"Regressar à Galileia… não para “ficar”, mas para ser sempre enviado a partir de lá, a partir da convivência com Jesus, da realidade dos seus gestos e das suas palavras, com os pés assentes na terra que ele mesmo pisou…
Porque muitos dos que são tidos como discípulos de Jesus nunca foram à Galileia estar com ele! Nem nos damos conta, muitas vezes, mas acontece termos uma Fé de Niceia, de Constantinopla ou Calcedónia, uma fé feita de dogmas secos, especulativos, filosóficos, não pessoal nem relacional. A fé num “Cristo de laboratório” composto com as achegas de diversos teólogos do tempo e depois sempre recomposto pelos acrescentos dos teólogos posteriores que lhes seguem as pisadas.
Uma fé que produz Credos mas não faz acontecer o Reino de Deus. Formula dogmas, mas não inscreve Sabedoria nem o Fascínio de Jesus na Vida das pessoas…
Há também a fé de Trento, chamemos-lhe assim, e dos modelos cristológicos e eclesiais que lhe está na base, a invenção de um Cristo sacrificado por Deus como pagamento do preço que Lhe era devido pelos pecados da Humanidade, a heresia de uma “salvação” jurídica que ficava selada quando o Pai esmagava sob a Sua cólera a carne do Seu Filho e aplacava a Sua glória ofendida pelos nossos pecados quando lhe bebia a última gota de sangue pingado da cruz.
Maldita teologia que tanto desfigurou o Rosto de Deus e do Seu Cristo, que se tornou depois piedade, devoção e crença popular através de milhares de púlpitos, que gerou uma sociedade de escravos, sempre tão ao jeito dos poderosos de qualquer tempo…
O que está em causa é romper a fatalidade da impotência diante do mal, não pagar uma dívida devida a Deus! O que está em causa na vida de Jesus é abrir a possibilidade de uma realização plena para o ser humano, não pagar um castigo. O que está em causa é dar ao ser humano tudo o que Deus tem para nos dar como Graça, não dar a Deus tudo o que o ser humano lhe deveria dar como expiação.
Há uma coisa fundamental que nós, de cultura individualista, muitas vezes esquecemos: tudo o que Jesus viveu e tudo o que nele aconteceu, não vale somente para ele mas para todos. Por outras palavras: a Redenção que anunciamos não é uma teoria vaga, aérea, mas coincide com o mistério pessoal de Jesus de Nazaré e a acção de Deus nele. A Redenção não é uma “coisa” ou “ideia” mas uma pessoa, no processo concreto da sua existência. Por outras palavras ainda: a Redenção não é uma espécie de misticismo invisível mas, antes de tudo, a maneira concreta de Jesus viver!
A Redenção não foi um veredicto que caiu sobre a cabeça de Jesus a nosso favor. A Redenção não foi um momento de sacrifício e sofrimento que agradou a Deus e nos salvou o coiro a nós...
A Boa Notícia da Cruz não está naquela morte pecaminosa, mas naquela Fidelidade Incondicional e Invencível! Dom extremo feito por Jesus àqueles que se deixam envolver pela sua vida: a morte não tem a última palavra, e qualquer um que adere a ele, ama-o e se deixa por ele amar não morrerá eternamente!"
Rui Santiago cssr
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