“Há quase vinte anos, trabalhei com o Serviço Jesuíta aos Refugiados (SJR) em Nairobi, no Quénia. A minha função era ajudar os refugiados a iniciar pequenos negócios que lhes permitissem sustentar-se a si próprios e suas famílias. Certo dia, encontrava-me ao volante do meu jipe, fora da cidade, perto do vale Rift, para ir visitar um lavrador (...) Enquanto subia um íngreme desfiladeiro montanhoso, fiquei siderado a olhar para a erva verdejante que atapetava a encosta. De repente, aparentemente vinda do nada, uma ovelha branca solitária desceu a custo o monte e atravessou a correr à frente do meu carro. Guinei para evitar atropelá-la (não havia outros veículos por perto). Depois, fiquei a observar a ovelha descer cuidadosamente até ao vale, situado do lado direito da estrada.
Nesse preciso momento, uma figura atravessou rapidamente a estrada, vindo da minha esquerda. Era um jovem pastor maasai. Na cultura maasai, os rapazes mais novos cuidam das ovelhas, por vezes desde os cinco anos, os mais crescidos apascentam cabras, e os mais velhos, incluindo homens adultos, têm a seu cargo o gado bovino. O pastor atravessou a toda a velocidade diante do meu vagaroso jipe. Descalço e sorridente, acenou-me ao passar. Desceu com dificuldade a encosta do monte, perseguindo a ovelha, levantando nuvens de pó e chamando em voz alta, enquanto a procurava. Fiquei a observá-lo durante alguns segundos, enquanto ele descia o monte. A seguir, ergui o olhar e avistei o resto do rebanho, cerca de vinte ou trinta ovelhas, a subir o monte situado à minha esquerda.
“Que estúpido! – pensei. – Deixou para trás todo o rebanho só por uma ovelha.” Então fez-se luz no meu espírito, e desatei a rir em voz alta. Era a parábola da ovelha perdida, ao vivo!
James Martin, sj, in "Jesus - Um Encontro Passo a Passo"
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