Aproximou-se um homem habituado
ao uso inveterado do silêncio
o seu olhar varrendo toda a fraude
das palavras
Aproximou-se firme e impoluto
Esquadrinhou as faces oxidadas
da mentira
Olhou depois o chão como quem abre
um sepulcro
e lentamente desenhou
o puro rosto da verdade
sobre a areia.
Levantou depois os olhos azulados
À sua frente havia apenas céu
Para onde tinham ido os impostores?
Quem é que tem medo da verdade?
Baixou de novo os olhos
e guardou na areia seca do deserto dois loiros grãos de trigo
dois pedaços de azul
duas lágrimas
duas palavras interditas.
António Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário