«Tornar-se cristão não é garantia de um prémio individual; não é a reserva privada de um bilhete de entrada no Céu, que nos permite olhar de cima para os outros e afirmar: «Tenho o que os outros não têm».
Tornarmo-nos cristãos não é algo que nos seja dado, para que nós, individualmente, o introduzamos num qualquer sistema e nos distanciemos dos outros, a quem isso não foi dado. Não: de certa forma, uma pessoa não se torna cristã para si própria, mas para o todo, para os outros, para todos. (...)
Tem de nos ser suficiente saber, na fé, que nós, ao nos tornarmos cristãos, nos colocamos à disposição para a prestação de um serviço para o todo. Desta forma, tornarmo-nos cristãos não é sinónimo de agarrar qualquer coisa só para nós; pelo contrário, significa deixar de lado o egoísmo, que só se conhece a si próprio e que só pensa em si próprio, e assumir a nova forma de existência daqueles que vivem uns para os outros. (...)
Ser cristão é essencialmente, e em primeira linha, a libertação do egoísmo daquele que vive só para si e o mergulho na grande orientação básica do estar à disposição dos outros. (...)
No fim, o movimento essencial da cristandade não é mais do que o movimento essencial do amor, no qual participamos no amor criador do próprio Deus.»
Joseph Ratzinger, em "Do sentido de ser cristão"
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