segunda-feira, 20 de junho de 2016

"Qual é o teu tormento?"



«Não é apenas o amor a Deus que tem por substância a atenção. O amor ao próximo, que sabemos ser o mesmo amor, é feito da mesma substância. Os infelizes não precisam de outra coisa neste mundo que de homens capazes de lhes prestarem atenção. A capacidade de prestar atenção a um infeliz é uma coisa muito rara, muito difícil; é quase um milagre, é um milagre. (...)

A plenitude do amor ao próximo é simplesmente ser capaz de lhe perguntar: “Qual é o teu tormento?” É saber que o infeliz existe, não como unidade numa colecção, não como um exemplar da categoria social etiquetada “infelizes”, mas enquanto homem exactamente semelhante a nós, que foi um dia atingido e marcado com uma marca inimitável pela infelicidade. Para isso é suficiente, mas indispensável, saber pousar sobre ele um certo olhar.

Este olhar é em primeiro lugar um olhar atento, em que a alma se esvazia de todo o conteúdo próprio para receber nela mesma o ser que olha tal como ele é, em toda a sua verdade. Disto só é capaz aquele que é capaz de atenção.»


Simone Weil

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