sábado, 24 de março de 2007

O meu caminho

Se há alguns anos atrás me dissessem que hoje estaria aqui a falar da minha fé em Jesus como Filho de Deus e nosso Salvador, provavelmente veria com cepticismo essa possibilidade. Nessa altura, lia com entusiasmo os filósofos ateus e incorporava algumas das suas ideias e concepções mais radicais a respeito de Deus em geral e do cristianismo em particular. Sempre que me envolvia em discussões sobre Deus expunha com paixão e fervor os meus argumentos baseados nas ideias desses filósofos. Confesso que por vezes me excedia e não soube exercer a tolerância.

Depois dessa fase recordo-me de ter explorado outras filosofias e pensamentos, nomeadamente, de origem oriental. Também investiguei um certo misticismo hoje em dia muito em voga, que despertou a minha curiosidade e me envolveu durante algum tempo. Procurava o caminho da felicidade e respostas para inúmeras questões que me atormentavam o espírito.Qual o sentido da vida? Por que existimos? De onde viemos?Para onde vamos? Julguei encontrar algumas respostas...mas logo surgiam mais perguntas e a inquietação e a sede de conhecimento brotavam do âmago do espírito.
Hoje, quando olho para trás , tenho a nítida sensação que Deus esteve sempre do meu lado, mas não interferiu directamente nas minhas escolhas, nas minhas opções, na minha busca de respostas. Deu-me liberdade para conhecer, descobrir, explorar, pensar, reflectir. No fundo, eu procurava-O inconscientemente.
Rapidamente rejeitei o deus da minha infância do qual sempre guardara reminiscências, mas que para mim sempre fora um deus distante, ausente, triste...um deus imposto pela tradição, pelo medo...um deus venerado em rituais desprovidos de sentido...um deus lembrado em ocasiões especiais, mas cujos mandamentos e preceitos raramente eram interiorizados e aplicados diariamente. Um deus que não tocou o meu coração, não o iluminou com a luz da fé e a chama do amor.
Durante grande parte da adolescência pouco ou nada me interessei por Deus. Tenho a sensação que atravessei um deserto até chegar à fonte onde hoje procuro saciar a minha sede. Uma fonte da qual brota água viva. Como cheguei a essa fonte? Quem me conduziu a ela? A minha busca foi quase sempre solitária e marcada pela dor, a sensação de vazio e insatisfação, a inquietação, a solidão. Mas reconheço que Deus esteve sempre ao meu lado, que me consolou e fortaleceu, apesar da minha rejeição, da minha rebeldia, da minha falta de fé.

Cheguei à Bíblia(um livro do qual tanto ouvira falar, mas que me era praticamente desconhecido e constituía um imenso mistério) de uma forma curiosa. As filosofias e religiões orientais conduziram-me a uma conferência sobre uma filosofia ou conhecimento milenar, um assunto até aí desconhecido para mim. Depois da conferência fui convidado para me reunir com outras pessoas que também demonstraram interesse nos assuntos abordados na conferência e desejavam aprofundar os seus conhecimentos. Os assuntos e temas tratados nas reuniões eram os mais diversos e enigmáticos. Era um vasto universo de conhecimentos religiosos, místicos e ancestrais. Estudavam-se civilizações antigas, alquimia, psicologia, filosofia, mitos, lendas(em termos filosóficos posso aplicar neste contexto o termo sincretismo). Confesso, que tudo aquilo me fascinava mas, ao mesmo tempo, deixava-me confuso e desorientado. Entre os assuntos que eram abordados, chegámos a falar da Bíblia e de Jesus, embora o "livro sagrado" daquela seita seja outro e a Bíblia considerada de menor relevância. Eu não podia ter acesso à "bíblia" deles por ser considerado apenas um estudante e como desejava saber mais sobre Jesus e confirmar a veracidade das teorias e filosofias que aprendia, comecei a ler a Bíblia. Tinha um exemplar em casa que fora oferecido ao meu falecido pai, com a dedicatória:"amizade cristã". Quando comecei a ler a Bíblia queria apenas confirmar se ela falava de assuntos como o "Karma" , a "Reencarnação" . Comecei a le-la com esse espírito, com ideias pré-concebidas. Mas, com o tempo, comecei a ter "alguma luz" e o que mais me fascinava e intrigava eram os relatos da vida de Jesus, os seus ensinamentos simples, os Seus discursos tão fortes e cativantes, as Suas parábolas misteriosas, a fé das pessoas que o seguiam, os milagres poderosos, a promessa da vida eterna e dum Reino Celestial.
Entretanto, continuava a participar nas reuniões semanais daquela "sociedade secreta". Éramos 6 ou 7 pessoas e duas professoras. Um grupo pequeno que se considerava uma elite, um conjunto de eleitos com acesso a conhecimentos ocultos, secretos. A minha leitura pessoal da Bíblia prosseguia com muito interesse e entusiasmo. Entretanto, num Domingo de manhã, enquanto fazia mais uma incursão pela Bíblia, recebi a visita de duas pessoas que me falaram da promessa de um Paraíso e afirmavam basear a sua fé nas escrituras sagradas. Como estava muito interessado na Bíblia conversei um pouco com elas e no fim da visita ofereceram-me revistas que abordavam assuntos bíblicos. Combinámos novo encontro na semana seguinte. Eu li as revistas, mas confesso que pouco interesse me despertaram. Entretanto, no Domingo seguinte recebi novamente a sua visita e como estava interessado em saber mais sobre a Bíblia aceitei um estudo bíblico que me propuseram. Falei-lhes das reuniões que frequentava quando iniciámos o estudo e eles rapidamente me demonstraram através das escrituras que as teorias, filosofias, profecias ou ensinamentos que não estejam em harmonia com a mensagem bíblica não têm a aprovação de Deus. Agradeço-lhes até hoje por me terem esclarecido sobre essa e outras questões.

Não abandonei a "sociedade secreta" de imediato, pois não estava totalmente convencido dos argumentos bíblicos. Um acontecimento estranho acabou por influenciar a minha decisão de abandonar aquele grupo, embora as razões fundamentais estivessem relacionadas com as verdades que ia descobrindo na Bíblia. Prossegui o estudo da Bíblia que aceitara e, mais tarde, comecei a frequentar as reuniões daquela organização religiosa. Sentia-me deveras entusiasmado com o que aprendia e com o entendimento progressivo das verdades bíblicas. Nas reuniões fui muito bem acolhido e integrei-me com alguma facilidade. Mais tarde, cheguei a participar em algumas actividades daquela religião e estive quase a fazer a minha dedicação através do baptismo. Contudo, não o fiz. Comecei a ter dúvidas e havia muitas questões que me perturbavam e para as quais não encontrava resposta. Mas, eu fazia de tudo para esquecer ou contornar essas questões e não usava de espírito crítico para questionar e confirmar a veracidade dos ensinamentos que me eram transmitidos. Ainda permaneci dentro da organização durante algum tempo, até que um dia decidi não continuar. Embora acreditasse na quase totalidade das "verdades" que me ensinaram, pesara mais o sentimento que não valia a pena continuar, se não estava disposto a aceitar e cumprir determinadas normas e regras de conduta baseadas em interpretações duvidosas de textos bíblicos.
Hoje, tenho muitas razões para acreditar que fiz a escolha certa, mas nem sempre vivi essa convicção e, devo confessar que durante muito tempo, pensei que tinha traído a Deus, que O abandonara ao afastar-me da "verdade". Considerava-me indigno da Sua aprovação. Acreditava que fora daquela organização não havia salvação e que toda a minha busca de Deus fora dela seria vã e infrutífera. Considerava-me um condenado espiritual, um dissidente, um apóstata( termo utilizado por aquela organização para definir os que se afastam ou são afastados da organização por não viverem em harmonia com os seus preceitos e regras).
Um dia(alguns anos depois do meu último contacto com essa religião), decidi investigar alguns sites que andava a evitar e cujo conteúdo me surpreendeu e abriu novas perspectivas. Senti um grande alívio e consolação quando descobri que outras pessoas também viveram as minhas dúvidas, dilemas e questionamentos. Também me deparei com revelações que me arrancaram a ténue e frágil venda que trazia nos olhos. Durante muitos dias e longas horas mergulhei naquelas páginas de informação preciosa e estudei, investiguei, reflecti sobre tudo o que me havia sido ocultado e que eu não tive a perspicácia nem o discernimento para perceber. Por vezes, acreditamos naquilo que queremos acreditar, sem passarmos as crenças pelo filtro da razão, da consciência crítica, do estudo profundo, e não é isso o que Deus requer de nós. A sua Palavra exorta-nos:"Examinai tudo. Retende o bem( I aos TESS. 5, 21).
Quero sublinhar que nem tudo o que aprendi e vivi no seio daquela religião está errado... há muitas coisas boas para destacar e elogiar. Eu acredito que a maioria dos seus membros são sinceros, zelosos, honestos e dedicados. Esforçam-se deveras para agradar a Deus. Todavia, creio que as palavras do Apóstolo Paulo são adequadas neste contexto: "Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê. " (Romanos 10: 2-4).
Quando falo de dúvidas e questionamentos não me refiro à minha fé em Deus ou nas escrituras, mas em reivindicações e interpretações(de homens que se dizem escolhidos por Deus como canal exclusivo para divulgar a Sua mensagem) que parecendo ter base bíblica, quando analisadas e estudadas com critério e isenção podem ser facilmente contestadas e refutadas. A reivindicação de se possuir a "verdade" exclusiva e classificar todas as outras religiões como falsas, creio ser uma atitude perigosa, preconceituosa e radical que, em alguns casos, tem tido resultados catastróficos.
Eu não falo de uma verdade filosófica, científica ou académica, mas da Verdade essencial, suprema. O que é a verdade? Jesus Cristo afirmou com determinação, segurança e convicção:"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida...". A propósito desta afirmação, Augusto Cury diz:" Quando Cristo disse que era o caminho, a verdade e a vida, foi tão perturbador que se identificou como a própria verdade essencial, como a própria essência da vida. Ele não disse que possuía a verdade académica, ou seja, que possuía um conjunto de conhecimentos, de ideias e de pensamentos verdadeiros, mas sim que Ele mesmo era o caminho que conduz à fonte da verdade essencial, o caminho que atinge a própria essência da vida. Que vida era essa? A vida eterna, infindável e inesgotável, que Ele afirmava possuir."
Diante desta e de outras extraordinárias e contundentes afirmações de Cristo todo o ser humano tem uma escolha pessoal e íntima a realizar; uma decisão com implicações profundas e transcendentais. É uma questão de fé acreditar ou não nas palavras de Jesus. Eu acredito e quanto mais o conheço mais próximo me sinto Dele e mais forte se torna a Sua presença na minha vida.
Em síntese, este foi o caminho que percorri até chegar ao limiar de um novo Caminho. Alguém me convida a segui-Lo: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." (Mateus 11:28-30). Posso recusar o convite. Posso renegar o "jugo suave" e a promessa de uma vida com verdadeiro sentido; com paz, esperança, plenitude, alegria e satisfação. Sou livre para escolher entre um caminho largo e espaçoso( que conheço e sei quais as suas consequências e recompensas) e o "Caminho apertado que conduz à vida" (Mateus 7:13,14). É um Caminho que exige fé, amor, perseverança, coragem, abnegação, determinação... São muitas as provações, as contrariedades, as lutas que temos de travar... mas, não estamos sós nem desamparados. Embora, ás vezes, nos invada um sentimento de abandono e solidão, Deus não está ausente. Podemos confiar Nele. "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares." (Salmos 46:1,2)

INDAGAÇÕES SOBRE O CARPINTEIRO

“A árvore é força vertical da natureza, da terra em direcção ao céu. Tem a postura da espécie humana. Por isso o cego que Jesus curou em Bet...