Henri Nouwen, in Adam, o Amado de Deus*
Quando vim para Daybreak, uma comunidade com pessoas com deficiências mentais, pediram-me para passar algumas horas com Adam, um dos membros deficientes da comunidade. Todas as manhãs, tinha que o levantar da cama, dar-lhe banho, barbeá-lo, escovar-lhe os dentes, dar-lhe o pequeno-almoço e levá-lo para o lugar onde ele passa todo o seu dia. Durante as primeiras semanas, quase tive medo, sempre preocupado com não fazer nada mal ou com que ele tivesse algum ataque epiléptico. Mas, pouco a pouco, fui ficando mais calmo e comecei a apreciar a nossa rotina diária. Com o passar das semanas, descobri que já era com ansiedade que esperava por aquelas duas horas que passava com o Adam. Sempre que pensava nele durante o dia, experimentava um sentimento de gratidão por o considerar meu amigo. Embora ele não fosse capaz de falar e nem sequer de fazer um sinal de agradecimento, havia um autêntico amor entre nós. O meu tempo com Adam tornara-se o tempo mais precioso do dia.
Quando uma visita amiga me perguntou um dia: «Não poderias passar melhor o tempo que a trabalhar com um homem deficiente? Foi para fazer esse tipo de trabalho que tiraste o teu curso?» , compreendi que não era capaz de lhe explicar a alegria que o Adam me trazia. Ele tinha que descobrir isso por si mesmo.
A alegria é o dom secreto da compaixão. Continuamos a esquecer-nos disso e inconscientemente procuramo-la em outros lugares. Mas, cada vez que voltamos para onde existe a dor, conseguimos uma nova «amostra» de alegria que não é deste mundo.»
Henri Nouwen, in Aqui e Agora
* Na sua obra “Adam, o Amado de Deus”, Henri Nouwen revela como deixou a sua prestigiada profissão de professor numa das mais conceituadas universidades dos EUA, para dedicar-se integralmente à obra de tomar conta de pessoas com deficiências em Toronto, no Canadá. Dentre elas, estabeleceu uma relação de amizade muito bela e profunda com um jovem especial chamado Adam.
Adam, era um jovem que devido a um complicado quadro de epilepsia, exigia um cuidado extremo por parte dos que tomavam conta dele, pois nem mesmo as suas tarefas básicas conseguia realizar sozinho. Não falava uma palavra sequer, nem conseguia expressar-se muito bem, pois não coordenava os seus movimentos. No entanto, Henri Nouwen revela-nos que "a sua maravilhosa presença e o seu valor incrível iluminavam-nos para compreender que nós, assim como ele, também somos preciosas, agraciadas, amadas crianças de Deus, independentemente de nos vermos como ricas ou pobres, inteligentes ou deficientes, bonitas ou feias. (...) No relacionamento com ele, descobriríamos uma identidade mais profunda, mais verdadeira."
A experiência de Henri Nouwen com este jovem foi extraordinária e reveladora, ao ponto de nos confidenciar: "com Adam aprendemos que a beleza de cuidar de alguém não está só em dar, mas também em receber. Foi ele quem me abriu para a compreensão de que o maior dom que eu lhe podia ofertar era a minha mão e o meu coração abertos, para receber dele o precioso dom da paz. (...) Cuidar de Adam era permitir que o Adam cuidasse de nós, como nós cuidávamos dele.»
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