nos com um olhar cheio de terna expectativa. «Tu amas-me?», e mais uma vez, «Tu amas-me?» e ainda uma terceira vez, «Tu amas-me?» (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?")

terça-feira, 15 de julho de 2008

Deus clama e anseia por ti




«Jesus é Deus-para-nós, Deus-connosco, Deus-dentro-de-nós. Jesus é Deus a dar-se completamente, a derramar-se sem reservas para nós. Jesus não se retrai nem fica agarrado àquilo que lhe pertence. Ele dá tudo o que tem para dar. "Comei, bebei, isto é o meu corpo, isto é o meu sangue...isto sou Eu para vós!"

A palavra que melhor exprime o mistério do amor de autodoação total de Deus é «comunhão». É a palavra que contém a verdade de que, em Jesus e através de Jesus, Deus quer, não só ensinar-nos, instruir-nos ou inspirar-nos, mas fazer-se um connosco. Deus deseja unir-se plenamente a nós de tal modo que todo o ser de Deus e todo o nosso ser possam unir-se num amor perdurável. Toda a longa história da relação de Deus com os seres humanos é uma história de comunhão cada vez mais profunda... é uma história em que Deus procura caminhos sempre novos para entrar em íntima comunhão com os que foram criados à imagem divina.
Dizia Agostinho: «A minha alma anda inquieta enquanto não repousar em vós, Senhor.» Ao examinar, porém, a tortuosa história da nossa salvação, apercebo-me que não somos só nós que ansiamos por pertencer a Deus: Deus também está ansioso por nos pertencer a nós. É como se Deus estivesse a clamar: «O meu coração anda inquieto enquanto eu não puder repousar em vós, minhas criaturas bem-amadas.»

Deus clama, pedindo para ser recebido por aqueles que lhe pertencem: «Eu criei-te, dei-te todo o meu amor, guiei-te, ofereci-te o meu apoio, prometi-te que se realizariam todos os anseios do teu coração: onde estás, qual é a tua resposta, onde está o teu amor? Eu não vou desistir, vou continuar a insistir. Um dia descobrirás como eu anseio pelo teu amor!» (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?"

domingo, 13 de julho de 2008

Convidar e acolher Jesus


«Quando se aproximaram da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Eles, porém, insistiam com Ele, dizendo: Fica connosco; porque é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.» (Lc 24, 28-29)

«Estamos mais inclinados a pensar que é Jesus quem nos convida a partilhar a sua casa, a sua mesa, a sua refeição. Jesus, porém, quer ser convidado. Se não o for, prosseguirá viagem, em busca de outros lugares. É muito importante percebermos que Jesus nunca nos força a aceitar a sua presença. A menos que nós o convidemos, continuará a ser um estranho, possivelmente um estranho muito atraente e inteligente, com quem podemos ter entabulado um diálogo interessante, mas que não deixa de ser um estranho...
Sem um convite, que é expressão do desejo de uma relação perdurável, a boa notícia que ouvimos não poderá dar frutos duradouros...
Só mediante um convite a «fica comigo» um encontro interessante se pode transformar numa relação transformadora.

Jesus é uma pessoa muito interessante; as suas palavras são cheias de sabedoria. A Sua presença aquece o coração. A sua bondade e doçura tocam-nos profundamente. A Sua mensagem constitui um forte desafio. Mas será que nós O convidamos para nossa casa? Porventura queremos que Ele venha conhecer-nos entre as paredes da nossa vida mais íntima? Porventura queremos apresentá-Lo a todas as pessoas com quem vivemos? Porventura queremos que Ele nos veja na nossa vida quotidiana? Queremos que Ele nos toque nos pontos em que somos mais vulneráveis? Porventura queremos que Ele entre na arrecadação de nossa casa, nessas divisões que nós próprios preferimos manter seguramente fechadas à chave? Desejamos verdadeiramente que Ele fique connosco quando vai caindo a noite e o dia já está no ocaso?» (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?")

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Poder da Palavra Divina



«...E disseram um para o outro: Porventura não nos ardia o coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos explicava as Escrituras?» (Lc 24:32). Leiam: Lucas 24:13-35

«Nós não podemos viver sem palavras provenientes de Deus, palavras capazes de nos arrancar da nossa tristeza e de nos elevar até um lugar a partir do qual possamos descobrir aquilo que estamos verdadeiramente a viver.
É importante saber que, embora essas palavras, proclamadas ou faladas, sirvam para nos informar, instruir ou inspirar, o seu primeiro significado é que elas tornam o próprio Jesus presente para nós.
Quando Jesus falou aos dois infelizes caminhantes e lhes explicou as palavras das escrituras que a Ele se referiam, os seus corações começaram a arder, ou seja, eles experimentaram a presença do Senhor. Ao falar da sua Pessoa, Jesus tornou-se presente para eles.

A palavra cria aquilo que exprime... Para Deus, falar é criar. Quando dizemos que a Palavra de Deus é sagrada, queremos dizer que a Palavra de Deus está cheia da presença de Deus. No caminho de Emaús, Jesus tornou-se presente através da Sua palavra, e foi essa presença que transformou a tristeza em alegria e o luto em dança...

A palavra proclamada ou falada pretende conduzir-nos à presença de Deus e transformar o nosso coração e a nossa mente...
O poder total da palavra reside, não na forma como a aplicamos à nossa vida depois de a termos ouvido, mas no seu poder transformador que faz o seu trabalho divino enquanto a escutamos.» - (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?")

terça-feira, 8 de julho de 2008

O Desejo de Deus

"A vida com Deus é uma permuta de orações: é, de ambas as partes, a expressão dum desejo. Deus exprime-nos o Seu desejo de nos ver plenamente homens, de nos ver atingir o mais alto nível de existência, a mais pura qualidade de ser. O mais terrível numa vida humana é tornar-se medíocre sem se dar conta disso. Deus diz-nos apenas uma coisa: sai da tua mediocridade, não te degrades, faz por atingir o mais alto nível humano! É este o Seu desejo e todo o Evangelho. Em troca, nós dizemos-Lhe o nosso desejo de que seja glorificado e de que a nossa santificação seja a Sua glória e a Sua alegria. S. Paulo diz-nos que devemos imitar a Deus. É este um ponto em que não podemos dispensar-nos de imitar o Deus que está eternamente em oração diante do homem." (François Varillon, em "Alegria de Crer e Viver)

domingo, 6 de julho de 2008

Sofrimento e Amor

"Para ser de Deus é necessário não ser de si mesmo. E para deixar de ser de si mesmo, é preciso arrancar-se de si mesmo. Mas este arrancar-se a si é precisamente o que nós chamamos sofrimento.


Todo o sofrimento pode ser entendido - e é esse o sentido que eu posso dar-lhe - como uma morte parcial, um esboço de morte. O sofrimento é o peão avançado da morte ao longo de toda a vida. A morte é a passagem do haver ao ser ou do egoísmo ao amor. Aqui, os termos são permutáveis entre si: o haver, é o egoísmo; o ser, o amor.
«Bem-aventurados os pobres» quer dizer: bem-aventurados aqueles que são e que amam. Tal como Deus. Para ser verdadeiramente, tenho de estar despojado do meu haver. Este despojamento é o sofrimento. E a morte final não é mais do que o fim deste movimento de expropriação que me lança fora de mim para que, não tendo já nada meu, eu seja todo de Deus e de Cristo, pura relação com o Outro e com os outros, o que vem a ser a definição mesma do amor. Mediante o qual eu poderei finalmente entrar no amor." - (François Varillon, em "Alegria de Crer e Viver")

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ser inteiramente amor


"Se não houvesse mais do que contemplar a Deus eternamente, como um bonito espectáculo ou uma linda obra de arte, uma purificação tão completa, tão total, queimando até à raiz do egoísmo, talvez não fosse absolutamente necesária. Mas, dado que o Deus vivo não é senão Amor, dado que a nossa vocação de homem é entrar n´Ele para viver para sempre a Sua Vida e ser capaz de amar como Ele ama, temos de admitir que nem um átomo de egoísmo pode subsistir aí, onde não há senão amor. É por isso que a alegria mais sublime, o que faz com que sejamos cristãos - não ser senão eternamente um com o amor infinito - leva necessariamente consigo a mais sublime exigência: ser eu mesmo inteiramente amor, ser puramente, isto é, unicamente amor, sem nenhuma atenção nem olhar nem encerramento sobre mim." (François Varillon, em "Alegria de Crer e Viver")

terça-feira, 1 de julho de 2008

Lava-pés


"Se pois eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis, também vós, lavar-vos os pés uns aos outros" (João 13, 13-14).

«O procedimento de Jesus é modelo para nós cristãos. Mas lavar os pés significa mais do que apenas servir um ao outro. Como Jesus devemos inclinar-nos aos irmãos e irmãs, tocando-os onde estão sujos, onde não conseguem mais aceitar nem a si próprios. Por meio do nosso amor devemos purificá-los. Quem se sente amado sente-se também limpo e puro. Ele pára de atormentar-se com seus sentimentos de culpa. O amor incondicional livra-o da autodepreciação e do autodesprezo.

Jesus pede aos seus discípulos um novo comportamento. Ele quer criar uma comunidade de amigos que prestem uns aos outros o serviço do lava-pés. Ele quer uma comunidade de irmãos e irmãs que se aceitem e amem e incondicionalmente, para que todos se sintam limpos e puros nessa comunidade, como se estivessem saindo de um banho completo: refrescados, perfumados, conscientes da sua beleza, exalando um perfume agradável.» (Anselm Grün, em "JESUS - Porta para a Vida")

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...