sábado, 5 de dezembro de 2020

O DEUS DAS PEQUENAS COISAS


"Deixar Deus falar em nós é uma coisa muito simples. Por vezes o nosso problema é que estamos agarrados às grandes ideias, aos grandes projetos, às coisas espetaculares quando Deus se dá nas coisas pequenas, quando Ele se manifesta naquilo que é até insignificante.

No fundo, o Deus que se revela na nossa vida é o Deus das coisas pequenas. Às vezes ficamos desconcertados, às vezes cega-nos a pequenez de Deus. Deus tem metro e meio, Deus, como diziam os monges budistas, “está num grão de arroz”, Deus está nas pequenas coisas, nos detalhes, no escondido da vida, no banal, naquilo que é mais próximo, naquilo que até nos repugna pensar que Deus possa estar contido naquilo.

Nós temos de sentir que Deus chega a nós no pequeno, no pequeno. Chega a nós no banal, naquilo que nós, em princípio, não damos importância. Mas Ele vai tocando à porta do nosso coração, Ele vai-Se manifestando, Ele vai-Se tornando presente se nós quisermos ver.

Às vezes nós recusamos e dizemos: “Não, Deus não está aí, só está o chato que tu és. Não, Deus não está aí só está este aborrecimento. Deus não está aí, só está a minha fadiga. Deus não está aí, só está esta coisa atordoante. Deus não está aí, só está a natureza, ou só está um dia de sol ou um dia de chuva. Deus não está aí, Deus está noutro lado.” E a verdade é que Deus está, a verdade é que Deus é em cada uma dessas coisas. Falta-nos um coração simples, um coração confiado para dizer: “Se Deus não está aqui, não está em mais nenhum lugar.”

A verdade é esta, se Deus não está aqui, nesta hora, neste momento da nossa vida não está em mais nenhum lugar. Qualquer que seja a situação que nós estamos a viver, qualquer que seja o nosso problema, ou a nossa esperança, se Deus não está nele, não está em mais nenhum lugar. Porque Deus é. Por isso, não pode haver interrupções para Deus, não podemos interromper a Sua presença. Ele chega-nos de uma forma abundante nas coisas pequenas. Por isso, a primeira bem-aventurança é: “Bem-aventurados os pobres de espírito.” Isto é, “Bem-aventurados aqueles que têm um coração de pobre porque verão a Deus.” Quem tem um coração pobre, quem tem um coração humilde vê a Deus. Vê a Deus muitas vezes ao longo do seu dia.»

José Tolentino Mendonça

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