segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Quem é o meu próximo?


Jesus conta a célebre parábola do "Bom Samaritano" ( Lucas 10:25-37), em resposta a "um certo doutor da lei" que deseja testá-lo com a sua erudição e interpretação da lei.
Dallas Willard escreve: "A ocasião aqui é aquela em que um intérprete da lei está testando a correcção doutrinária de Jesus e acaba caindo na sua própria armadilha. Tendo concordado com Jesus em que para "herdar a vida etena" é preciso amar o próximo como a si mesmo, ele acaba achando essa exigência mais rigorosa do que desejaria. (...)
O "intérprete" então, à maneira dos eruditos, tenta livrar-se da armadilha fazendo uma pergunta capciosa: "Quem é o meu próximo?"(...) Ele estava tentando justificar-se porque certamente sabia que não amava os seus próximos como a si mesmo.(...)

Jesus narra a história de forma tão magistral que o samaritano só entra já perto do final, antes que as portas da mente se possam fechar. O samaritano personifica perfeitamente a resposta à pergunta capciosa do intérprete - quem é o meu próximo? - e ao mesmo tempo destrói as suposições gerais a respeito de quem "logicamente" herda a vida eterna(...)

Quando Jesus afinal faz a pergunta decisiva - "Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu na mão dos salteadores?" -, qualquer pessoa decente só tem uma resposta a dar(...) Assim, o intérprete teológico responde: "O que usou de misericórdia para com ele". Para ele seria demais dizer apenas: "o samaritano".
Mas nós precisamos dizê-lo, e precisamos compreender o que isso significa.

Significa que as suposições gerais dos ouvintes de Jesus sobre quem tem vida eterna precisam ser revistas à luz da condição dos corações das pessoas. O relato não ensina que podemos ter vida eterna apena por amar o nosso próximo. Também não podemos nos safar com esse belo legalismo. A questão da nossa postura diante de Deus ainda precisa ser levada em conta. Mas na ordem de Deus nada pode substituir o amor pelas pessoas. E definimos quem é o nosso próximo pelo nosso amor. Fazemos de alguém o nosso próximo cuidando dele.

Não definimos uma classe de pessoas que serão os nossos próximos para depois elegê-los objectos exclusivos do nosso amor - deixando os outros estirados na estrada. Jesus habilmente rejeita a pergunta - "Quem é o meu próximo?" -e a substitui pela única pergunta realmente relevante aqui:" De quem serei eu o próximo?". E Ele sabe que só podemos responder a essa pergunta caso a caso no nosso dia-a-dia. De manhã ainda não sabemos quem será o nosso próximo naquele dia. A condição do nosso coração irá determinar quem é que, ao longo do caminho, será o nosso próximo, e principalmente a nossa fé em Deus é que determinará se teremos força bastante para fazer desta ou daquela pessoa o nosso próximo.

No relato do bom samaritano, Jesus não só nos ensina a ajudar os necessitados; num nível mais profundo, Ele nos ensina que não podemos identificar quem "tem a vida eterna", quem "está com Deus", quem é "bem-aventurado" só por olhar as aparências. Pois esta é uma questão do coração. Só ali o reino dos céus e os reinos humanos, grandes e pequenos, estão entrelaçados. Estabeleça as fronteiras culturais e sociais que quiser, e Deus dará um jeito de atravessá-las.

"O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (1Sm 16:7). E "Aquilo que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus" (Lc 16:15).

Dallas Willard, em "A Conspiração Divina"

2 comentários:

Maria João disse...

No final haverá muitas surpresas. Os últimos serão os primeiros.

beijos em Cristo

Éverton Vidal Azevedo disse...

Que texto interessante mano. Simplesmente alargou minha visao, abriu novos caminhos, novas formas de enxergar o texto.

Obrigado pelo link. Mande-me outros, nem sempre temos tempo pra fuçar os interessantíssimos textos dos blogs que lemos. É uma pena.

Abraçao.
Inté!

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