domingo, 15 de fevereiro de 2015

JESUS


«Foi baptizado em água doce, amou a pesca, andou com pescadores, encheu-lhes as redes (...)
Pediu ao ofendido que oferecesse a outra face, colocando o ofensor em risco de ridículo, mas ao mesmo tempo estabelecendo um limite para a prova: duas, e não mais, são as faces. Não escreveu, não ditou, as suas palavras faziam a viagem das abelhas sobre as pétalas abertas das orelhas. (...)
Salvou uma mulher condenada à lapidação pedindo aos seus acusadores que o primeiro dentre eles, desde que puro de pecados, se chegasse à frente com a primeira pedra. Sabia que os homens atiram com prazer as segundas.

Nascesse hoje, e seria num barco de imigrados, atirado ao mar juntamente com a mãe à vista da costa de Puglia ou da Calábria.(...)

Depois dele o tempo reduziu-se a um entretanto, a um parêntesis de vigília entre a sua morte e a sua nova vida. Depois dele ninguém é residente, mas todos são refugiados à espera de um visto. Somos nós, bem nutridos do ocidente, a coluna de estrangeiros em fila para lá do último guichet.»
Erri De Luca, in Caroço de Azeitona

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