Eu nunca acreditarei:
no Deus que não precisa do homem;
no Deus-árbitro que só julga de regulamento na mão;
no Deus que exija sempre vinte valores nos exames;
no Deus capaz de ser explicado por uma filosofia;
no Deus incapaz de amar o que muitos desprezam;
no Deus insensível diante de uma rosa;
no Deus incapaz de perdoar o que muitos condenam;
no Deus para quem os homens valessem, não pelo que são, mas pelo que têm ou representam;
no Deus que não aceita uma cadeira nas nossas festas humanas;
no Deus que, para nos tornar felizes, nos oferecesse uma felicidade divorciada da nossa natureza humana;
no Deus que só os de idade madura, os sábios, os instalados, podem compreender;
no Deus asséptico (=desinfectado), elaborado no gabinete por tantos teólogos e canonistas;
no Deus que “prefira” os ricos e os poderosos;
no Deus a quem agrade a beneficência de quem não pratica a justiça;
no Deus que criasse discípulos desertores das tarefas do mundo e
indiferentes à história dos seus irmãos;
no Deus que destruísse a terra e as coisas que o homem ama, em vez de as transformar;
no Deus que defendem os que nunca sujam as mãos, os que nunca se assomam à janela, os que nunca se deitam à água;
no Deus que agrade àqueles que dizem sempre: “vai tudo bem”.
Juan Arias, em "“O DEUS EM QUEM NÃO CREIO” (com ligeiras adaptações pessoais)
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