«Aprender a dar e a receber gratuitamente pressupõe uma reeducação longa e laboriosa da nossa psicologia, que não está «estruturada» para um tal regime, pois está condicionada por milénios de necessidade de luta pela sobrevivência.
Diria talvez que a irrupção da revelação divina e do Evangelho no mundo, é como que um fermento evolutivo que tem por objectivo «transferir» o nosso psiquismo para uma lógica de gratuidade - a do Reino, a do amor. Trata-se de um processo de divinização, pois o objectivo é chegarmos a amar como Deus ama: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48) (...)
Não podemos adoptar uma nova maneira de ser senão à custa do «luto» de muitos dos nossos comportamentos naturais, de uma espécie de agonia. No entanto, uma vez transporta a «porta estreita» da conversão da mentalidade, o universo ao qual acedemos é esplêndido: é o Reino, o mundo onde o amor é a única lei, um paraíso de gratuidade onde o amor pode permutar-se sem limites, dar-se e receber-se sem restrições, onde já não há «direitos» nem «deveres», nada a defender nem nada a conquistar, nenhuma oposição entre o «teu» e o «meu», onde o coração se dilata ao infinito.
Neste mundo novo, reina o amor, um amor terrivelmente exigente (pois quer tudo: enquanto não amarmos totalmente, não amamos de verdade), mas soberanamente livre, pois não tem outra lei senão ele próprio.»
(Jacques Philippe, em "A Liberdade Interior")
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