«Os livros de hoje são de papel. Os livros de outrora eram de pele. A Bíblia é o único livro de ar - um dilúvio de tinta e de vento. Um livro insensato, desvairado no seu sentido, tão perdido nas suas páginas como o vento nos parques dos supermercados, nos cabelos das mulheres, nos olhos das crianças. Um livro impossível de ter entre duas mãos tranquilas, para uma leitura serena, longínqua: pôr-se-ia imediatamente em voo, espalharia a areia das suas frases entre os dedos. [...]
Não se aprendem palavras num livro de ar. Recebe-se, de tempos a tempos, a sua frescura. Estremecemos ao sopro de uma palavra: amava-te muito antes de nasceres. Amar-te-ei, muito para lá do fim dos tempos. Amo-te em todas as eternidades. »
Christian Bobin, in "Francisco e o Pequenino"
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