quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Esperança para os egoístas


“Ah. Vive mal quem só vive para si.”(Alfred de Musset)

«Sorrateiro como uma serpente ele sai da jaula facilmente. É feio, me envergonha, mas na maioria das vezes eu o amo ardentemente. É o que me distancia do meu Senhor. Ego, Ego, que grita mais alto que o Santo Espírito de Deus o qual então se recolhe no fundo da minha mente para não desrespeitar o meu livre arbítrio.
Ego, que me faz acreditar que eu posso comandar meu caminhar vacilante pela vida, crendo que sou capaz de chegar sozinho a algum lugar. Ego, que teima em reinar no coração de quem não aprendeu que é feliz aquele que permite que todas as coisas possam convergir para Deus.O difícil é alimentá-lo. É insaciável. Rouba-nos a paz, a alegria – tesouros tão preciosos da vida, colocados de lado em troca do ouro de tolo, chamado Ego.
Escravos dos aplausos, prisioneiros dos elogios. Jesus deseja nos libertar disso: “maior é o que serve”. Arrebentando com o poderoso Ego humano “como ovelha muda ele se entregou”, deixando que todas as coisas convergissem para o Pai, ninguém foi mais feliz que Jesus.
Matar o Ego. Aprender a viver é esquecer de si mesmo “quem perder a sua vida a achará”. Preciso urgentemente jogá-lo em um abismo que o deixe adormecido por todos os anos da minha existência. Não suporto mais sua fome de sucesso, poder e prestígio, e não quero saciá-la. Tenho fome de vida que é muito mais importante, pois traduzo vida como um prazer indescritível que, logicamente, não pode ser encontrado em mim ou no mundo, mas na fonte de todo o prazer: o Criador do maravilhoso projeto chamado “existência”.
Ah! De que me serve o Ego, se tudo que fizer sempre terminará em mim e eu sou absolutamente nada? Caminho para o nada se estiver sozinho. Se no trono da minha vida me vejo sentado, desconfio do meu reinado, pois não sei o que realmente quero ou o que deveria querer.Não preciso do Ego, não preciso do Eu governo, mas do Tu governas; não do Eu me amo, mas do Tu me amas. Não preciso viver para mim, mas para Ti ó Deus.»
João Eduardo Cruz, em "Como o Nascer do Sol"

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O Renascer da Esperança


Livro: Como o Nascer do Sol
Autor: João Eduardo Cruz
Editora: Premius





O meu amigo e irmão, João Eduardo Cruz, lançou recentemente este livro que fala de esperança. É um livro escrito com enorme sensiblidade, sabedoria e experiência e vivência da fé cristã. O Eduardo escreve sobre uma esperança verdadeira, fiel, segura e infalível fundamentada nas escrituras sagradas e que brota da Fonte da vida eterna - o Senhor Jesus Cristo.
O autor utiliza uma linguagem poética, sensível, afectuosa, acessível que fala ao coração(tocou profundamente o meu) e é um bálsamo para a alma.

O Pastor Armando Bispo da Cruz( autor do prefácio do livro) expressou de uma forma muito bela e sensível a essência e o espírito da obra:
«Raros são os livros capazes de transportar o leitor para além do produto intelectual do autor. Pesquisa, informação, bons argumentos e boa didáctica podem facilmente produzir uma obra literária que encanta o cérebro, mas que nem sempre atinge o mais profundo da nossa alma.
Falar com propriedade sobre esperança requer mais do que uma lógica literária, é preciso ter vivido a angústia do desespero, ter encontrado em algo ou alguém as respostas que calam a alma e, acima de tudo, a humildade de descrever a experiência na esperança de ajudar os que ainda não acreditam na possibilidade de um novo dia.
O autor além da sua sensibilidade marcante e quase poética, demonstra um profundo e inspirador relacionamento com o Cristo Vivo em cuja pessoa encontramos a base de toda esperança.
Uma sociedade marcada pelo medo e pelo desespero acaba produzindo monstros capazes de matar nossos sonhos e nos distanciar cada vez mais da esperança de uma vida melhor. Como o Nascer do Sol, é uma obra do coração para o coração, repleta de teologia prática alinhada com os valores do reino daquele que veio para dar esperança ao ferido, ao solitário, ao medroso, ao crente e ao descrente de tudo.
A linguagem afetiva e quase poética nos convida, capítulo por capítulo, a perceber a possibilidade concreta de conhecer e receber Cristo em nós, a esperança Eterna!»

Visitem o blog do meu amigo( basta clicar sobre o seu nome); e, para adquirirem o livro, é este o link:Premius

Em breve, se Deus quiser, irei postar alguns trechos do livro para o conhecerem melhor.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Rosto humano de Deus(2ªparte)

«Jesus introduziu profundas alterações no modo pelo qual vemos a Deus. Principalmente, trouxe Deus para mais perto.
Para os judeus que conheciam um Deus distante, inefável, Jesus trouxe a mensagem de que Deus se importa com a relva dos campos, alimenta os pardais, conta os cabelos da cabeça de uma pessoa. Se eu ficasse entregue a mim mesmo, acabaria tendo uma noção muito diferente de Deus. Meu Deus seria estático, imutável; eu não imaginaria Deus “indo” e “vindo”. Meu Deus controlaria todas as coisas com poder, extinguindo a oposição rápida e decisivamente. Como um garoto muçulmano contou ao psiquiatra Robert Coles: “Alá diria ao mundo, a todos: ‘Deus é grande, muito grande’ [...] Ele obrigaria todos a crer nele, e, se alguém se recusasse, morreria — isso é o que aconteceria se Alá viesse aqui”.

Por causa de Jesus, entretanto, tenho de ajustar as minhas noções instintivas acerca de Deus. (Talvez isso estivesse no cerne de sua missão?) Jesus revela um Deus que nos busca, um Deus que dá lugar à nossa liberdade mesmo quando isso custa a vida do Filho, um Deus vulnerável. Acima de tudo, Jesus revela um Deus que é amor.

Por nós mesmos, algum de nós chegaria à noção de um Deus que ama e deseja ser amado?

Os que foram criados na tradição cristã podem não alcançar o choque da mensagem de Jesus, mas na verdade o amor nunca foi uma maneira normal de descrever o que acontece entre seres humanos e o seu Deus. Por uma única vez o Alcorão aplica a palavra amor a Deus. Aristóteles declarou bruscamente: “Seria extravagante alguém declarar que ama a Zeus” — ou que Zeus amasse um ser humano, da mesma forma. Em fascinante contraste, a Bíblia cristã afirma “Deus é amor” e cita o amor como o motivo principal de Jesus vir ao mundo: “Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou o seu Filho unigénito ao mundo, para que por meio dele vivamos”. (I João 4, 9)»

Philip Yancey, em "O Jesus que eu nunca conheci"

domingo, 25 de novembro de 2007

O Rosto humano de Deus

Jesus é o revelador da natureza da Divindade(João 14, 9). Jesus é a completa expressão de Deus. Através dele como através de ninguém mais, Deus falou e agiu. Quem o encontrava era encontrado, julgado e salvo por Deus. É disso que os apóstolos davam testemunho. Neste Homem, na sua vida, morte ressurreição eles haviam experimentado Deus em acção.
Pois "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo"( II Coríntios 5, 19). Deus investiu-se por completo no Homem Jesus de Nazaré. Nele toda a sua plenitude habita. O que Deus é, Cristo é. "Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou" (João 12, 44). Jesus revela Deus sendo integralmente transparente para Ele. O que havia estado estado oculto em mistério está claro em Jesus - que Deus é amor. Nenhum homem ou mulher jamais amou como Jesus Cristo.


«Jesus foi experimentado como o momento revolucionário na história da humanidade. Ele transcendeu tudo o que fora dito e feito anteriormente. Ele era, em todos os sentidos, o definitivo, a última palavra. Seu Espírito era o Espírito de Deus. Seus sentimentos eram os sentimentos de Deus. O que ele defendia e representava era exatamente o mesmo que Deus defendia e representava. Nenhuma avaliação mais elevada era possível» - Albert Nolan

A pergunta, portanto, não é mais: Jesus de facto é semelhante a Deus?, mas: Deus de facto é semelhante a Jesus? Esse é o sentido tradicional da declaração de que Jesus é a Palavra de Deus. “Não é Deus que nos revela Jesus, é Jesus que nos revela Deus”. Não podemos deduzir nada sobre Jesus do que pensamos que sabemos a respeito de Deus; devemos deduzir tudo a respeito de Deus do que sabemos sobre Jesus.
Como aconteceu com Abraão, as imagens anteriores que tínhamos de Deus ficam para trás.

Brennan Manning, em "A assinatura de Jesus"

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O Caminho da Cruz

A palavra profética convoca incessantemente a igreja de volta à pureza do evangelho e ao escândalo da Cruz. Em suas numerosas cartas, Paulo reforça que seguir a Jesus é tomar a estrada principal até o Calvário. Entulhando as laterais da estrada para o Calvário jazem os esqueletos dos nossos egos, os cadáveres das nossas fantasias de controle e os estilhaços de justiça-própria, espiritualidade auto-indulgente e ausência de liberdade(...)
A Cruz, a assinatura de Jesus, é a expressão última do amor de Deus pelo mundo.
Ser cristão é ser como Cristo. Perder a vida de algum modo a fim de encontrá-la. O cristianismo prega não apenas um Deus crucificado, mas também homens e mulheres crucificados. "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo" (Gl 6:14). Não há discipulado sem Cruz. Não sou seguidor de Jesus se vivo com ele em Belém e Nazaré e não no Getsemani e no Calvário.

Brennan Manning, em "A assinatura de Jesus"

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A cruz e o ego

“Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” — (Mateus 16:24).

«O que é um “cristão”? Alguém que sustenta ser membro de alguma igreja terrena? Não. Alguém que crê num credo ortodoxo? Não. Alguém que adopta um certo modo de conduta? Não. O que, então, é um cristão? Ele é alguém que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Colossenses 2:6). Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e aprende dEle que é “manso e humilde de coração”. Ele é alguém que foi “chamado à comunhão do seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:9): comunhão em Sua obediência e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem fim. Não há tal coisa como pertencer a Cristo e viver para agradar a si mesmo. Não cometa engano neste ponto, “E qualquer que não tomar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27), disse Cristo. E novamente Ele declarou, “Mas aquele (ao invés de negar a si mesmo) que me negar diante dos homens (não “para” os homens: é a conduta, o caminhar, que está aqui em causa), também eu o negarei diante do meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:33).

O grande alvo, fim e tarefa posta diante do Cristão é seguir a Cristo seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2:21), e Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3). E há dificuldades no caminho, obstáculos na estrada, dos quais o principal é o ego. Portanto, este deve ser “negado”. Este é o primeiro passo para se “seguir” a Cristo.» - Arthur W. Pink, "A cruz e o ego" (site: Monergismo)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Proposta radical

«E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.» - Mateus 10, 38

«Em seguida dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me.» - Lucas 9, 23

«Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.» - Lucas 14, 27


«Não quero negar em momento algum que a pessoa de Jesus Cristo representa uma enorme ajuda para seus seguidores. Mas Ele traz consigo um desafio radical também. Tornei-me cristão não porque a fé cristã é atractiva, mas porque é verdadeira.» (John Stott)

«Estar crucificado implica três coisas: Primeiro, o crucificado tem os olhos sempre voltados para uma só direcção; segundo, ele não pode voltar atrás; terceiro, ele não tem mais planos próprios. » (A.W. Tozer, citando a frase de outro cristão)

«Gostamos de vitórias sem esforços: crescimento sem crise, cura sem dores e ressurreição sem a cruz.» - (Henri Nouwen)

«Desde o dia em que Jesus apareceu em cena desenvolvemos vastos sistemas teológicos, organizámos igrejas de alcance mundial, enchemos bibliotecas de brilhante erudição cristã, envolvemo-nos em controvérsias devastadoras e embarcámos em cruzadas, reformas e avivamentos. Ainda assim há pouquíssimos de nós com desatino suficiente para fazer a louca troca de tudo por Jesus; apenas um remanescente com a confiança de arriscar tudo no evangelho da graça; apenas uma minoria que cambaleia com a delirante alegria do homem que encontrou um tesouro enterrado.» - (Brennan Manning, em " O Evangelho Maltrapilho")

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Gravidade e Graça

Simone Weil concluiu que duas grandes forças governavam o universo: a gravidade e a graça. A gravidade leva um corpo a atrair outros corpos, de modo que aumenta continuamente, absorvendo mais e mais do universo em si mesmo. Alguma coisa igual a esta mesma força opera nos seres humanos. Nós também queremos nos expandir, adquirir, inchar significativamente. O desejo de "sermos como deuses", afinal, levou Adão e Eva a se rebelarem.
Emocionalmente, Weil concluiu: nós, humanos, operamos por meio de leis tão fixas quanto a lei de Newton. "Todos os movimentos naturais da alma são controlados por leis análogas às da gravidade física. A graça é a única exceção." Muitos de nós continuamos presos no campo gravitacional do amor-próprio e, assim, "tapamos as fissuras pelas quais a graça poderia passar"(...)

"Qual é a aparência de um cristão cheio de graça?".
A vida cristã, eu creio, não se centraliza principalmente em ética ou regras, mas, antes, envolve uma nova maneira de ver. Eu escapo da força da "gravidade" espiritual quando começo a ver a mim mesmo como um pecador que não pode agradar a Deus por nenhum método de autodesenvolvimento ou autoengrandecimento.
Então posso voltar para Deus para buscar ajuda de fora: a graça. E, para o meu próprio espanto, aprendo que um Deus santo já me ama apesar dos meus defeitos. Consigo escapar da força da gravidade novamente quando reconheço que os meus semelhantes também são pecadores amados por Deus. Um cristão cheio de graça é aquele que olha para o mundo por meio de "lentes tingidas de graça"(...)

Deus precisa de pessoas humildes (o que geralmente significa pessoas humilhadas) para realizar a sua obra. Qualquer coisa que nos faça sentir superiores às outras pessoas, qualquer coisa que nos tente a exibir um senso de superioridade é gravidade, e não graça(...)
Quando me sinto tentado a afastar-me horrorizado dos pecadores, das pessoas "diferentes", lembro do que deve ter sido para Jesus viver na terra. Perfeito, sem pecado, Jesus tinha todo o direito de ficar enojado com o comportamento daqueles que o cercavam. Mas não. Ele tratou pecadores notórios com misericórdia, e não com julgamentos.
Aquele que foi tocado pela graça não vai mais olhar para aqueles que se desviaram como "aquela gente ruim" ou "aquela pobre gente que precisa da nossa ajuda".
Nem devemos procurar sinais de "merecimento de amor". A graça ensina-nos que Deus nos ama pelo que Ele é, e não pelo que nós somos. Categorias de merecimento não valem nada.
Em sua autobiografia, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche falou da sua capacidade de "sentir o cheiro" das partes mais ocultas de cada alma, especialmente a "abundante sujeira escondida no fundo do carácter". Nietzsche foi um mestre da não-graça. Nós somos chamados para fazer o oposto, para sentir o cheiro dos resíduos do valor oculto.

Philip Yancey, em "Maravilhosa Graça"

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Deixa fluir a Graça de Deus

Estar vivo é estar incompleto. E estar incompleto é carecer da graça. A honestidade mantém-nos em contacto com a nossa carência e com a verdade de que somos pecadores salvos. Há uma belíssima transparência nos discípulos honestos que nunca usam uma máscara e não fingem ser nada além do que são. Ser honestos connosco não nos torna inaceitáveis para Deus.
A honestidade não nos distancia de Deus, mas leva-nos de arrasto para Ele - como nenhuma outra coisa consegue fazer - e deixa-nos abertos de forma renovada para o fluir da graça. Embora Jesus chame cada um de nós para uma vida mais perfeita, não somos capazes de fazê-lo pelos nosso próprios esforços. Estar vivo é estar incompleto; estar incompleto é carecer da graça. É através da graça apenas que qualquer um de nós pode ousar esperar tornar-se mais como Cristo.

Brennan Manning, em "O Evangelho Maltrapilho"

domingo, 11 de novembro de 2007

O Dom da Graça

Quanto tempo será necessário até que descubramos que não somos capazes de ofuscar a Deus com as nossas realizações?
Quando reconheceremos que não precisamos e não temos como comprar o favor de Deus?
Quando reconheceremos que não temos de forma alguma os requisitos necessários e aceitaremos alegremente o dom da graça?
Quando iremos apreender a empolgante verdade de Paulo: "sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus" (Gálatas2, 16)?

Oração
Senhor Jesus, somos ovelhas tolas
que ousaram pôr-se de pé na Tua presença
e tentar subornar-Te com os nossos ridículos portfolios.
De repente, caímos na realidade.
Sentimos muito e pedimos que nos perdoes.
Dá-nos a graça de admitir que somos maltrapilhos,
de abraçar a nossa condição de alquebrados,
de celebrar a Tua misericórdia
quando estivermos no nosso momento de maior fraqueza,
de depender da Tua misericórdia não importa o que façamos.
Querido Jesus, concede que deixemos de nos exibir
e de tentar receber atenções,
que coloquemos a Verdade em prática de modo sereno e sem afectação,
que deixemos dissiparem-se as desonestidades da nossa vida,
que aceitemos as nossas limitações,
que nos apeguemos ao evangelho da graça
e nos deleitemos no Teu amor.
Amén.

Brennan Manning, em «O Evangelho Maltrapilho»

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sem máscaras


Quando olha bem no íntimo
Através do teu sorriso
O que será que Deus vê?
Bem além da tua lógica
Bem atrás de toda a estética
O que será que Deus vê?
Um coração aflito, um espírito ferido
E uma alma já cansada de representar
Alguém desconfiado, sem um verdadeiro amigo
Com quem possa se abrir sem se envergonhar
Quando Deus te investiga
Bem no âmago da vida
Lá no teu eu verdadeiro
É que Ele quer por inteiro
Transformar a tua essência
Num baptismo de alegria
Verdadeiramente livre te fazer


Poema extraído de "outra espiritualidade" de Ed René Kivitz e atribuído a uma canção de Alisson.


«Se tiveres consciência do que és interiormente, não te importarás com o que os homens dizem de ti; pois enquanto os homens vêem as aparências exteriores, Deus vê o teu coração. Os homens vêem as tuas obras, mas Deus vê os teus motivos.» - Thomas Kempis

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Para reflectir...

"O cristianismo consiste primariamente não naquilo que fazemos para Deus, mas no que Deus faz por nós- as coisas maravilhosas e grandiosas que Ele concebeu e alcançou para nós em Cristo Jesus" - Brennan Manning, em «O impostor que vive em mim»

"A vida é uma dança na direcção de Deus, começo a pensar. E a dança não é tão graciosa quanto desejaríamos. Enquanto deslizamos e rodopiamos, com nossos passos ensaiados, Deus atrapalha os nossos pés, pisa os nossos dedos e raspa nos nossos sapatos. Então, aprendemos a dançar com Aquele que nos criou. E é uma dança díficil de aprender, porque os Seus passos são estranhos" - Donald Miller

"Para sermos perfeitamente o que Deus quer que sejamos, é-nos preciso ser com toda a verdade nós mesmos. Mas, para sermos nós mesmos, de verdade, temos que encontrarmo-nos em Cristo - o que só pode acontecer se nos perdermos Nele. É esta a nossa grande vocação" - Thomas Merton, em «Espiritualidade, Contemplação e Paz»

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A lei e a graça

«Mas agora fomos libertos da lei, havendo morrido para aquilo em que estávamos retidos, para servirmos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.» - Romanos 7, 6

«A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei(...) O amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei.»- Romanos 13; 8, 10

«Não sou o que eu devo ser. Não sou o que desejo ser. Não sou o que espero ser. Mas posso dizer com verdade: não sou o que eu era. Pela graça de Deus, sou o que sou.»- John Newton

Um dos melhores livros cristãos que li (e continuo a ler) até hoje e que me ajudou a compreender o cerne da mensagem do evangelho, é "Maravilhosa Graça" de Philip Yancey. Muitos de vós já devem ter lido este livro, e espero sinceramente que tenham aprendido lições valiosas e essenciais através dele. Eu aprendi muito com ele, e gostaria de partilhar convosco mais alguns excertos sobre uma questão de crucial importância para todos os seguidores de Cristo.

«Certa vez li que, proporcionalmente, a superfície da terra é mais lisa do que uma bola de bilhar. As alturas do Monte Evereste e as profundezas do Oceano Pacífico são muito impressionantes para aqueles que vivem neste planeta. Mas vistas de Andrómeda, ou mesmo de Marte, essas diferenças não fazem a menor diferença. É assim que agora vejo as mesquinhas diferenças comportamentais entre um grupo cristão e outro. Comparadas com um Deus santo e perfeito, o mais elevado Evereste de regras não passa de um montículo de terra. Não podemos obter a aceitação de Deus escalando; temos de recebê-la como um presente. Jesus proclamou, sem sombra de dúvida, que a lei de Deus é tão perfeita e tão absoluta que ninguém pode alcançar a justiça. E, por outro lado, a graça de Deus é tão grande que não temos de alcançá-la. Tentando provar como merecem o amor de Deus, os legalistas perdem o ponto principal do evangelho, que é o dom de Deus às pessoas que não o merecem. A solução para o pecado é deixar de impor um código cada vez mais restrito de comportamento. É conhecer a Deus

Como já vivi na pele a experiência de viver no seio de uma religião fundamentada em aspectos exteriores e regras de homens, entendo intima e profundamente as palavras de um homem que durante toda a sua vida lutou contra o legalismo.

«Leão Tolstói, que batalhou contra o legalismo toda a sua vida, entendia as fraquezas de uma religião fundamentada nos aspectos exteriores. O título de um dos seus livros fala disso: The Kingdotn of Godls Within You [O reino de Deus está dentro de ti]. De acordo com Tolstói, todos os sistemas religiosos têm a inclinação de promover regras exteriores, ou moralismo. Em contraste, Jesus recusou definir um conjunto de regras que os seus seguidores pudessem então cumprir com um senso de satisfação.

Tolstói traçou um contraste entre o método de Jesus e o de todas as outras religiões:

"A prova da observância dos ensinamentos religiosos exteriores é se a nossa conduta se conforma ou não com os seus decretos (como, por exemplo, guardar o sábado, dar o dízimo ou ser circuncisado). Tal conformidade realmente é possível. A prova da observância dos ensinamentos de Cristo é nossa consciencialização dos fracassos em atingir uma perfeição ideal. O grau em que nos aproximamos dessa perfeição não pode ser visto; tudo o que podemos ver é a extensão do nosso desvio. Um homem que professa uma lei externa é como alguém de pé à luz de uma lanterna fixa num poste. É uma luz que o envolve todo, mas não há mais nenhum lugar para ele andar. Um homem que professa os ensinamentos de Cristo é como um homem que carrega uma lanterna: a luz está diante dele, sempre iluminando um pedaço de chão novo e sempre encorajando-o a caminhar mais. Por outras palavras, a prova da maturidade espiritual não é quanto estamos "puros", mas, sim, a consciencialização da nossa impureza. Essa mesma consciencialização abre a porta para a graça." - Leão Tolstoi».

Philip Yancey, em "Maravilhosa Graça"

domingo, 4 de novembro de 2007

Assume a vitória


Ainda tens medo de morrer. O medo está relacionado com o receio de não seres amado. As tuas perguntas: «Amas-me?» e «Tenho que morrer?» estão profundamente ligadas. Interrogavas-te quando eras criança e ainda te interrogas.

À medida que te capacitas de seres completa e incondicionalmente amado, também te apercebes que não tens que temer a morte. O amor é mais forte que a morte; o amor de Deus já te envolvia antes de teres nascido e permanecerá após a tua morte.Jesus chamou-te desde o momento da tua concepção no ventre da tua mãe. É a tua vocação para receber e dar amor.

Mas sentes desde o princípio a força da morte. Ela atacou-te durante todo o teu amadurecimento. Tens sido fiel à tua vocação, ainda que muitas vezes te tenhas sentido esmagado pelas trevas. Sabes agora que essas forças soturnas não terão nenhum poder final sobre ti. É a vitória de Jesus que te chamou. Ele venceu por ti as forças da morte para que tu pudesses viver em liberdade.

Tens que assumir essa vitória e não viver como se a morte ainda te controlasse. A tua alma conhece essa vitória, mas a tua mente e as tuas emoções ainda não a aceitaram completamente. Continuam a lutar. Neste aspecto continuas a ser uma pessoa de pouca fé. Confia na vitória e deixa que as tuas emoções e a tua mente se convertam gradualmente à verdade. Experimentarás nova alegria e nova paz à medida que deixares essa verdade chegar a cada canto do teu ser. Não te esqueças: a vitória foi conquistada, as forças da morte já não governam, o amor é mais forte do que a morte.

Henri Nouwen, em " A voz íntima do amor"

sábado, 3 de novembro de 2007

Capacita-te de que és bem-vindo

O que mais receias é não ser bem-vindo. Isto está ligado ao receio inato que trazes desde o nascimento, o receio de não seres bem recebido nesta vida, e o teu medo da morte, medo de não seres bem recebido na vida depois desta. É o medo arraigado de que teria sido melhor se não tivesses nascido.
Aqui enfrentas o cerne da batalha espiritual. Irás ceder às forças das trevas, que afirmam não seres bem-vindo a esta vida, ou és capaz de confiar na voz daquele que veio não para te condenar mas para te libertar do medo? Tens que escolher a vida. Em cada momento tens que confiar na voz que afirma: «Eu amo-te. Eu plasmei-te no seio da tua mãe» (Salmo 139, 13).

Tudo o que Jesus te está a dizer pode ser resumido nestas palavras «acredita que és bem-vindo». Jesus oferece-te a sua vida mais íntima com o Pai. Ele quer que saibas tanto quanto Ele e faças tudo o que Ele faz. Ele quer que a sua casa seja a tua. Sim, Ele quer preparar um lugar para ti na casa do seu Pai.

Tem sempre presente que os teus sentimentos de seres indesejável não provêm de Deus e não falam verdade. O Príncipe das Trevas crê que a tua vida é um erro e que não há lugar para ti. Mas sempre que deixas estes pensamentos afectarem-te, enveredas pelo caminho da autodestruição. Por isso tens que continuar a desmascarar a mentira e a pensar, falar e agir de acordo com a verdade de seres muito, muito bem-vindo.

Henri Nouwen, em "A voz íntima do amor"

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Henri Nouwen e o seu amigo Adam


O autor cristão com mais textos publicados no meu blog, é o sacerdote Henri Nouwen. Creio que os textos que postei são muito apreciados e têm tocado o coração de alguns visitantes deste cantinho. Mas, quem é o homem por detrás dessas reflexões espirituais sobre Deus e a vida cristã? Convido-vos a conhecer um pouco melhor este sacerdote através das palavras de outro autor cristão sobejamente conhecido - Philip Yancey( foi através deste autor que li pela primeira vez algo sobre Henri Nouwen).

Bem-aventurados os misericordiosos. Aprendi a verdade dessa beatitude com Henri Nouwen, sacerdote que ensinava na Universidade de Harvard. No auge da carreira, Nouwen mudou-se de Harvard para uma comunidade chamada Daybreak, perto de Toronto, a fim de assumir as tarefas exigidas por sua amizade com um homem chamado Adam. Nouwen agora serve não aos inte­lectuais, mas a um jovem considerado por muitos uma pessoa inútil que deveria ter sido abortada.

Nouwen descreve seu amigo:

«Adam é um homem de 25 anos de idade que não consegue falar, não consegue vestir-se, nem tirar a roupa, não pode andar sozinho, não pode comer sem ajuda. Ele não chora nem ri. Apenas às vezes faz contato com os olhos. As costas são deformadas. Os movimentos dos braços e das pernas são distorcidos. Ele sofre de severa epilepsia e, apesar de pesada medicação, raros dias se passam sem ataques do grande mal. Às vezes, quando fica subitamente rígido, emite um gemido imenso. Em algumas ocasiões já vi uma grande lágrima rolar por sua face.
Levo cerca de hora e meia para acordar Adam, dar-lhe medicação, carregá-lo até ao seu banho, lavá-lo, barbeá-lo, escovar seus dentes, levá-lo à cozinha, dar-lhe o café da manhã, colocá-lo na sua cadeira de rodas e levá-lo até ao lugar onde passa a maior parte do dia com exercícios terapêuticos.»

Numa visita a Toronto, observei-o na sua rotina com Adam, e devo admitir que tive uma dúvida passageira quanto a ser aquele o melhor emprego da sua vida. Eu ouvira Henri Nouwen falar e lera muitos dos seus livros. Ele tinha muita coisa a oferecer. Outra pessoa não poderia assumir a tarefa servil de cuidar de Adam? Quando cautelosamente mencionei o assunto com o próprio Nouwen, ele me informou que eu interpretara de todo erradamente o que estava acontecendo. “Não estou desistindo de nada”, ele insistiu. Sou eu, não o Adam, quem recebe os principais benefícios de nossa amizade.”
Então Nouwen começou a enumerar para mim todos os benefícios que obtivera. As horas passadas com Adam, disse, deram-lhe uma paz interior tão satisfatória que fez com que a maioria de suas outras tarefas intelectuais parecessem enfadonhas e superficiais por contraste. No começo, quando se assentava com esse homem-criança desamparado, percebia como a busca do sucesso na academia e no ministério cristão era obsessiva e marcada pela rivalidade e pela competição. Adam lhe ensinara que “o que nos torna humanos não está na nossa mente mas no nosso coração, não é a nossa capacidade de pensar, mas a nossa capacidade de amar”.

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...