sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A boa infecção

(...)No cristianis­mo, Deus não é um ente estático - nem mesmo uma pessoa estática -, mas uma actividade pulsante e dinâmi­ca; é uma vida dotada de grande complexidade interna. É quase -por favor, não me julguem irreverente - como uma dança. A união entre o Pai e o Filho é algo tão vivo e concreto que ela mesma é também uma pessoa. (...)

(...) Aquilo que nasce da vida conjunta do Pai e do Filho é uma pes­soa real; é, com efeito, a terceira das três pessoas de Deus. Essa Terceira Pessoa é chamada, em linguagem téc­nica, de Espírito Santo ou "Espírito de Deus". Não se preocupe nem se surpreenda se achar essa pessoa mais vaga e misteriosa que as outras duas. Penso que existe uma razão para que isso aconteça. Na vida cristã, nós não costumamos olhar para ele. Ele está sempre agindo através de nós. Se você imagina o Pai como algo que está "fora", à sua frente, e imagina o Fi­lho como alguém que está ao seu lado, ajudando-o a orar, tentando fazer de você também um filho de Deus, então tem de conceber a terceira pessoa como algo dentro de você, ou atrás de você. Talvez algumas pessoas achem mais fácil começar pela terceira pessoa e fazer o caminho inverso. Deus é amor, e esse amor opera atra­vés dos homens — especialmente através de toda a co­munidade cristã. Mas esse espírito de amor é, desde toda a eternidade, um amor que se dá entre o Pai e o Filho.

Bem, e qual a importância disso? É a coisa mais im­portante do mundo! A dança, o enredo dramático ou a complexidade interna dessa vida tripessoal deve se de­senrolar dentro de cada um de nós. Vendo a questão do outro lado, cada um de nós tem de penetrar nessa com­plexidade interna, assumir seu lugar nessa dança. Não existe outra maneira de se alcançar e usufruir a felici­dade para a qual fomos criados. Saiba você que não só as coisas más, mas também as boas, são contraídas como uma espécie de infecção. Se você quer aquecer-se, tem de se aproximar do fogo; se quer molhar-se, tem de ir para debaixo d'água. Se quer a alegria, o poder, a paz e a vida eterna, tem de se aproximar ou mesmo penetrar naquilo que as contém. Essas coisas não são prémios que Deus poderia, se quisesse, simplesmente conceder a qual­quer pessoa. São uma grande fonte de energia e de be­leza que jorra a partir do próprio centro da realidade. Se você estiver próximo da fonte, as rajadas de água o mo­lharão; se se mantiver afastado, continuará seco. Quan­do o homem está unido a Deus, como poderia não vi­ver para sempre? Quando está separado de Deus, o que pode fazer senão definhar e morrer?(...)

(...)A ofer­ta que o cristianismo faz resume-se no seguinte: se dei­xarmos Deus agir, poderemos vir a compartilhar da vida de Cristo. Então, partilharemos de uma vida que foi gerada, não criada; uma vida que sempre existiu e sem­pre existirá. Cristo é o Filho de Deus. Se participarmos desse tipo de vida, também seremos filhos de Deus. Amaremos o Pai como o Filho o ama, e o Espírito San­to despertará em nós. Cristo veio a este mundo e se fez homem a fim de disseminar nos outros homens o tipo de vida que Ele possui - por meio daquilo que chamo de "boa infecção". Todo cristão deve tornar-se um peque­no Cristo. O propósito de se tornar cristão não é outro senão esse.



C.S. Lewis, em "Cristianismo puro e simples"

1 comentário:

eng, panerai disse...

Ser cristão é ser alegre e dinâmico.
bom final de semana!!
alexandre

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