«É sempre possível a um homem aderir ao campo das mulheres, ao riso do Deus. Basta um movimento, um único movimento semelhante aos que têm as crianças quando se lançam em frente com todas as suas forças, sem receio de cair ou morrer, olvidando o peso do mundo.
Um homem que assim sai de si mesmo, do seu medo, desleixando esse peso de seriedade que é peso do passado, um tal homem torna-se como alguém que já não aguenta no lugar, que já não acredita nas fatalidades ditadas pelo sexo, nas hierarquias impostas pela lei ou o costume: um menino ou um santo, na proximidade risonha do Deus - e das mulheres...
Ninguém mais do que Cristo voltou o seu rosto para as mulheres, como voltamos o olhar para uma folhagem, como nos debruçamos sobre uma água de riacho para aí colher força e gosto por continuar o caminho.
As mulheres são na Bíblia quase tão numerosas como as aves. Estão lá no início e estão lá no fim. Elas dão Deus à luz, vêem-no crescer, brincar e morrer, depois ressuscitam-no com os gestos simples do amor louco, os mesmos gestos desde o começo do mundo, nas cavernas da pré-história e bem assim nos quartos sobreaquecidos das maternidades.»
Christian Bobin, em "Um Deus à Flor da Terra"
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