O dia acaba,
As sombras da morte adensam-se
No fim do caminho ocidental.
O sol poente, pródigo na despedida,
Reúne com ambas as mãos os seus tesouros.
Na confusão das cores, vejo
O horizonte luminoso da morte,
A grandeza da vida.
A minha respiração terminará
Com estas palavras de despedida:
«Quanto amei!»
O mistério eterno, derramando-se nas margens
Uniu a vida e a morte,
E encheu noite e dia
O meu cálice de dor com néctar.
Viajei solitário
Pelo duro caminho do peregrino da Dor,
Sob o ardente sol de Abril!
Quantos dias
Estive sem companhia!
Quantas noites
Sem uma luz!
E, no entanto, dentro do meu coração
Senti o seu contacto.
A coroa de espinhos da Calúnia
Feriu-me muitas vezes...
E tinha-a adoptado como minha grinalda de casamento.
Os que, encarnados em homens,
Pronunciaram a Palavra -
Divina e inexprimível -
São meus semelhantes.
Quantas vezes jazi derrotado
No medo e na vergonha!
E, no entanto, na minha voz ecoou
A vitória do Infinito.
Embora a minha adoração seja imperfeita,
De vez em quando a minha alma soluçante
Consegue sair abrindo as portas da sua cela.
Nesta vida recebi
O direito ao nascimento do Homem...
Essa é a minha boa sorte.
Para mim é o néctar divino
Que flui através dos tempos
No pensamento, conhecimento e trabalho,
A perfeição,
Cuja imagem resplandece no meu coração
Para que todos participem dela.
Ele, que é excelente para lá de toda a excelência,
Ele perante quem me inclino,
Embora ás vezes me esqueça de pronunciar o Seu nome.
As bênçãos dos ceús silenciosos,
O êxtase do amanhecer,
Tocaram o meu coração.
Neste mundo repleto de maravilhas,
Nesta vida plena de grandezas,
A morte tornar-me-á completo.
Rabindranath Tagore
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