quarta-feira, 7 de outubro de 2020

LER PARA CRER



Hoje, é dia de inauguração de uma nova rubrica - "Ler para crer" - dedicada á divulgação de literatura cristã, nomeadamente, no domínio da espiritualidade, teologia, cristologia, etc.

Serão feitas recomendações/sugestões de livros que li e que considero relevantes para o crescimento/amadurecimento da fé e conhecimento de Jesus.

Quero abrir esta rubrica com chave de ouro, pelo que começo com um livro excepcional e um autor que admiro profundamente: “Jesus – Uma Abordagem Histórica” de José António Pagola*.

José Antonio Pagola, sacerdote e teólogo espanhol, é um homem apaixonado por Jesus. Os seus inúmeros escritos, cursos e conferência são seguidos por numerosos crentes e não crentes que querem conhecer a verdade sobre Jesus e a Boa Nova para a humanidade.

Antes de vos falar sobre o livro, gostaria de partilhar uma declaração do autor, que exprime a sua paixão, a sua fé e amor a Jesus e ao Seu Projeto de Vida:

“Na realidade, eu dou importância absoluta a Jesus e vivo dedicando-me para libertar a Sua Igreja daquilo que nos desvia do seu Evangelho ou nos impede de voltar a Ele. Para entender a minha vida de hoje e a minha mensagem, isto é o que eu mais trago no coração e é importante: eu quero contribuir com todas as minhas forças para voltar para Jesus. Para mim, isso é o mais decisivo que pode acontecer na Igreja nos próximos anos. Quero trabalhar de maneira humilde, mas firme, para que, na Igreja, vivamos colocando no centro, com mais verdade e fidelidade, a pessoa de Jesus, a Sua mensagem e o Seu projeto de abrir estradas para o reino de Deus. Isso significa voltar a quem é fonte e origem da Igreja, o único que justifica a Sua presença no mundo e na história; a única verdade que a nós, cristãos, nos é concedido viver. Isso significa, sobretudo, deixar que Deus encarnado em Jesus seja o único Deus da Igreja, o Abbá, o Deus da misericórdia, o Deus amigo da vida, o Pai defensor dos pobres." (José Antonio Pagola)
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“Jesus – Uma Abordagem Histórica” - José António Pagola

Recomendo a leitura desta magnífica obra sobre Jesus. O autor usou de perto o método histórico, analisando o contexto em que viveu Jesus, a cultura, a sociedade, os dados arqueológicos, a comparação com a vida social, cultural e religiosa daquele tempo, naquelas aldeias da Galileia e da Judeia.

Pagola parte da ambiência da fé, propondo a figura de Jesus para hoje, a partir de tudo o que ajuda a situar Jesus no seu tempo. Para os não-crentes, o livro pode revestir-se de uma informação séria sobre a figura de Jesus. Para os crentes pode ajudá-los a acolher Jesus, não romantizado mas encarnado, no tempo e na história, procurando sintonizar-se com o Seu proceder para que as respostas que damos hoje sejam mais cristãs e nos convertam em irmãos, para construir uma sociedade mais justa e fraterna.

É um livro com muitas páginas, mas que se lê com facilidade. A linguagem do autor é simples e acessível, mas rigorosa. O estilo é vivo, direto, de fácil compreensão.

Como refere Pagola, o livro nasceu da sua fé e amor a Jesus Cristo, e estimulado por essa mesma fé procurou narrar a história de Jesus de forma viva e significativa para os tempos atuais. Direciona o livro não apenas para os que se confessam cristãos, mas também para aqueles que ignoram a sua realidade ou aqueles que se afastaram ou desencantaram com a igreja e buscam caminhos alternativos de vida (p. 26- 27). A sua intenção é favorecer a aproximação histórica de Jesus “estudando sobretudo a lembrança que ele deixou nos seus” (p.19). E esta aproximação é contagiante: “É difícil aproximar-se dele e não sentir-se atraído pela sua pessoa. Jesus traz um horizonte diferente para a vida, uma dimensão mais profunda, uma verdade mais essencial” (p. 22).

No seu livro, Pagola confere um importante lugar para as mulheres no movimento de Jesus. Foram verdadeiras “discípulas de Jesus”, estando presentes e atuantes desde a Galileia até Jerusalém. Elas “fizeram parte do grupo que seguia Jesus desde o início”. Algumas são nomeadas, como Maria de Mágdala, que ocupa um lugar de destaque, sendo sua melhor amiga (p. 280-281). O autor assinala a presença delas na última ceia e o seu lugar de destaque na fé pascal (p. 276-277).

A Deus, como Pai, Jesus dedica a sua oração nos momentos cruciais da sua caminhada. Jesus sempre se dirige a Deus como “Pai”, com quem partilha confiança e intimidade (p. 383 e 392). É o Pai do céu, que “não está ligado ao templo de Jerusalém nem a nenhum outro lugar sagrado. É o Pai de todos, sem discriminação nem exclusão alguma. Não pertence a um povo privilegiado. Não é propriedade de uma religião. Todos podem invocá-lo como Pai” (p. 392).

O tema do seguimento de Jesus entra no final, coroando com êxito a reflexão de Pagola. O que Jesus deixou atrás de si foi o projeto de dar continuidade ao seu sonho de fraternidade. Não “pensou numa instituição dedicada a garantir no mundo a verdadeira religião. Jesus pôs em marcha um movimento de “seguidores” que se encarregassem de anunciar e promover o Seu projeto do “Reino de Deus” (...). Por isso, não há nada mais decisivo para nós do que reativar sempre de novo, dentro da Igreja, o seguimento fiel à pessoa de Jesus” (p. 569).

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*José António Pagola é sacerdote e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966).


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