quinta-feira, 12 de novembro de 2009

TRANSFORMADOS EM AMOR

«Não podemos crer que Deus nos ama, sem acreditar que tal amor nos confere um valor. (...)

O amor de Deus não nos impele somente a fazer o que não teríamos feito mas permite-nos vir a ser o que não seríamos: um ser infinitamente mais aberto, mais ágil, mais abandonado, mais alegre, mais irradiante, mais calmo do que aquele que teríamos forjado e cuja desoladora imagem nos obstinamos, em conservar. Um ser mais amável, em suma.

«Simão, tenho uma coisa a dizer-te... Aquele a quem se perdoa pouco, ama pouco. Aquele a quem se perdoa muito, muito ama».

Só Deus sabe amar. E somente os que sabem ser assim amados, perdoados são capazes de por sua vez amar. Aquele que ama nasceu de Deus (I João 4, 7). E conhece Deus. Só aqueles que responderam a este amor, retribuindo-o, comunicando-o, serão convidados a entrar mais profundamente nele.
«As minhas ovelhas conhecem a minha voz. E seguem-me». Não descansarão enquanto não fizerem pelos outros o que Deus fez por eles. Este novo ser que Deus neles acordou, aquele rosto que lhes apresentou e no qual puderam finalmente reconhecer-se e aceitar-se, irão eles agora, com igual amor e a mesma paciência, ajudar os outros a descobri-lo em si. Vão auxiliar outros a descobrirem-se capazes daquela fidelidade, daquela gratidão, daquela ternura cuja revelação receberam.

Porque o mandamento de Jesus não é: Amai-vos uns aos outros, mas: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 15, 12).

Louis Evely, em "Tu és esse homem"

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