terça-feira, 4 de setembro de 2007

A absoluta importância do motivo

A prova pela qual toda conduta será finalmente julgada é o motivo. Como a água não pode subir mais alto do que o nível da sua fonte, assim a qualidade moral de um acto nunca pode ir mais alto do que o motivo que o inspira. Por esta razão, nenhum acto procedente de um mau motivo pode ser bom, ainda que algum bem possa parecer provir dele. Toda a acção praticada por ira ou despeito, por exemplo, ver-se-á afinal que foi praticada pelo inimigo e contra o reino de Deus. Infelizmente, a natureza da actividade religiosa é tal que muita coisa dela pode ser levada a efeito por razões não boas, como a raiva, a inveja, a ambição, a vaidade e a avareza.

Nesta questão de motivos, como em muitas outras coisas, os fariseus dão-nos claros exemplos. Eles continuam sendo os mais tristes fracassos religiosos do mundo, não por causa de erro doutrinário, nem porque fossem pessoas de vida abertamente dissoluta. Todo o problema deles estava na qualidade dos seus motivos religiosos.
- Oravam, mas para serem ouvidos pelos homens, e deste modo o seu motivo arruinava as suas orações e as tornava não somente inúteis, mas realmente más.
- Contribuíam generosamente para o serviço do templo, mas às vezes o faziam para escapar do seu dever para com os seus pais, e isto era um mal, um pecado.
- Eles condenavam o pecado e se levantavam contra ele quando o viam nos outros, mas o faziam por sua justiça própria e por sua dureza de coração.
Assim era com quase tudo o que faziam. Suas actividades eram cercadas de uma aparência de santidade, e essas mesmas actividades, se realizadas por motivos puros, seriam boas e louváveis. Toda a fraqueza dos fariseus jazia na qualidade dos seus motivos. Que isso não é uma coisa pequena infere-se do facto de que aqueles religiosos formais e ortodoxos continuaram na sua cegueira até que finalmente crucificaram o Senhor da glória sem um pingo de noção da gravidade do seu crime.

Actos religiosos praticados por motivos vis são duplamente maus - maus em si mesmos e maus porque praticados em nome de Deus. Isso é equivalente a pecar em nome d'Aquele Ser que é sem pecado, a mentir em nome d'Aquele que não pode mentir, e a odiar em nome d´Aquele cuja natureza é amor. Os cristãos, especialmente os muito activos, frequentemente devem tomar tempo para sondar as suas almas para certificar-se dos seus motivos. Muito cântico é cantado para exibição; muito sermão é pregado para mostrar talento; muita igreja é fundada como uma bofetada nalguma outra igreja. Mesmo a actividade missionária pode tornar-se competitiva, e a conquista de almas pode degenerar, passando a ser uma espécie de plano de vendedor de escovas, para satisfazer a carne. Não se esqueçam, os fariseus eram grandes missionários, e circundavam mar e terra para fazer um converso. Um bom modo de evitar a armadilha da actividade religiosa vazia é comparecer ante Deus sempre que possível com as nossas Bíblias abertas no capítulo 13 de I Coríntios. Esta passagem, conquanto considerada como uma das mais belas da Bíblia, é também uma das mais severas das que se acham nas Escrituras Sagradas.
O apóstolo toma o serviço religioso mais elevado e o consigna à futilidade, a menos que seja motivado pelo amor. Sem amor, profetas, mestres, oradores, filantropos e mártires são despedidos sem recompensas.Para resumir, podemos dizer simplesmente que, à vista de Deus, somos julgados, não tanto pelo que fazemos como por nossas razões para fazê-lo. Não o que, mas por que, será a pergunta importante quando nós cristãos comparecermos no tribunal para prestarmos contas dos actos praticados enquanto no corpo.

Extraído do livro 'A RAIZ DOS JUSTOS' de A.W.Tozer

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